Este texto é minha centésima coluna neste espaço da Gazeta do Sul. Comecei a empreitada no dia 4 de maio de 2020, já em plena expansão da covid que tanto temor gerou e tantas dores estendeu a milhares de pessoas. Quando me aposentei do magistério, recebi contato do editor Romar Beling propondo assumir um espaço quinzenal, deixando a meu critério a escolha e a abordagem dos assuntos. Pedi um tempo para avaliar e acabei aceitando o convite.
Muito tempo antes, o saudoso maestro Eugênio Wuensch insistia comigo, sugerindo que eu aceitasse um espaço no jornal para abordar questões da língua portuguesa. Sempre muito ocupado e priorizando meu trabalho profissional, fugia da provocação. Todas as vezes em que nos encontrávamos, ele retomava o apelo e eu continuava a postergar. Só mais tarde, avaliando minhas condições de tempo disponível, resolvi enfrentar a empreitada.
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Não pense o leitor, ao ler uma crônica de quarenta linhas, que o autor chegou a elas sem dificuldade alguma. Não basta saber escrever, é preciso ter assunto. E, ao optar por um, cabe pensar em que leitor eu vou chegar, como receberá a minha escritura. Meu leitor pode ser um doutor na área de Letras, mas também uma pessoa semialfabetizada. Quando sai uma crônica, já penso na próxima, que inicio a gestar a partir desse momento. Defino um tema e vou apontando alguns tópicos que poderão compor os parágrafos, os quais, bem organizados e concatenados, vão compor o texto final. Trabalho lento, criterioso, reflexivo.
Tenho anotada uma série de sugestões às quais recorro antes de escrever. Abro mão da escolha quando subitamente um fato mais relevante se impõe. Meu repertório vai se alterando, se enriquecendo, se gastando. De vários autores já ouvi: não sei mais sobre o que escrever. Imagino o duro ofício de quem assume uma crônica diária em jornais ou outros veículos de comunicação. Só sobrevive se for bom escritor, capaz de fazer chegar a sua produção em linguagem bem lavrada, esteticamente prazerosa para o leitor.
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Quem escreve, precisa estar atento às histórias que o cercam, à paisagem que vislumbra, às pessoas com quem se encontra e iluminam uma ideia possível. E, quando um tema interessante desponta, é preciso às pressas anotar, porque eles, os temas, fogem como lebres assustadas e, assim que queremos torná-los textos, não mais os encontramos. Muitos escritores que conheço têm sempre à mão uma caderneta, um bloco, um guardanapo para registrar o que mais tarde poderá se tornar uma crônica, um conto ou até um romance.
Às vezes, acertamos, temos ótima recepção por parte do leitor; outras vezes, observamos um discreto silêncio por parte de quem nos lê. Textos que, como autores, julgamos bons, repercutem pouco; outros, que julgamos mais frágeis, recebem redobradas aprovações. Nem sempre acertamos o tom. Nunca sabemos quem vai nos ler, como vai ler o que remetemos. Agora, todas as pessoas que escrevem se munem da esperança de que sejam lidas.
Cabe, ao final, agradecer aos leitores que me deram e me dão acolhida. Alguns se manifestam, leem o jornal antes mesmo que chegue em minha casa. Outros são discretos, silenciosos, talvez sorriam, talvez permaneçam indiferentes, não importa. Agradeço a todos que compraram a passagem e fizeram essa viagem comigo. Escrever é um jeito de chegar próximo do outro.
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