Formada em Pedagogia e especializada em Educação Especial, a moradora de Santa Cruz do Sul Maria Lis de Lima Lemos só encontrou sua missão quando entendeu que as argilas estavam ligadas à espiritualidade. No ateliê que fica junto à sua casa no Bairro Renascença, ela recebeu a Gazeta do Sul para falar sobre o seu trabalho.
A artista de 54 anos é natural de Restinga Seca e reside há seis anos em Santa Cruz, onde criou a Maria de Barro Artes Cerâmicas. Apesar de não ter formação específica, ela conta que desde criança dizia que seria artista e a família não concordava muito. “Fiquei sempre com isso dentro de mim, tinha essa paixão pelo barro e as argilas. A arte me dá mais liberdade de ser quem eu realmente sou”, conta. Como facilitadora de biodança, fotógrafa e terapeuta de reiki, ela buscava parte da identidade que só encontrou com a cerâmica. O trabalho dela hoje inclui esculturas, vasos, cachepôs, objetos decorativos, joias e utilitários.
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O processo de preparação das peças é demorado e exige modelagem, secagem, maturação, brunimento, e apenas a queima, onde o barro seco passa a ser cerâmica, leva cerca de 24 horas. “Em um forno elétrico como esse que eu tenho, o processo é gradual e lento, vai aumentando gradativamente a temperatura. Até atingir de 600 a mil graus leva cerca de 12 a 13 horas, depois o mesmo processo para reduzir a temperatura e não haver nenhum choque térmico.” No caso da cerâmica utilitária, usada para colocar alimentos, é preciso fazer uma segunda queima usando os esmaltes cerâmicos. A fundição de alta temperatura chega a mais de 1,2 mil graus e forma uma camada vitrificada no exterior da peça.
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Em 2018, Maria Lis participou de um ateliê de escultura pictórica peruana em Porto Alegre com a artista Lila Vasquez, onde a técnica era ensinada como vivência. A oficina ensinava os processos usados por uma comunidade indígena equatoriana, que preservou a forma de fazer cerâmica de geração para geração. “Ali me defini como uma rezadeira do barro. Não me enquadro nem como artesã, nem como artista plástica, porque não tenho uma trajetória acadêmica. O que fala mais alto é uma mulher que encontrou no barro uma expressão de si mesma”, explica.
A arte da cerâmica começou antes da marca, mas quando surgiu a oportunidade de participar de uma feira, ela precisava de um nome. “Se existe o João de Barro, então eu sou a Maria de Barro”, explica. Para conhecer o trabalho da Maria de Barro Artes Cerâmicas, é possível acompanhar pelo Instagram @mariadebarro_ ceramicas. Encomendas podem ser feitas pela rede social ou pelo telefone (55) 33680 2100.
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JAPAMALAS PERSONALIZADOS
Com a experiência com a argila e a cerâmica, Maria Lis descobriu novas peças cheias de significado. “Fui me aperfeiçoando, fui tirando de dentro de mim esses elementos em expressão da modelagem, de uma escultura ou de um utilitário, e foi nessa trajetória que eu cheguei nos japamalas.” As peças de origem budista e indiana são utilizadas para meditação e na prática havaiana conhecida como “Ho oponopono”.
Maria começou a fazer os japamalas em 2018 e de lá para cá já criou mais de cem. “Fiz o primeiro bem rústico, mas é o que me compõe, o rústico e o intuitivo. É muito visceral a minha arte, não tenho muita preocupação em fazer tudo perfeito.” Os japamalas foram as peças que ela mais fez durante a pandemia e têm lista de espera até fevereiro. Cada um é modelado com a mão e um espinho de laranjeira, leva 108 bolinhas ou contas e uma miniestátua, passando por queima, pintura e montagem no cordão. É feito com cada pessoa em mente, totalmente personalizado.
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