Desde jovem me fascinei com a obra de Gildo de Freitas.
Ele foi um que vislumbrou fantasticamente o que estava acontecendo no mundo. Todos nós, que passamos dos sessenta, temos claras na retina as maravilhas de aqueles tempos.
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Na minha infância quase não havia crimes. Dormia-se de janelas abertas no verão. Praias de banho eram os riachos, onde abundavam os peixes. Em Santa Cruz havia vários locais de banho. Alguns ainda persistem, mas não com aquele viço daqueles tempos.
De vez em quando meu pai nos levava de caminhonete para Rio Pardo. Eu me deslumbrava com a água do rio. Minha mãe e minhas irmãs se vestiam com aqueles “maiôs” super pudicos e longos.
Voltávamos todos com o rosto queimado na caixa de trás da caminhonete Dodge canadense ano 1955, se não me engano. Tinha uma cabine metálica na frente e atrás uma cabine de madeira com toldo em cima.
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Abaixo vai, portanto, o que Gildo de Freitas preconizou.
Vou deixar intactos seus versos, sem nada corrigir, conquanto haja imperfeições de gramática. Importante é o conteúdo.
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“Chamado passo d’areia
Foi o lugar que eu nasci
Foi ali que eu conheci
Cousas que a gente admira
Muçuns, jundías, taraíras
Nos meus tempos de guri
Não é querer me exibir
Mas taraíras davam tantas
Que nas quintas feiras santas
Nós pescava por ali
Mas quem tinha mais dinheiro
Terminou com o nosso apoio
Compraram nossos arroios
Findaram nossos pesqueiros
Um arroio companheiro
Pesqueiro de bom tamanho
Eram até praias de banho
Pra quem não tinha dinheiro
Naquelas partes mais altas
Por onde a água descia
Não eram só pescarias
Davam muitas produções
Auvoredo plantações
pastagens e leitarias
Da terra tudo nascia
Pepino, feijão miúdo
Era uma terra para tudo
Aipim, melão, melancia
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Mas pode crer minha gente
Que isto foi num disparato
Derrubaram até os matos
De angicos e Cambuíns
Foram se metendo assim
Que nem piolho em custura
E as hortas de verdura
Viraram todo em jardim
Está derrota foi feita
Em muitos poucos momentos
Foram abrindo loteamentos
E as construções vieram vindo
Outros vendendo e saindo
Mesmo que um papel no vento
Eu conto com sentimento
Tudo que era bom se foi
Plantação, cavalo, boi
Festança carreiramento
Tudo se foi no momento
E aonde pastava as vacas
Hoje só se enxerga placas
Aluga-se apartamentos.”
E tudo isso aconteceu.
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Melhorou tudo de uns tempos para cá?
Não esqueçamos que Passo da Areia se situava num lugar simples e longe do centro de Porto Alegre.
Ali havia criação de animais, era um lugar bem distante e pouco habitado.
E hoje?
Tudo que era bom se foi…
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