Há muitos anos passo, em geral, minhas férias na praia de Imbé. Vi o pequeno balneário se tornar uma cidade crescida, cada vez mais frequentada por veranistas, cada vez mais tornada residência permanente de pessoas que fogem dos grandes centros e buscam a tranquilidade do litoral.
Quando conheci o local, ainda existia a ponte dos pescadores, exclusiva para eles, que ficava a pouca distância da foz do rio Tramandaí. Milhares de pessoas se aglomeravam e revezavam ali, pescando incautas e intermináveis sardinhas. Como essa ponte foi derrubada por uma fúria do mar, hoje essas pessoas se deslocaram em grande número para a ponte que liga Imbé a Tramandaí, disputando o espaço com o tráfego intenso que por lá constantemente se movimenta. As sardinhas continuam aparecendo generosamente, bem como sobrevive a alegria dos pescadores.
Na barra, na junção do rio com o mar, é possível ficar horas apreciando o movimento dos pescadores. Caniços, tarrafas, cocas não cessam de descer às águas na esperança da pesca milagrosa. É bonito ver uma tarrafa bem arremessada, em arte que parece suave véu de noiva. É divertido ver tarrafeiros aprendizes prendendo na rede os seus próprios pés. Jogar tarrafa é uma arte. É interessante observar pescadores de primeira viagem brigando com seu equipamento de pesca, apanhando dele, mas sem perder a fé de que o balde não retornará vazio para casa. Nem que seja no próximo verão.
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O espetáculo assume ares de quase loucura quando os botos, quais tropeiros do oceano, conduzem as tainhas para dentro do rio. Como num passe de mágica, surgem dezenas de pescadores que fixam o olhar nas sendas dos botos, certos de que à sua frente se desloca farto cardume, correm alucinados para cima e para baixo, jogam e recolhem as redes, quase sempre vazias, mas mesmo assim não se submetem à desistência. Se hoje não deu, amanhã teremos a recompensa. E não desistem. E não reclamam. E não se entristecem. Porque sabem que a vida é assim, um dia é do peixe, outro é do pescador.
Os botos são uma grande atração. Ficam a poucos metros dos espectadores, que filmam, fotografam, se encantam. O seu subir e mergulhar na água se transforma em verdadeiro balé. Como já estou habituado a vê-los, fico admirando as pessoas, principalmente as que chegam pela primeira vez, as que trazem as crianças e se esforçam por fazer com que elas os percebam, os guardem como lembranças queridas duma infância feliz desses verões iluminados.
Na praia, de frente para o mar, era comum ver, às vezes, pacientes pescadores, tentando fisgar algum bagre, algum papa-terra, o que acontecia com frequência. Talvez pela proibição, em virtude da época, ou talvez tenham desaparecido mesmo, hoje raras cenas de captura são percebidas. Resta, então, beber a beleza do mar, os navios petroleiros ancorados, os barcos entrando ou saindo do rio, numa vida que não admite monotonia e pede que a gente se perca na vastidão do horizonte.
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O rio Tramandaí é curto, liga as lagoas ao mar. Às suas margens, desenvolve-se vida abundante, por isso não merece ser o leito definitivo, misterioso e cruel que acolheu o menino Miguel para sempre.
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