Após um ano de visitas aos distritos do interior de Santa Cruz do Sul, a série de reportagens Vida no Interior, realizada pela equipe da Gazeta do Sul, chega ao fim com as comunidades de Cerro Alegre Baixo e de Cerro Alegre Alto.
Lançada em janeiro, a iniciativa teve como objetivo revelar as diferentes culturas e peculiaridades das localidades do município, retratando a organização econômica e social, o trabalho das empresas e escolas, além de valorizar as histórias de acolhimento e superação das comunidades.
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O ponto de partida foi Monte Alverne, seguido por Rio Pardinho, Boa Vista, Pinheiral, São José da Reserva, São Martinho, Paredão, Saraiva e Seival. Ao longo das reportagens, foram colhidos muitos depoimentos que evidenciaram a força e a resiliência dos moradores, especialmente após os desafios trazidos pela enchente de maio, que impactou significativamente várias localidades do interior.
Além de evidenciar histórias inspiradoras, a série também abriu espaço para os moradores exporem os problemas e as demandas de cada distrito.
Duas localidades que (quase) dividem o mesmo nome
São dois nomes semelhantes que se diferenciam apenas pela localização geográfica: Cerro Alegre Baixo está situado na zona sul do município de Santa Cruz do Sul, em direção a Rio Pardo. Para chegar à localidade a partir da área urbana, o acesso é pela BR-471, ingressando na Avenida Felisberto Bandeira de Moraes.
No lado oposto está Cerro Alegre Alto, na área oeste do município. O acesso principal é pela Rua Barão do Arroio Grande e pela Avenida Carmindo José Schuh. A comunidade faz divisa com Passo do Sobrado. Por esse motivo, é comum o intenso fluxo de veículos durante o verão, já que a localidade serve de caminho para balneários conhecidos, como Nunes e Moraes.
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A região de Cerro Alegre Baixo reflete a diversidade histórica, cultural e econômica da área. Situada em uma faixa intermediária entre a zona de campo, ao sul, e a zona da mata, ao norte, o local evidencia a influência de duas importantes correntes colonizadoras: os portugueses, que ocuparam o sul no século 18, e os imigrantes alemães, que chegaram ao norte a partir do século 19.
A mistura dessas heranças é visível na composição populacional da localidade, que conta com descendentes de ambas as colonizações. Sobrenomes como Kessler e Lopes, comuns na região, simbolizam essa confluência cultural.
Do ponto de vista econômico, o lugar é marcado pela predominância do minifúndio, uma característica herdada da colonização alemã. A agricultura é a principal atividade, com destaque para o cultivo de tabaco, milho, soja, cana-de-açúcar, mandioca e hortaliças. A criação de gado bovino leiteiro e de suínos também desempenha um papel importante na economia.
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Além de sua riqueza econômica, Cerro Alegre Baixo se apresenta como um local de grande interesse para estudos antropológicos, especialmente sobre os processos de aculturação. A integração entre as influências portuguesas e alemãs faz do distrito um retrato da história e evolução sociocultural do interior de Santa Cruz do Sul.
Cerro Alegre Alto também teve realizações importantes em sua história. Em 1995, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul autorizou a realização de uma consulta plebiscitária para o desmembramento da comunidade, que então pertencia a Passo do Sobrado. Com isso, o território foi anexado a Santa Cruz do Sul.
Tranquilidade
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Quem visita as duas localidades, Cerro Alegre Alto e Cerro Alegre Baixo, se depara com a organização das propriedades, casas preservadas e arquitetura moderna entrelaçada com áreas rurais. Além disso, há espaço para empresas.
As comunidades contam com ruas principais asfaltadas e obras recentes. Em Cerro Alegre Baixo, há um posto de combustíveis, empresas, bares e um Centro de Tradições Gaúchas (CTG). A localidade abriga moradores, chácaras e oferece momentos de lazer, graças à proximidade com a área urbana de Santa Cruz.
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As localidades se conectam pela estrada de chão que passa pela comunidade de Linha Fritzen. Cerro Alegre Alto, situado em uma região mais elevada do município, oferece tranquilidade em meio à urbanização. Sua estrutura inclui duas igrejas, dois pavilhões de eventos, o Salão Winkelmann e Weber, a casa de festas Mannsão, um campo de futebol e cemitérios.
Salão tradicional mantém legado familiar
Um dos salões de festas e mercados mais tradicionais de Cerro Alegre Alto, conhecido por carregar os sobrenomes Winkelmann e Weber, é um ponto de encontro de amigos e celebrações há 36 anos. O espaço, que se tornou referência na comunidade, foi fundado por João Humberto Winkelmann (in memoriam).
Atualmente, o negócio é gerido por Albino Francisco Weber, de 66 anos, que mantém a tradição e o espírito comunitário do local. No entanto, ele destaca desafios relacionados à segurança. “Aqui é bom de morar, mas já sofremos dois assaltos no estabelecimento. Acredito que a segurança possa ser mais efetiva”, comenta.
Angela Maria Weber, funcionária de 38 anos, ressalta a boa localização da comunidade em relação à área urbana, mas aponta que ainda há espaço para melhorias. “Linha João Alves, por exemplo, atrai muitos moradores. Aqui percebemos que não há esse mesmo interesse.”
Entre as demandas, Angela menciona a necessidade de mais investimentos, como a implantação de um posto de saúde ou a presença de um agente de saúde na região. “Facilitaria para encaminharmos as coisas e traria mais qualidade de vida para quem mora aqui.”
Melhorias na estrada
Desde o mês passado, está ocorrendo a obra de pavimentação de três quilômetros da Avenida Willy Moraes, situada em Cerro Alegre Baixo, interior do município. O investimento para a execução do projeto é de R$ 6,8 milhões, com R$ 2 milhões provenientes do governo estadual e contrapartida de mais de R$ 4 milhões da Prefeitura.
O projeto foi desenvolvido pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura. A empresa responsável pela execução é a Ditrevi Engenharia Ltda. Além da pavimentação asfáltica, o trabalho inclui drenagem, instalação de redes de abastecimento de água, terraplenagem e sinalização viária. A expectativa é de que as intervenções sejam concluídas em 12 meses.
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Cerro Alegre Alto também recebeu pavimentação em um trecho de 2,2 quilômetros. A obra começou em abril deste ano e foi finalizada recentemente. A via faz ligação com o município de Passo do Sobrado.
A pavimentação do trecho era uma demanda antiga da comunidade, em razão dos problemas com poeira nos dias secos e atoleiros nos períodos chuvosos. A obra foi executada pela Ditrevi Engenharia, de Santa Cruz, pelo valor de R$ 3,84 milhões.
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