As pessoas que trafegam pela BR-471 e ingressam na estrada de chão que segue até a localidade da Divisa, no interior de Pantano Grande, podem ver, em um descampado, uma casinha de tijolos pintada de branco, com apenas uma porta. Lá dentro está o túmulo do Luciano, um misterioso sem sobrenome. De acordo com o professor aposentado Paulo Fanfa, o desconhecido é considerado um santo pela população. Ele conta que, certa vez, um lavoureiro, assolado pela intensa seca, fez uma promessa a Luciano: se viesse a chuva e salvasse a lavoura, o fazendeiro construiria um túmulo adequado ao falecido. Após o pedido, veio a chuva e a promessa foi cumprida.
Há duas versões sobre quem seria Luciano. Uma é de que seria um mascate assassinado em uma viagem. A outra é sobre Luciano ter sido um mensageiro de guerra. O professor acredita na segunda versão, pois em 1883 – o ano do falecimento do misterioso personagem – não havia população em Pantano Grande, a quem ele pudesse vender suas mercadorias. A única certeza é de que o túmulo é muito famoso entre a população. O lugar recebe pessoas de várias localidades, que trazem flores e velas, acreditando estar diante de um jazigo milagroso.
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E os mistérios continuam para quem peregrina pelo interior de Pantano Grande. Na localidade denominada Volta da Cobra, existe um cemitério inaugurado no século 19. Com muros de pedra, há túmulos datados de 1889. Mas, pela arquitetura dos jazigos, provavelmente existem sepulturas bem mais antigas. No entanto, por estarem muito deterioradas pelo tempo, é impossível localizar algum registro.
Conforme o professor Paulo Fanfa, nessa localidade não havia cemitérios. Contudo, a viagem com o cortejo até Rio Pardo, então a sede, levava de três a quatro dias, atalhando por campos, lamaçais e açudes, e ainda passando sobre o rio de barca. Por isso, foi necessário construir um local para sepultar os entes.
O Cemitério dos Guerreiros, como foi chamado, foi construído por três irmãos, Almir, Luís e Acássio, que eram chamados de “guerreiros”. O lugar é muito instigante pela forma dos jazigos – a maioria tem formato de capelas –, pela distância e pelo local ermo, no alto da colina. É um cemitério histórico cheio de mistérios.
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No passeio pelo interior de Pantano, é possível encontrar as ruínas da casa da doutora Rita Lobato. É preciso autorização para chegar ao local, pois a área é de propriedade particular. No caminho até o que restou da estrutura, descoberta recentemente, na qual Rita residiu boa parte da vida, há uma imensa lavoura de azevém, estradas esburacadas e o matagal molhado pelo sereno. Rita é considerada a primeira médica do Brasil, mas não existem documentos que comprovem tal título.
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Nascida em 9 de junho de 1866, em Rio Grande, Rita Lobato Velho Lopes, com apoio dos pais, ingressou na Universidade de Medicina do Rio de Janeiro, transferindo-se logo após para a Universidade de Medicina de Salvador. Iniciou a profissão recém-casada, clinicando em Jaguarão, onde permaneceu por quase dois anos. Saiu para o mundo a fim de estudar e, de volta ao Rio Grande do Sul, em 1910, passou a clinicar nos arredores de Rio Pardo, agora com domicílio na Estância Capivari, onde estão as ruínas.
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A médica praticou a caridade como forma de homenagear a mãe, que morreu durante o parto do caçula. Prestou serviços e cedeu medicamentos gratuitamente. Atendia a todos que lhe batiam à porta. De 1910 a 1925, exerceu intensamente a clínica domiciliar. Já com quase 60 anos, encerrou a atividade profissional. Em 1926 perdeu o marido, companheiro dedicado de 37 anos. Doou seus aparelhos ao hospital local e ingressou na vida política, onde encontrou terreno propício para ajudar a cidade onde clinicou por tanto tempo.
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Militou no Partido Libertador. Septuagenária, foi eleita vereadora pela sigla em Rio Pardo, representando a vereança com a mesma dignidade e eficácia com que praticou a Medicina. Exerceu o mandato até a implantação do Estado Novo, em 1937, quando foram fechadas as Câmaras Municipais. Mesmo assim, continuou presidente de Honra do Comitê Feminino Pró-Candidatura Darcy Porto Bandeira, em favor do conterrâneo à Prefeitura de Rio Pardo. Afastou-se da vida política no final da década de 1940. Passou a viver no centro de Rio Pardo com os familiares, onde ficou até 1950. De 1950 a 1952 viveu em Porto Alegre, voltou para Rio Pardo em 1952 e faleceu em 1954. Ela está sepultada no Cemitério Municipal de Rio Pardo.
De acordo com a bióloga e pesquisadora pantanense Graziela Dolci Alves, infelizmente não há documentos sobre todas essas histórias, apenas relatos transmitidos há gerações. Restam enigmas, como ruínas próximas à casa, que seriam túmulos de familiares da médica.
O secretário de Educação de Pantano Grande, Ananias Matos de Freitas, afirma que a intenção da Prefeitura é preservar o local, mesmo restando apenas duas paredes em meio ao matagal. Por ser uma propriedade privada, não há possibilidade de desapropriar o local para torná-lo ponto turístico, mas pretende-se ao menos manter o que ainda resta em meio ao verde, onde, com certeza, transcorreram lindas histórias da vida de Rita Lobato e da família.
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