“Mais uma estrela que no céu irá brilhar. Esteja com Deus.” A frase junto a uma foto do rosto de Cleison dos Santos estampava a camiseta de amigos e familiares do jovem assassinado que ocuparam boa parte dos assentos do Salão do Júri Juiz Gerson Luiz Petry na tarde dessa quinta-feira, 18, no Fórum de Santa Cruz do Sul. Em uma sessão marcada por muita emoção, Diogo Francisco da Silva, de 23 anos, foi condenado pelo homicídio de Cleisinho, que tinha 21.
Sua pena ficou estipulada em 17 anos e dois meses de prisão, em regime fechado. A sessão foi presidida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse. O promotor Gustavo Burgos de Oliveira representou o Ministério Público (MP) e atuou na acusação, enquanto o defensor público Arnaldo França Quaresma Júnior fez a defesa de Diogo. Cinco homens e duas mulheres formaram o conselho de sentença.
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O caso analisado aconteceu em 12 de março de 2022 em uma casa da Rua Professor Léo Winterle, Loteamento Santa Maria, no Bairro Dona Carlota, e causou repercussão no município. A trama envolvendo traição, ciúme e vingança resultou até mesmo em outro homicídio, registrado no mesmo dia em que o corpo da vítima foi encontrado.
Conforme as investigações da Polícia Civil e denúncia do MP, Diogo flagrou sua companheira com Cleison na cama, na madrugada de 12 de março de 2022. Movido por ciúme, teria encurralado a vítima e acertado golpes com um pedaço de ferro e uma faca. Cleisinho chegou a ser degolado de forma cruel. Depois, foi enterrado em uma cova no Loteamento Santa Maria.
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Preso na quarta-feira da semana passada pela Brigada Militar após ficar quase dois anos foragido, Diogo prestou depoimento no júri e confessou o crime. Alegou que acabou tirando a vida do rapaz em uma luta corporal, e que chegou a se defender de uma suposta faca que Cleison teria na hora. Conforme pedido do defensor Arnaldo à juíza Márcia, Diogo disse que não gostaria que lhe fizessem perguntas ao prestar depoimento.
“Não pensei no momento. Ter visto ele com a minha esposa na cama me fez perder a cabeça. Reconheço que errei e hoje talvez não tivesse voltado até em casa, e isso fosse algo que pudesse ser evitado”, afirmou Diogo, que tem um filho de 3 anos com a mulher envolvida no caso. Ele contou que viu uma troca de mensagens entre sua esposa e Cleison em um celular que o casal tinha junto, e muitas mensagens anteriores na conversa estavam apagadas.
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“Foi quando arrumei minhas coisas e saí de casa. Fui em uma festa, consumi bebida alcoólica, fiz uso de entorpecentes. Voltei por volta das 3 horas, para tentar uma reconciliação, porque era isso que acontecia com a gente. Terminamos e voltamos várias vezes”, contou ele. “Quando cheguei e vi que a porta estava trancada, bati na janela, abri e vi eles nus. Fiquei furioso e acabei perdendo a cabeça”, complementou o rapaz.
“Deu ruim aqui, o Diogo viu nossas mensagens”
Em seu depoimento no júri, o delegado Alessander Zucuni Garcia, que chefiou a investigação, contou os desdobramentos do caso em detalhes. E revelou informações até então não haviam sido divulgadas, como a análise feita pela Polícia Civil em um notebook que Cleisinho usava, emprestado por uma amiga, em que foi possível verificar o teor das conversas pelo Facebook entre a vítima e a esposa de Diogo.
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“Deu pra ver que eles tinham uma conversa desde o início de março. E o Diogo já teria respondido no celular no lugar dessa mulher. Houve uma situação em que ela respondeu dizendo ‘Deu ruim aqui, o Diogo viu nossas mensagens.’ Aí o Cleison perguntou o que tinha acontecido, e ela disse que o Diogo falou que ele era culpado de tudo e ela só estava dando o troco nele”, disse Alessander. Ele chegou a ouvir a mulher na época, a qual classificou nessa quinta como pivô de toda a briga entre Diogo e Cleisinho.
Entre as provas detalhadas pelo delegado estava o chamado teste de luminol, produto químico que reage emitindo uma luz quando em contato com sangue. “Havia bastante luminosidade na cena do crime”, relatou o chefe da 2ª DP. Perguntado pelo promotor Gustavo sobre por que acrescentou a qualificadora de meio cruel no indiciamento final de Diogo, ele explicou que ocorreu em virtude da degola.
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“Foi um sofrimento exacerbado para a vítima. Foram 14 centímetros o corte, quase a extensão de todo o pescoço”, enfatizou Garcia, que ainda comentou brevemente o homicídio conexo com esse caso, do pastor Alex Fabiano Ramos Corrêa, de 48 anos. Ele era pai da companheira de Diogo, flagrada com a vítima na cama. Foi morto a tiros na frente de casa, na Rua Guarda de Deus, Bairro Santuário, no mesmo dia em que o corpo de Cleison foi encontrado, após recusar-se a dar aos criminosos a localização do genro.
O promotor Gustavo pediu a condenação de Diogo, mas com o afastamento da qualificadora que dificultou a defesa da vítima. O representante do MP ainda detalhou a ficha policial do réu, apontado como suspeito em um caso de vias de fato e invasão de domicílio junto de seu pai; e violência doméstica contra a mesma mulher envolvida e mãe de seu único filho de 3 anos. Segundo uma ocorrência, ele a teria agredido com tapa e soco ainda quando ela estava grávida de oito meses.
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