Apesar da chuva prevista em pontos do Vale do Rio Pardo neste fim de semana, a baixa precipitação acumulada em outubro e o prognóstico de escassez em novembro e dezembro, em virtude do já conhecido fenômeno meterológco La Niña, preocupam o meio rural. A perspectiva de quem lida com o setor agrícola é que caso as chuvas não sejam consistentes nos próximos dias, a produção de culturas como milho, soja e hortaliças pode ser menor, o que causa consequências para quem produz e também para quem consome, pois a diminuição na oferta acarreta na alta de preços ao público final.
Os dados sobre a precipitação de outubro são preocupantes. De acordo com o professor de Agrometerologia da Universidade de Santa Cruz (Unisc), Marcelino Hoppe, até agora foram registrados 31,4 milímetros de chuva, índice muito inferior ao acumulado dos últimos anos. Entre 2014 e 2019, a média de precipitação para outubro no município foi de 201 milímetros.
LEIA MAIS: Produtores devem se preparar para seca no fim deste ano, alerta Emater
Publicidade
O professor da Unisc destaca ainda que os dois últimos meses do ano são tradicionalmente de médias inferiores no volume de chuva em relação a outubro. “Novembro e dezembro diminui um pouco. A média antiga era de 101 milímetros, nos últimos anos passou para 152 milímetros.”
O técnico da Emater/RS-Ascar, Josemar Parise, afirma que ainda não é possível dizer que a falta de precipitações está causando perdas nas lavouras da região. Segundo ele, aquelas que já se encontram no estado de desenvolvimento das plantas, como o milho, precisam de chuva com urgência. “Essas lavouras se encontram numa fase vegetativa, e estão no limite em termos de necessidade de água. Ainda não se contabiliza perda por conta da estiagem, mas as plantas, de forma pontual, apresentam sintoma de estresse hídrico”, revela.
A previsão para o fim de semana é que a chuva que irá cair será mal distribuída e não afetará o cenário das lavouras. Segundo a MetSul Meterologia, a estimativa para o Centro do Rio Grande do Sul até segunda-feira é inferior a 25 milímetros. O cálculo é que o ideal seria uma precipitação de cerca de 80 milímetros até o fim do mês para possibilitar uma recuperação na produção já plantada.
Publicidade
A cultura do milho, por exemplo, entrará nos próximos dias em fase de florescimento e enchimento de grãos, período mais sensível, em que a planta precisa de água, segundo o técnico da Emater. Com isso, é preciso que chova, caso contrário, perdas da produção começarão a ser contabilizadas. A estiagem pode afetar também a cultura do tabaco. Já a soja, com cerca de 2% da área plantada na região, igualmente depende de chuva nos próximos dias para avançar no plantio.
LEIA MAIS: Expectativas são otimistas para a nova safra de milho
Manejo do solo é essencial em períodos secos
Publicidade
Em tempos de falta de chuvas, são ainda mais necessárias as tecnologias que auxiliam a evitar perdas na produção. Segundo Josemar Parise, o solo do Rio Grande do Sul, de maneira geral, é muito compactado e isso dificulta a infiltração da água e também a penetração da raiz, tornando a planta mais sensível em períodos de estiagem.
Mas existem meios de auxiliar muito a produção em épocas de escassez de água, garante. “Onde faltam práticas de manejo do solo, manejo da parte física, com ele mais compactado, a raiz não tem profundidade. Nesses locais estão aparecendo sintomas de estresse hídrico.” O técnico da Emater ressalta que boas práticas de descompactação mecânica e biológica do solo, como o cultivo de plantas de cobertura, são eficientes em reduzir as perdas com a falta de chuva.
LEIA MAIS: Estiagem no Estado deve iniciar já em outubro e seguir no verão
Publicidade
A irrigação, segundo Parise, apresenta bons resultados, mas depende de um investimento considerável e nem todo plantio é feito em áreas que permitam a construção de açudes ou mesmo a instalação de um sistema que leve a água para a plantação.
Irrigação
Produtor de hortaliças em uma área de 4 hectares em Linha João Alves, Giovani Fritzen, de 48 anos, tem um sistema de irrigação que lhe dá maior tranquilidade em épocas de menor precipitação. A água é retirada de um açude e bombeada com um motor elétrico para a lavoura através de canos.
Publicidade
Fritzen ressalta que após o período de seca registrado na região nos primeiros meses do ano, muitos produtores buscaram meios de irrigar a produção. Ele alerta que o investimento é alto e requer manutenção constante. Também é necessária uma geografia que permita a construção do açude e facilite a distribuição da água na lavoura.
Destaca que, mesmo com dois açudes em suas terras, um período longo de seca pode afetar sua produção, pois em tempos secos e de maiores temperaturas como no verão, a evaporação é acelerada. Participante das feiras rurais do município, Fritzen explica que as plantações de alface, rúcula e tempero verde são as mais prejudicadas com a falta de chuva. Apesar disso, ressalta que as feiras rurais ainda não foram afetadas.
LEIA MAIS: MetSul alerta para estiagem severa no Rio Grande do Sul
This website uses cookies.