Muito se falou nos últimos dias sobre o legado da imigração alemã para o nosso Estado e o País. Até setores da grande mídia, costumeiramente avessos e omissos em reconhecer a contribuição dos alemães em diferentes setores da sociedade, abriram espaço e alguma janela na programação para registrar os 200 anos do início do processo de migração.
Tudo o que se disser, porém, estará a um oceano de distância do real legado que os imigrantes construíram. Santa Cruz do Sul e boa parte da comunidade regional, por exemplo. Sem desmerecer a importância da contribuição das demais etnias, somos um retrato impensável sem o trabalho, a coragem, a resiliência e sem os valores que os imigrantes alemães trouxeram na bagagem e transmitiram para as gerações que os sucederam.
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Expressar gratidão é um bom caminho para honrar o que herdamos. E preservar a memória do que construíram, certamente, os orgulhará.
A idealização e, se Deus ajudar, a futura implantação do Parque Regional do Imigrante em Linha Santa Cruz, no cenário que serviu de abrigo aos pioneiros vindos do além-mar, desafiam a nossa atitude diante de tudo o que deles recebemos.
É gratificante acompanhar passo a passo o crescimento de cidades, ver as antigas picadas e colônias sem energia elétrica e quase sem acesso se transformarem em prósperas comunidades. Assim como impressionam as propriedades distantes e isoladas de outrora que abriram porteiras para novas moradas, para o conforto da modernidade e a tecnologia que as conecta com o mundo.
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Mas não para apagar o passado. Ao contrário. É para nos inspirarmos nele, para nunca perdermos de vista o que os antepassados fizeram por nós e como chegamos até aqui. A pedra fundamental colocada na área do futuro Immigrantenpark, em Linha Santa Cruz, também precisa ter lugar em nossa consciência como cidadãos dispostos a reverenciar nossas origens.
Um segundo ponto, tão ou mais desafiador que o primeiro: que tenhamos honradez para preservar o que de mais valioso nossos antepassados construíram com o seu suor. Na minha percepção, a Catedral São João Batista, mais do que um templo majestoso, é uma síntese, a expressão viva dos valores que os imigrantes trouxeram e multiplicaram para quem os sucedeu: ousadia, determinação, abnegação e doação por uma causa comum e, acima de tudo, a fé.
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Sejamos francos: mesmo com o estágio de desenvolvimento em que nos encontramos, figurando entre as maiores economias do Estado, nós não seríamos capazes de erguer um templo dessa magnitude. Verdade mesmo, nem ousaríamos sonhar e, muito menos, executar projeto tão ambicioso.
Muito porque já não temos tão presente o sentido de comunidade, do objetivo comum que transcende a privacidade do lar. Mas, por mais que estejamos acostumados a delegar nossas demandas aos outros, não podemos ser tão indiferentes ao ponto de não nos sensibilizarmos minimamente com nosso papel como cidadãos.
Não somos apenas hóspedes ou herdeiros desta cidade. Somos agentes vivos, que usufruem sim, mas também são corresponsáveis para zelar por sua conservação.
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Por tudo o que significa para Santa Cruz, a Catedral deveria ser para nós – moradores, empresas, instituições e poder público – o tesouro que nos foi confiado para que o guardemos e sejamos dignos dele.
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