Pela primeira vez após o atentado de 7 de janeiro deste ano, o diretor da revista satírica francesa Charlie Hebdo, Laurent Sourisseau, conhecido como Riss, saiu do país para falar sobre a publicação, de tradição anticlerical e ateia. Ele foi o único sobrevivente no massacre que deixou 12 mortos.
“Podemos escrever o que queremos sobre política e políticos, mas, no momento em que se fala de religião, principalmente do Islã, o negócio fica mais sensível e o Charlie Hebdo pagou um preço alto por isso”, disse em palestra no 10º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.
Antes do início do debate, em vez de um minuto de silêncio pela morte dos 12 integrantes da revista, houve um minuto de aplausos. O aplauso ocorreu para “não perpetuar o silêncio da censura e celebrar a liberdade de expressão”, disse o diretor.
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Riss disse que o atentado foi uma “surpresa”, já que naquele momento eles não tinham nenhum problema específico. “Não tínhamos consciência sobre a periculosidade daquele momento. Até a polícia foi surpreendida. É difícil agora prever qual o próximo golpe”, acrescentou.
Ele ainda disse que a ação dos extremistas se insere em um âmbito maior de criar um clima de terror nas democracias. “É preciso ter uma visão mais ampla, de uma agressão contra as nossas democracias”, avaliou.
Pelo tom crítico e satírico dos cartuns da revista, Charlie Hebdo é, frequentemente, alvo de ações judiciais. O diretor explicou que não é fácil lidar com as ações judiciais contra a publicação. “Muitas vezes estivemos diante da Corte de Cassação da Franca, mas esse tribunal sempre confirmou a tolerância às nossas publicações”, explicou.
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Para ele, a censura foi privatizada. Enquanto antes quem se preocupava em cercear os trabalhos era o poder político, hoje são associações privadas. “Existem associações privadas que fazem ameaças judiciais para gerar uma forma de censura. A censura de origem política praticamente desapareceu”, concluiu.
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