A comunidade de Santa Cruz do Sul e da região poderá testemunhar, na terça-feira, dia 4, um qualificado encontro artístico no palco: o da atriz e dramaturga carioca Cláudia Abreu com a obra mundialmente admirada da escritora Virginia Woolf.
No monólogo Virginia, a ser apresentado no Teatro Mauá, a partir das 20h30, Cláudia também estreia como atriz em monólogo, além de tudo com texto que ela própria escreveu. Será a primeira apresentação da turnê da peça pelo Estado, e que prevê ainda apresentações em Santa Maria, no dia 6; e em Porto Alegre, no dia 8. Ou seja, os santa-cruzenses poderão conferir em primeira mão no Estado essa nova atração teatral.
Aos 51 anos, e em vias de completar 52 no dia 12 de outubro, Cláudia, filha da também atriz Regina Abreu e de Helcio Varella, é uma das mais admiradas artistas da TV, do cinema e dos palcos de sua geração. Atriz, produtora e roteirista, estreou em novela com O Outro, em 1987, e desde então registrou participação em dezenas de atrações, como Fera Radical, Que Rei Sou Eu?, Barriga de Aluguel, Belíssima, A Lei do Amor, bem como em Casseta & Planeta Urgente, e ainda no cinema e no teatro.
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No monólogo que agora traz a Santa Cruz, promove aproximação com a formidável obra de Virginia Woolf. Dirigida por Amir Haddad, a peça marca a estreia de Cláudia como autora teatral, e está centrada nos últimos instantes de vida da escritora inglesa, que se suicidou com pedras nos bolsos e entrando em um rio em Lewes, no Reino Unido, em 28 de março de 1941.
Virginia Woolf tinha 59 anos quando tirou a própria vida. Nascida em Londres, em 1882, foi casada com Leonard Woolf. À medida que ingressou na literatura, revolucionou a arte com sua defesa da autonomia de pensamento das mulheres (em vigorosos ensaios), bem como através do modernismo expressado em seu estilo de escrita e na estrutura de seus romances. Mrs. Dalloway, de 1925, e Orlando: uma biografia, de 1928, estão entre suas obras-primas, embora As ondas, Os anos, Entre os atos, Flush: uma biografia e O quarto de Jacob (este de 1922) sejam igualmente relevantes.
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Sobre a concepção do texto e o interesse em torno da obra de Virginia, Cláudia Abreu concedeu entrevista exclusiva, ao vivo, aos jornalistas Maria Regina Eichenberg e Leandro Porto, no programa Radar, da Rádio Gazeta FM 107,9, na última quinta-feira, 29. Confira algumas informações prestadas pela atriz relacionadas a esse trabalho e a sua vinda a Santa Cruz do Sul.
Entrevista: Claudia Abreu – Atriz e dramaturga
- Gazeta do Sul – Assistir a teatro é sempre uma experiência única. E a peça Virginia é um trabalho idealizado por você. Podes nos contar um pouco dessa formatação?
Cláudia Abreu – É minha primeira peça como dramaturga. Eu já havia feito uma peça da Virginia Woolf, Orlando, com direção da Bia Lessa, quando eu tinha 18 anos. Desde então, não havia tido mais contato com a sua obra. E desde que coescrevi Valentins, uma série do Gloob, venho empolgada com essa expectativa nova na minha vida, que é também escrever. Eu fazia uma aula de literatura e, conversando com minha professora, falei que queria escrever sobre fluxos de consciência através do tempo. E ela disse: mas quem é mestra nisso é a Virginia Woolf, você devia ler. Aí voltei a ler as obras dela. E fiquei arrebatada por sua excelência literária.
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É uma das grandes autoras do século 20; feminista pioneira, modernista, até pela inovação da forma literária, essa troca de narrador, troca de fluxo de consciência sem aviso. Foi uma inovação literária. Comecei a ficar tão identificada que comecei a pesquisar sobre a vida dela. Todo o meu projeto de escrever sobre fluxos de consciência passou a ser escrever sobre ela e sobre a sua vida fascinante. E fiz meu próprio recorte sobre o que li sobre a Virginia. É isso que eu gostaria de mostrar para vocês no dia 4 de outubro.
- Esse é o primeiro monólogo de tua carreira?
Sim, nunca imaginei fazer monólogo. Eu adoro gente, adoro contracenar com outros atores, acho divertido. O jogo teatral é muito interessante. Mas como as vozes estão dentro da cabeça da Virginia… Ela está nos seus últimos instantes de vida, porque, para quem não sabe, ela se suicidou com pedras nos bolsos; jogou-se num rio, em frente à casa dela. Ela está nos últimos instantes de consciência embaixo d’água, quando relembra a vida toda. E esse recorte humano, de relembrar como ela se formou intelectualmente, uma mulher que era impedida de ir à escola, pois as mulheres não tinham esse direito, e mesmo outros abusos que sofreu, morais, sexuais e tudo mais, tudo isso fez dela uma pessoa muito complexa, com uma vida muito rica, trágica, mas também muito interessante. É isso que eu quis levar ao monólogo, porque ela não poderia contracenar com alguém, pois todas essas vozes que aparecem contando a vida dela são vozes dentro de sua cabeça dela. Ela se matou porque não conseguia parar de ouvir vozes; então, isso também tem sentido com a vida e a literatura. E ela está sozinha, se matando; não teria como contracenar com alguém.
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- O que muda na atuação em peça com outros atores para essa em que a troca é basicamente tua com o público? E pensando em texto que é complexo, intimista…
Foi um mergulho muito profundo que fiz. Primeiro na pesquisa, na escrita, de escrever sobre uma mulher tão importante, tão profunda, e também poder levar isso ao palco. Nos ensaios eu reescrevia o texto, porque, como era meu, tinha total liberdade criativa. Quando ensaiava, percebia o que dava certo e o que não dava. Ia para casa, reescrevia. Isso me deu muita autonomia. Porque, com 35 anos de carreira, poder chegar para o público, que já me viu fazer todos os tipos de personagens na televisão, no cinema, no teatro, e poder falar: olha, a essa altura da minha vida eu quero falar sobre isso.
Tudo ali é muito autoral: eu escrevi o texto, eu quero falar sobre esse assunto, sobre essa personagem, sobre essa mulher incrível, sobre esses temas inerentes à vida dela. E estou ali sozinha, me deixando devorar, me entregando de corpo e alma àquela plateia. Se não tenho interlocutores em cena, meus interlocutores são os espectadores. A gente está fazendo uma espécie de espelhamento, porque estou falando na verdade de um ser humano, a Virginia Woolf, mas poderia ser qualquer um de nós, e o público se espelhando nessas vivências. Porque somos todos humanos, todos vivemos experiências. As questões humanas são inerentes a todos nós.
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- O desenvolvimento da peça foi idealizado em período de pandemia?
Na verdade, desde 2016 eu vinha lendo tudo sobre ela. Primeiro a obra e depois biografias, memórias, diários. Nesses dois anos de pandemia comecei a mergulhar mesmo na escrita, e tive esse recolhimento, como todos nós, de ficar em casa. Também fiz uma pós-graduação de Artes Cênicas, pois sou formada em Filosofia, mas nunca tinha feito formação na minha área. Era tudo na prática mesmo. Tinha feito a escola Tablado, que é prática. Então, achei interessante fazer uma pós de artes cênicas na PUC-Rio, o que me ensinou a pesquisar por outros caminhos essa questão de escrever para teatro. O trabalho final, minha monografia, acabou sendo a própria peça.
Tudo confluiu para que esse trabalho ficasse mais consistente, que eu pudesse realizar isso de maneira mais focada durante a pandemia. Fiquei muito feliz, e tão logo possível quis colocar isso em prática. A peça estreou em São Paulo e foi um grande sucesso; depois fui a Belo Horizonte, e foi outro sucesso. Tive muitas alegrias com as duas temporadas que fiz. E agora vou fazer essa turnê pelo Sul.
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Serviço
O quê: monólogo teatral Virginia, com a atriz Cláudia Abreu
Quando: na próxima terça-feira, a partir das 20h30
Onde: no Teatro Mauá, na Rua Cristóvão Colombo, 366, prédio 2, Bairro Higienópolis,
em Santa Cruz do Sul
Ingressos: entre R$ 30,00 e R$ 100,00, à venda pela plataforma Sympla, em www.sympla.com.br/evento/virginia-teatro-maua-santa-cruz-do-sul/1714258
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