A cada noite de 24 para 25 de dezembro, o mundo cristão celebra a vinda à Terra, na forma de menino, do filho de Deus. É como se Jesus Cristo renascesse anualmente nesta época, no coração daqueles que têm fé. E assim tem sido também com o pequeno Christian Ferreira Haedecker. Pela segunda vez, dezembro marca um reinício de vida, uma vitória, uma chance de seguir.
Em 2015, aos 4 aninhos, o garoto alegre e cheio de energia começou a sentir dores abdominais com certa frequência. Inicialmente a mãe, Maristela Ferreira, não estranhou, pois ele costumava ter prisão de ventre. Mas um dia, na creche, o pequeno passou mal, tendo inclusive com febre alta. Foi levado ao Centro Materno Infantil (Cemai), onde solicitaram uma ecografia, que acabou por mostrar uma manchinha grudada à costa sacral. Foram prescritos mais exames, que continuaram apresentando o quadro. Então, Christian foi internado no Hospital Santa Cruz para realizar uma tomografia. O procedimento, ocorrido em setembro, detectou um tumor.
No mesmo dia do resultado, o menino foi encaminhado ao Hospital de Clínicas em Porto Alegre. Fez novos exames, mais complexos, que diagnosticaram um ganglioneuroma, um tumor do sistema nervoso periférico que, embora raro, é benigno. A possibilidade de câncer, que atormentava os pensamentos de Maristela desde que o filho ficou doente, estava descartada. A alegria foi imensa. Não se imaginava o que ainda viria pela frente.
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Força e esperança, acima de tudo
A junta médica que cuidou de Christian no Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, decidiu executar uma cirurgia para remover o tumor. Porém, com parte dele envolvendo nervos responsáveis pelo movimento das pernas, somente a metade pôde ser retirada, em outubro de 2015. A intervenção foi bem-sucedida e o menino ficou na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para se recuperar.
Porém, quatro dias depois, teve rompimento do intestino, o que gerou um quadro grave. Precisou de uma cecostomia, que é uma abertura artificial para saída das fezes, coletadas por uma bolsinha. Mais alguns dias e outro problema: Christian criava líquidos e coágulos no abdômen. Novamente foi para o bloco cirúrgico, realizar lavagem e colocar dreno. Na sequência, um novo período de restabelecimento. Foram quase cinco meses de hospital, dores, incertezas, mas acima de tudo, de esperança.
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E em dezembro, finalmente, o pequeno guerreiro pôde voltar para casa, em Santa Cruz do Sul. A vida, a partir daí, seria um pouco diferente. O menino passou a conviver com restrições. Não podia mais pular e correr. Teve de aprender a lidar com o inconveniente da cecostomia. Porém, cercado de muito amor, continuou sendo uma criança alegre, da forma que era possível. Tão guerreira quanto ele, a mãe, Maristela, largou o trabalho para se dedicar integralmente ao filho.
Apesar de todos os baques, sabia que seu menino precisava vê-la bem para não ficar triste e conseguir se recuperar. As forças, ela não sabia de onde tirava, mas tinha certeza de que não podia baixar a cabeça, pois isso significaria entregar-se à doença. E o objetivo era exatamente o oposto. Vencer uma batalha por vez para poder ver Christian crescer bem e feliz.
Boas perspectivas para o novo ano
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Sem trabalhar nem contar com o pai de Christian, Maristela buscou o Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência ou Loas (Lei Orgânica de Assistência Social), que garante um salário mínimo por mês para os dois viverem. Apesar dos incômodos e limitações, Christian mantém no rosto o sorriso que tinha antes, e isso é o combustível que a mãe precisa para se resignar com as provações que, tão novinho, o menino já enfrenta.
Para o Natal deste ano, ela comprou presentes e, junto com seus pais, motivou o filho para a data. Estava tudo programado para a celebração em família, mas surgiu a possibilidade de fazer a cirurgia para fechar a cecostomia. “É uma época que ninguém quer estar no hospital, aí deu vaga. As médicas acharam que deveríamos passar as festas em casa, com a família. Mas eu pensei que é a oportunidade de meu filho entrar o novo ano com mais alegria, vai poder retomar a vidinha dele, brincar, correr, tomar banho de piscina, ir pra escola, ver os amiguinhos…”
Então, eles arrumaram as malas no Residencial Viver Bem, onde moram, e retornaram ao Hospital de Clínicas em Porto Alegre. A cirurgia ocorreu na terça-feira. Christian ainda sente os efeitos. É preciso um tempo de jejum para o intestino cicatrizar e retomar suas funções. Mas tudo está correndo bem. E, mesmo ainda com dor, o pequeno já é só alegria.
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Assim, em dezembro, mais uma vez ele dá partida a um novo ciclo, a uma nova vida. Maristela diz que será estranho o Natal a dois, sozinhos no hospital, mas está certa de que haverá tantos outros a serem aproveitados com os demais familiares. Após a recuperação dessa intervenção, o tumor continuará sendo monitorado, até porque pode aparecer em outras partes do organismo. Mesmo assim, as perspectivas são boas. E uma das maiores expectativas é o ingresso na pré- escola, para a qual o garoto conta os dias.
Cheia de orgulho da valentia do filho, a mãe comemora mais uma batalha vencida. Se pudesse pedir um presente neste Natal, seria a cura do filho, bem como paz e amor para o seu coração. Já Christian não pensa duas vezes. O presente que gostaria é que estivessem de volta junto dos avós, pois sente muita falta deles. Pedido que será realizado em breve, certamente.
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