Uma das maiores escritoras que o Brasil viu surgir completaria exatos 100 anos nesta quinta-feira, 10. No entanto, despediu-se da vida em 9 de dezembro de 1977, no Rio, um dia antes de festejar 57 anos. Trata-se de Clarice Lispector, que, por origem, nem era brasileira, tendo nascido na Ucrânia, de ascendência judia (e com o nome de batismo de Chaya). Posteriormente, já no Brasil, naturalizou-se brasileira e constitui hoje um dos maiores nomes em todos os tempos na literatura nacional, algo que a biografia Clarice, do norte-americano Benjamin Moser, sucesso mundo afora, enfatizou.
Seus pais deixaram a Ucrânia em fuga da Guerra Civil Russa. A família chegou ao Brasil em janeiro de 1922, quando a pequena Chaya tinha pouco mais de um ano, e se radicou em Maceió. Seu nome foi aportuguesado, adotando Clarice, e logo se fixaram para Recife. Outra mudança ocorreu em 1935, quando ela já era adolescente, aos 15 anos, e se fixaram no Rio de Janeiro.
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Desde criança ela já lia muito e escrevia, vocação que a acompanharia ao longo da vida. Aos 20 anos, em 1940, ingressou no Jornalismo. Na sequência, em 1943, casou-se com Maury Gurgel Valente, com quem teve os filhos Pedro, hoje com 72 anos, e Paulo, 67. Clarice e Maury formaram-se em Direito, e o marido ingressou na carreira diplomática. Por causa disso viajaram para diferentes lugares da Europa, da África e da América do Norte.
Foi no mesmo ano em que se casou com Maury que publicou o primeiro romance, Perto do coração selvagem, de imediato um sucesso. Não parou mais de escrever, e na esteira vieram O lustre, A paixão segundo G.H, Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres, A hora da estrela, entre outros romances, bem como muitos livros essenciais de contos, gênero no qual foi mestre. Em paralelo à obra literária, seguia como jornalista, e o volume Entrevistas, de 2007, pela Rocco, reúne algumas de suas conversas antológicas.
Deste livro, a primeira das entrevistas que Clarice realizou é justamente com outra grande dama das artes brasileiras, a paulista Lygia Fagundes Telles, esta nascida pouco depois de Clarice, em 1923, e que hoje, com 97 anos, preserva a memória viva da colega de letras. Na conversa entre as duas, Clarice pergunta: “Para mim a arte é uma busca, você concorda?”. “Sim”, admitiu Lygia, “a arte é uma busca e a marca constante dessa busca é a insatisfação”.
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É por nunca ter estado satisfeita com um estilo, por querer aprimorar a cada novo dia o seu texto e seu olhar sobre o mundo, que Clarice, 100 anos depois de seu nascimento, segue tão presente.
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