A mãe de Maurício Darlan Gomes Canut, 25 anos, autor do latrocínio, não pede que compreendam o que o filho fez. Nem ela consegue aceitar. O rapaz saiu do presídio na manhã de quinta-feira. Sete horas depois, cometeu o assalto e assassinou o frentista a tiros. Do outro lado da mesma tragédia, familiares e amigos de Valdinei tentam se apoiar nas recordações, mas estão indignados e feridos. Colegas protestaram por Justiça com cartazes fixados no posto, que não funcionou nessa sexta-feira. O corpo do frentista foi sepultado no fim da tarde.
Os sonhos de Elisabete para o filho foram interrompidos pelas drogas. A mãe não aceita o caminho seguido por ele
“É muita vergonha para uma pessoa”
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Sentada no sofá de uma casa simples, Elisabete Gomes, 51 anos, segura uma toalha com força. Apega-se naquele pedaço de tecido como se pudesse com ele se manter em pé. Por vezes, esconde o rosto e enxuga as lágrimas. Vergonha. É o que ela sente. Tão grande, que parece não caber no peito. A vizinha, que tenta ampará-la, procura palavras para explicar o que não pode ser compreendido. “Eu não choro pelo meu filho, choro pelo rapaz, que estava trabalhando”, declara, entre soluços.
Elisabete é mãe de Maurício Canut, 25 anos. O rapaz que executou a tiros o frentista. Durante o assalto, quando Valdinei tentou desarmá-lo, lutou com o funcionário e lhe desferiu uma sequência de disparos. Um deles no peito. Mãe de cinco filhos, ela tenta entender o que é que deu errado nesse caminho. Quando criança, passou dificuldades e até fome. Mas prometeu que os filhos não passariam por isso. E cumpriu.
“Eu confesso que não sei o que faltou. Para eles, nunca faltou nada. Sempre trabalhei.” Maurício nasceu em 16 de julho de 1991. Foi o primeiro filho homem, após duas meninas. Depois Elisabete teve uma filha e um filho. O garoto cresceu no Belvedere. “Quando crianças, eles nunca me deram trabalho.” Aos 10 anos, mudou-se para o Aliança. Foi ali que os dias de terror começaram. Adolescente, assim como o irmão, ele se envolveu com drogas.
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Em pouco tempo, a mãe se viu diante de uma situação que não sabia resolver. Maurício interrompeu os estudos na 6ª série. Nessa época, Elisabete se dividia entre o trabalho de safreira e doméstica. “Nunca peguei um grão de ninguém”, conta. Com o vício do crack, o garoto passou a furtar objetos de casa. Os furtos se intensificaram. Um dia, quando retornava do trabalho, a mãe encontrou cabides na rua. Em casa, descobriu que suas roupas tinham sido levadas. “Era uma coisa tão triste, que eu não tinha nem a roupa da firma.”
A mãe chegou a realizar registros na polícia. “Eles roubaram tudo. O chuveiro. Microondas. Não tinha mais nada. Tiravam até os trincos da porta.” A partir dali, a situação piorou. Aos 17 anos, Maurício desapareceu e foi encontrado cinco dias depois, em um posto em Lajeado. Quando os crimes se tornaram mais graves, a mãe avisou os filhos: “Nunca vou aceitar o dia que vocês matarem alguém”. Para Maurício, não adiantou.
Agora ela só consegue sentir dor. “Não vou aguentar. Nada doeu tanto como agora. É muita vergonha para uma pessoa só.” Nos últimos anos, a mãe manteve pouco contato com o rapaz. Só soube que o filho havia recebido a dispensa quando lhe telefonaram, após o crime. “Ele nem me viu. Nem em casa ele veio. Tirar a vida de um trabalhador. Isso não é de berço.” Desde que soube da morte do frentista, ela chora sem parar. “Dói muito. Muito. Ele fez. Fez. E vai ter que pagar. Eu não choro pelo meu filho. Eu choro pelo rapaz, que estava trabalhando. Graças a Deus, ele (o filho) não teve tempo para fugir.”
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