Em um sábado sem nuvens, fui conhecer a sede principal da Universidade de Moscou, também conhecida como Universidade Lomonosov. Era a entidade mãe do instituto de pesquisa e ensino onde estudei e trabalhei. Logo em frente ao imponente prédio, topei com uma homenagem ao cientista Dmitry Mendeleev, o pai da Tabela Periódica. Lembrei na hora de uma história que havia lido sobre a família dele, em particular sobre a mãe. Nascido na Sibéria, o mais jovem de 14 filhos, Dmitri Mendeleev perdeu o pai aos 13 anos. A mãe dele, para sobreviver com a extensa prole, teve a coragem de assumir a administração de uma fábrica local de vidros, anteriormente gerenciada pelo marido. Ela administrava os funcionários, todos homens, o que era bastante incomum para a época (1847). Um tempo depois, a fábrica foi destruída por um incêndio, e a situação se complicou ainda mais.
Vendo que o filho mais novo demonstrava uma inteligência incomum, ela resolveu apostar todas as forças na educação de Dmitri. Colocou-o na garupa do cavalo e o carregou por quase dois mil quilômetros de estepes e montanhas nevadas dos Urais, até uma universidade de elite de Moscou, esta que eu agora visitava. Os professores rejeitaram o jovem Dmitri, por não ser um habitante local. Persistente, a dedicada mãe seguiu viagem, cavalgando até São Petersburgo, 650 quilômetros mais ao norte. Lá chegando, não descansou até ver o filho aceito pela universidade que havia sido a alma mater do pai de Dmitri. Poucos dias depois, tendo cumprido a última missão, a mãe de Lomonosov faleceu, antes mesmo de iniciar o caminho de volta para casa.
Após se graduar, o brilhante aluno foi estudar em Paris e Heidelberg, onde foi aluno de Robert Bunsen. Bunsen é o inventor do popular “bico de Bunsen”, usado como dispositivo de aquecimento em qualquer laboratório no mundo. Outra interessante criação dele foi a ideia de classificar elementos químicos pela luz que produzem quando excitados, criando assim o primeiro protótipo do espectroscópio. O alemão também costumava classificar os elementos pelas características, sempre tentando criar uma sequência que fosse lógica e eficiente.
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De volta à Rússia, Mendeleev seguiu o exemplo do mestre, e passou a perseguir aquele objetivo, culminando na famosa tabela periódica dos elementos, da qual é considerado inventor. Mendeleev está hoje para a Química como Darwin está para a evolução, ou Einstein para a relatividade. Não fez todo o trabalho sozinho, mas organizou tudo com muita elegância e simplicidade. Pôde também nomear elementos que se encaixavam em sua lógica, ainda que estes não tivessem sido descobertos. Com a definição teórica dos elementos, Mendeleev acabou criando também alguns inimigos. Seriam exatamente aqueles que, posteriormente, descobririam de forma experimental esses elementos teóricos.
O primeiro deles foi Lecoq de Boisbaudran, francês que descobriu o Gálio. Mendeleev havia chamado esse elemento, na definição teórica, de eka-alumínio. O nome indicava que ficava logo abaixo da “caixinha” do alumínio, na tabela periódica. Lecoq, que deu o nome ao novo elemento de Gallium (de Gália, como a França era conhecida em latim), determinou a massa do mesmo, que, estranhamente, não fechava com a massa teórica definida por Dmitri. Posteriormente, Lecoq admitiu que havia feito um erro de cálculo e confirmou a previsão teórica de Mendeleev. O gálio, aliás, é um dos poucos metais que, na forma líquida, pode ser manuseado sem fritar a mão do cientista, já que derrete a meros 29 graus Celsius. Quanto ao nome pseudopatriótico do elemento, é provável que Lecoq Boisbaudran tenha desejado deixar uma marca pessoal, já que gallus significa galo, em latim, ou em francês, Le Coq.
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O atual prédio principal da Universidade de Moscou, em estilo stalinista, impressiona pelo tamanho, mas também pela elegância e imponência. Ali, pensei em Mendeleev e naquela decidida e corajosa mãe, que o incentivou de forma tão heroica. Segundo Freud, para quem tem uma mãe orgulhosa e confiante, quase tudo será possível. Por experiência própria, entendo bem o valor do incentivo e a influência do amor incondicional de uma mãe por toda a vida.
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