As lágrimas, que até semana passada eram de alegria e orgulho de quem vive em Chapecó, se transformaram em tristeza que não tem dia e nem hora para acabar. Talvez nunca seque. A simpática cidade do interior de Santa Catarina tinha o seu time na decisão da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional, atual campeão da Copa Libertadores. Mas uma derrota, que nenhum adversário em campo seria capaz de lhe dar, fez com que essa terça-feira fosse um dos dias mais tristes da história da cidade, da Chapecoense e do Brasil.
O torcedor sentado na arquibancada da Arena Condá, estádio da Chapecoense, observa o gramado vazio e sonha com um gol que o seu time não levou. Sonha que nos acréscimos do jogo decisivo contra o San Lorenzo, o goleiro Danilo não conseguiu evitar o gol adversário e que, por consequência, a história tivesse terminado ali. Ele sonha até com a indignação, o palavrão e a decepção do dia seguinte.
Dores suportáveis para todos aqueles que estão acostumados com o perde e ganha do futebol. “Mas Danilo fez uma defesa milagrosa. Não foi gol. Não foi gol e a gente começou a viver um sonho. Um sonho que virou pesadelo”, disse o estudante Guilherme Batista Filho, de 18 anos.
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Ao lado de Batista, Gabriel abraça o pai e chora. O menino joga na escolinha da Chapecoense, meio campista habilidoso, futuro atleta. “Não acreditei quando meu pai me contou. Hoje (terça-feira) é o dia mais triste que eu já vivi”, falou o garoto de 11 anos.
Mesmo quem viveu mais do que isso tem concordado com o menino e colocado essa dor em uma prateleira bem alta. “Sou corintiana. Moro aqui, mas sou corintiana. A primeira vez que estive nesse estádio foi pra ver o Corinthians contra a Chape. Não consegui ingresso na torcida do meu time. Então, fiquei no meio da torcida da Chape. Nesse dia, o Corinthians ganhou. Mas a Chape ganhou uma torcedora apaixonada. E eu ganhei uma família”, disse dona Ivone Becker, de 70 anos.
Silencioso, bem vestido, estava outro convertido à Chapecoense, o haitiano Gueery Bassard, de 32 anos. Ele, que saiu do seu país fugindo de tragédias naturais e políticas, encontrou no time de futebol um conforto. “Eu jogava bola no Haiti. O futebol do Chapecoense me faz lembrar do meu próprio país”, disse. Bassard chora ao conectar o seu país com o time de futebol.
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Perto da tragédia esteve Fernando de Lima Cásper, presidente da organizada da Chapecoense. “Tentei estar naquele voo. Eu pedi para diretoria. Quase consegui. Mas tive problemas para tirar o passaporte e fiquei”, contou Lima – que também rememora a defesa milagrosa de Danilo e se emociona. “Se aquela bola entra seria uma dor. Uma dor diferente. Uma dor que iria acabar na próxima rodada ou temporada do futebol. Agora, não. Essa dor é diferente É imensurável”, falou.
Muitos que foram para a arena sequer tinham qualquer relacionamento com os atletas, além de vê-los em campo. Mas era difícil encontrar alguém que não demonstrasse estar arrasado como se tivesse perdido um ente próximo. Nos vestiários, onde a Chape escreveu sua linda história, o sentimento de impotência e a necessidade de procurar os “porquês” rondavam os familiares, dirigentes e companheiros dos falecidos.
“Acabou. Tudo que fizemos, as nossas alegrias, amigos, foi embora. O que fizemos de errado para merecer isso?”, lamentava uma torcedora, enquanto abraçava parentes dos atletas.
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No meio de tanta tristeza, duas crianças corriam pelo gramado da Arena Condá sem se darem conta do momento que viviam. Talvez, pudessem servir como exemplo para os adultos de que um dia, tudo isso vai passar. Mas deve demorar. A prefeitura de Chapecó decretou luto oficial de 30 dias, suspendeu todos os eventos programados para o fim de ano e ainda suspendeu as aulas na rede pública de ensino.
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