Não é novidade que a estação mais quente do ano venha acompanhada de falta de água em Santa Cruz. Em pontos isolados da cidade, problemas são enfrentados há semanas, antes mesmo do início do verão. E no primeiro dia do ano novo o cenário não foi diferente: moradores dos bairros Schulz, Centro, Higienópolis, Arroio Grande, Belvedere, Margarida, Ana Nery, Bonfim, Pedreira e Santuário se depararam com as torneiras secas. Na manhã de ontem, a falta de água passou a afetar quase toda a cidade, incluindo Renascença, Santo Inácio, Universitário, Avenida, Várzea, Goiás, Faxinal Menino Deus, Bom Jesus e parte baixa do Centro.
De acordo com o gerente da Corsan, Armin Haupt, uma adutora de 300 milímetros se rompeu na esquina das ruas São José e Farroupilha. O problema foi agravado pela manutenção de um registro na São José, para a qual foi necessário desligar a saída de água da estação de tratamento. Normalmente, conforme Haupt, é fechado apenas o registro do local onde é constatado o rompimento. “Não é comum que toda a cidade seja atingida, foi uma exceção”, frisou. Por volta das 16 horas de ontem, a adutora já havia sido consertada, mas a água ainda não chegava às residências das partes altas da cidade, que costumam ser as mais afetadas.
Marisa Saldanha Rodrigues, de 48 anos, conta que há 16 reside na Rua Portela, em um dos pontos mais altos do Bairro Esmeralda, onde enfrenta a falta de água semanalmente nesta época do ano. Na casa dela, o abastecimento falhou também na noite da virada do ano. Sem água nas torneiras e sem condições de investir em água mineral, a família de Marisa, que é formada por quatro pessoas, almoçou pão nessa segunda-feira. Enfrentando o problema tantas vezes, ela já perdeu uma máquina de lavar roupas, torneiras elétricas e incontáveis chuveiros. Depois que o abastecimento retorna, a moradora tem que esperar até quatro horas para utilizar a água, que volta suja como se estivesse com barro.
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A poucas quadras dali, na Rua Carlos Swarowsky, Daniel da Silva, que trabalha com obras, teve que voltar para casa mais cedo, já que a falta de água impediu a continuidade do serviço. Horas depois, cansado e com as roupas sujas e úmidas de suor, ainda não havia conseguido tomar banho. Enquanto aguardava, o jeito foi esperar na sombra com o resto da família. As roupas não puderam ser limpas e a pia já acumulava louça para lavar. Quando tentam buscar uma solução junto à Corsan, Daniel e Marisa afirmam que a resposta é sempre a mesma: um cano está sendo consertado em algum lugar.
COMO SABER
A Corsan disponibiliza no seu site uma área para informações sobre a falta de água. O endereço é o http://www.corsan.rs.gov.br/inicial. Basta procurar o link “Situação de abastecimento de água” e selecionar a cidade desejada. São informados a causa do problema e os bairros afetados e também uma previsão de quando a situação deve retornar ao normal.
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SAIBA MAIS
Tem solução?
- Para evitar que a falta de abastecimento se repita com tanta frequência, o gerente da Corsan, Armin Haupt, afirma que a companhia está investindo na substituição da tubulação. Dos 600 quilômetros de canos que levam água até as moradias, 150 precisam ser reparados. Desse total, dez quilômetros já foram substituídos em 2015 e, no ano passado, a Prefeitura contratou a substituição de outros 28. Conforme Haupt, cinco já teriam sido trocados em 2016. Questionado sobre a capacidade da Corsan de abastecer o município, o gerente afirma que a demanda está dentro do limite. No entanto, o calor e a proliferação de algas no Lago Dourado neste período estariam aumentado o consumo. “Além de as pessoas consumirem mais água no verão, temos que lavar os filtros com mais frequência por conta do uso do carvão ativado, o que consome parte da produção”, explicou.
O papel da Prefeitura
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- Para fiscalizar a Corsan, a Prefeitura conta com a Comissão de Acompanhamento, formada por membros das secretarias de Planejamento e Gestão e Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade. No ano passado, a companhia foi multada em R$ 13 mil por descumprir os prazos de obras emergenciais. Conforme o procurador-geral do Município, Rogério Pinheiro Machado, a empresa deveria construir novos reservatórios, o que contribuiria para a diminuição da falta de água. “A multa foi paga, mas as obras ainda não começaram. A Prefeitura agora está determinando qual será o novo prazo a ser cumprido”, frisou. De acordo com o secretário de Planejamento, Jéferson Luís Gerhardt, são cobradas e fiscalizadas apenas questões contratuais. “A falta de água é algo muito pontual, que não chega a descumprir o contrato”, explicou. Problemas crônicos, como desabastecimento por quedas de energia, são cobrados e fiscalizados. “A instalação do gerador na estação de tratamento foi consequência da constatação desse tipo de ocorrência, que não é apenas eventual”, salientou. De acordo com Gerhardt, moradores que enfrentam problemas crônicos e não encontram solução na Corsan podem procurar a Secretaria do Meio Ambiente (Rua Galvão Costa, 708).