“Nós temos a fé, vou pedir neste instante, traga bênçãos pra nós, oh mãe dos Navegantes”. A canção que se tornou hino em homenagem à Nossa Senhora dos Navegantes é, também, uma oração. Para que ficasse completamente pronta, foram necessários dois anos e alguns ajustes de colaboradores. Mas, essa história começou mesmo foi com um comerciante autônomo e também músico, durante uma das muitas festas de Navegantes em que participou. O sobradinhense Chico Leal, de 59 anos, recorda-se de ter visto crescer ainda na infância a paixão pela música. Anos depois, de agricultor a comerciante, as melodias continuaram o acompanhando. “Quando era pequeno gostava de ir aos bailes e sentar ao lado do palco para ficar assistindo os músicos cantarem. Sempre gostei, de ouvir, criar, cantar”, reforça.
Ao longo do tempo, essa paixão se transformou em segundo ofício. Tocar e cantar em bailes e eventos junto com outros músicos, em conjuntos, o aproximaram ainda mais dessa arte. Soma-se a isso, a sequência que Chico busca dar a tradição do Terno de Reis. Na última década, junto com Omero Morais e ‘Sofá Veio’, o trio de voz e viola visita casas e participa de celebrações marcando este antigo costume. Segundo Chico, já são dezessete composições próprias. A Homenagem à Nossa Senhora dos Navegantes está entre elas e integra as faixas do CD da ‘Dupla Sobradinhense’, do qual ele e Nilson Chaves, antigo parceiro de viola, eram os responsáveis. “Ele quem fundou a dupla, foram uns 25 anos de parceria”, destaca. Hoje, ativo no Grupo Fonte Nova, participa de eventos e promoções na região.
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A viola e a bicicleta são companheiras inseparáveis. Na vida de Chico, a religiosidade também está presente desde cedo. “Sempre fui católico. Quando tinha uns 8 anos, foi a primeira festa que fui dos Navegantes. Na época era onde tinha a hípica, na saída para Arroio do Tigre. Eu via aquelas pessoas e pensava: ‘essa santa tem que ser milagrosa. Quantos fiéis vem no dia da festa’. Sempre gostei de participar dessa celebração”, recorda-se. Anos mais tarde, veio a inspiração para homenagear a santa. “Em uma das festas, estava na Fejão e vi aquele público grande, devoto. Pensei que tinha que fazer uma música. Escrevi um verso e meio. Terminou a festa, então deixei anotado no caderno. Guardei aquele trecho para finalizar no ano seguinte, mas já comecei a cantar nas igrejas o que havia escrito. No outro ano terminei lá na Fejão também. Aí pensei que tinha que gravar. Naquele tempo era o padre João Flesch na Paróquia. Mostrei a letra pra ele, com quatro versos. Eu tinha intenção de gravar, mas não tinha dinheiro. A dona Maria Pozzobon, que era uma das coordenadoras na época, e o padre João se tornaram padrinhos da música. Eles que pagaram para gravar no estúdio com o professor Gervásio Goettems. Fizemos os arranjos e tudo. De noite tinha uma apresentação na praça e o padre já me pediu para tocar. Cantamos ao vivo e o pessoal gostou. Hoje todo mundo sabe a letra”, enfatiza.
Para chegar à versão final, Chico foi pedindo sugestões e recebeu diferentes auxílios. “Se tornou um hino. Veio para ficar. Já cantei ela em Porto Alegre e Salto do Jacuí nas festas de Navegantes. Essa é uma história que a gente fez para ficar”, destaca o músico que faz questão de destacar o apoio e incentivo da comunidade e também do atual pároco da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, padre Gelso Bernardy.
E a fé também já levou Chico a Aparecida do Norte. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, escreveu uma música em homenagem à santa e cantou no entorno da Basílica. “Meu sonho ainda é cantar lá dentro. Quase todos os anos a gente vai. Já fizemos promessa. Graças a Deus os pedidos foram alcançados. Isso é a fé. Tem que ter fé. Se hoje está ruim, temos que pensar que amanhã vai estar melhor. Nunca perca sua fé”, reforça.
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Com a pandemia, não será possível realizar a grande festa no Parque da Fejão neste ano, mas as celebrações ocorrerão de forma também especial na Igreja Matriz. Sobre o momento, Chico ressalta: “está no coração da gente”. E assim como a fé, o que está no coração dele é a música. “A música é uma coisa boa dentro de mim. É uma inspiração”. Sob a proteção de Navegantes, Chico e os fiéis seguem navegando pela vida, agarrados à esperança de que as embarcações estejam protegidas de todas as tempestades que surgirem à rota.
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