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NADA MUDA

Cenário na RSC-153 é o de uma rodovia quase abandonada

Foto: Iuri Fardin

Cartaz colocado por moradores em trecho da RSC-153

O tempo passa, mudam os governantes, as promessas são reforçadas, mas uma situação permanece inalterada: o estado degradante e de completo abandono vivido pela RSC-153. Construída para ser um corredor de exportação entre a Região Norte do Rio Grande do Sul e o porto de Rio Grande, a rodovia convive com inúmeros problemas há mais de uma década. Responsável pela manutenção, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) realiza reparos emergenciais, cujos resultados são vistos pelos usuários como insuficientes e pouco duráveis.

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Na manhã dessa quarta-feira, 20, a reportagem da Gazeta do Sul percorreu o trecho de pouco mais de 80 quilômetros entre o viaduto sobre a RSC-287 e o acesso ao município de Barros Cassal para ver de perto as condições da via e conversar com motoristas, moradores e empresários. O que mais chama a atenção é o quanto o pavimento se transforma ao longo do deslocamento. Em algumas áreas, está em perfeitas condições e com poucos desníveis; em outras, o número de remendos torna difícil até mesmo o controle do veículo. O terceiro e mais perigoso cenário é entre Gramado Xavier e Barros Cassal, onde os buracos se multiplicam em número e tamanho.

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Proprietário de uma borracharia nessa região há quatro anos, Gilberto Andrada conta que o trabalho é incessante e a todo momento chegam condutores com os veículos avariados. “Pneus rasgados e rodas amassadas são os casos mais comuns. Se o aro for de ferro, às vezes eu consigo desamassar; mas se for de liga leve, não tem conserto.” Ele é mais um a pedir por intervenções mais profundas no asfalto, mas observa também o tamanho e o peso dos caminhões. “Esses bitrens carregados passam aqui sabe-se lá com quantas dezenas de toneladas. Não tem estrada que aguente”, afirma.

No dia 31 de agosto, um jovem de 24 anos morreu após um acidente na RSC-153. Ele conduzia um Ford KA com placas de Concórdia (SC) e trafegava no sentido Soledade-Santa Cruz do Sul. Segundo informações de populares, por volta das 17 horas ele teria passado sobre um buraco na localidade de Pinhal Santo Antônio, em Sinimbu, e perdeu o controle do veículo, que saiu da pista e capotou até parar em um terreno às margens. Após o ocorrido, moradores das redondezas chegaram a improvisar uma placa que diz “Cuidado, buraco”, para alertar os demais usuários. O Daer aplicou uma nova camada asfáltica no trecho.

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Prejuízos financeiros e risco à vida dos motoristas

Proprietários de uma oficina junto a um posto de combustíveis próximo ao limite entre Sinimbu e Herveiras, o casal Ana Lúcia de Vargas e Leomir dos Santos já foi testemunha de diversas situações perigosas e também vítima da RSC-153. “Há pouco mais de duas semanas, perdemos duas rodas e dois pneus novos”, conta ela. Conforme Santos, o problema ocorreu em um buraco já muito conhecido pelos usuários regulares, mas não havia possibilidade de desviar. “Na pista contrária vinha um caminhão, e do outro lado é um barranco. O único jeito foi passar por cima.”

Nesse mesmo estabelecimento estava o caminhoneiro Lucas Medeiros, de 43 anos. Depois de passar sobre uma das diversas crateras da rodovia, ele escutou um barulho diferente vindo da carreta e resolveu parar e conferir. Não houve engano: um dos feixes de mola não resistiu e acabou se partindo com a pancada. “Ainda é feriado. O que vou fazer? Nenhum lugar está aberto para realizar esse conserto.” O futuro, porém, ainda reservaria muitos perigos a ele. Isso porque o destino era o porto de Rio Grande e ele teve de enfrentar a RSC-471 entre Pantano Grande e Encruzilhada do Sul, outro trecho conhecido pelas más condições.

Já em outro posto, mais próximo ao acesso a Sinimbu, estava o caminhoneiro Adão Bretanha. Vindo do Mato Grosso do Sul e também com destino a Rio Grande, ele diz conhecer muito bem a RSC-153 e muitas outras estradas brasileiras tão precárias quanto esta. “Já passei por muita coisa. Se quebra uma mola desse caminhão, o conserto é muito caro e, dependendo do contrato, posso perder boa parte do valor do frete.” Com 26 anos de profissão, ele pede, além de reparos nas vias, mais consciência aos motoristas na hora de pilotar. “Tem que andar sempre na defensiva; não vale a pena arriscar a sua vida e a dos outros para chegar uma hora mais cedo.”

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A carreta conduzida por Lucas Medeiros teve um dos feixes de mola partidos na via

O sonho de uma região acabou por virar pesadelo

A RSC-153 foi por décadas um sonho dos moradores de Barros Cassal, Gramado Xavier, Herveiras, Sinimbu, Vale do Sol e Vera Cruz. A construção se arrastou por duas décadas, entre os anos de 1990 e 2000, até ser, finalmente, inaugurada em 2010. Na ocasião, a então governadora Yeda Crusius percorreu a rodovia a bordo de um Mercedes-Benz e liberou o trânsito no trecho que viria a ser considerado um importante corredor de exportação. Era a realização de um sonho, que não demoraria muito para se transformar em pesadelo.

Com recursos sempre escassos, o Daer nunca deu a devida manutenção à 153, tanto no pavimento quanto na sinalização vertical e horizontal e nas roçadas no entorno. Hoje, o motorista que trafega à noite ou em dias de chuva e não conhece a estrada enfrenta grandes dificuldades para se localizar. Para piorar, em caso de emergência, não há sinal de celular na maioria dos pontos. “Se o pessoal vê que é um acidente ou um veículo estragado, até param, mas, se é alguém pedindo ajuda, muitas vezes ninguém para, por medo”, conta o mecânico Leomir dos Santos.

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Roçadas e reparos

Contatado pela reportagem, o Daer informou que já foram emitidas novas ordens de serviços para a realização de roçadas e reparos emergenciais na RSC-153, entre Vera Cruz e Barros Cassal. A programação está sob responsabilidade da Superintendência Regional de Santa Cruz do Sul. Além disso, está prevista a execução de melhorias na segurança viária com a contratação de uma empresa de sinalização. No momento, o processo está em andamento na Central de Licitações do Estado.

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