A comemoração dos 500 anos da Reforma Protestante chega ao ponto alto no mês de outubro, quando ocorre a celebração da data em que Martinho Lutero pregou na porta da Igreja do Castelo de Wittemberg, na Alemanha, em 31 de outubro de 1517, o pergaminho com as 95 teses que provocaram profundas modificações no cristianismo. A Igreja Evangélica Assembleia de Deus realiza neste sábado e domingo, em Santa Cruz do Sul, um seminário teológico sobre o tema. O encontro terá a participação dos palestrantes Douglas Baptista (de Brasília), Eliezer Morais (de Bento Gonçalves) e Levy Libarino (de São Paulo).
A Gazeta do Sul publicará durante as próximas semanas uma série de matérias alusivas à Reforma Protestante, com aspectos sobre as comemorações e entrevistas com religiosos e especialistas no tema. As atividades do seminário da Igreja Evangélica Assembleia de Deus para celebrar os 500 anos da reforma começam neste sábado às 14 horas e seguem durante a noite. No domingo, o evento vai recomeçar às 14 horas e se encerrará às 18 horas com a participação do Coral e Orquestra da AD de Santa Cruz do Sul, com entrada franca.
Entre os temas das plenárias estão os antecedentes históricos e as causas da Reforma Protestante, personagens precursores, biografia e teologia dos principais reformadores, princípios teológicos, formação protestante brasileira, reforma protestante e o pentecostalismo, movimento neopentecostal e as modernas indulgências e a importância do protestantismo na sociedade.
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Líder da Assembleia de Deus de Missão do Distrito Federal, doutor em Teologia Sistemática, mestre em Teologia do Novo Testamento, o pastor Douglas Baptista estará no encontro deste fim de semana. Comemorada por várias igrejas protestantes, a celebração dos 500 anos da reforma, em algumas, recebe a denominação de Reforma Luterana e, em outras, de Reforma Protestante. Baptista explica que essa divisão não é unanimidade entre os acadêmicos e os historiadores. No entanto, a base da comemoração é a mesma, ou seja, a afixação das 95 teses de Lutero.
Serviço
ENTREVISTA
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Douglas Baptista
Doutor em Teologia Sistemática
Gazeta do Sul – Este ano igrejas protestantes comemoram os 500 anos da reforma, algumas com a denominação de Reforma Luterana e outras como Reforma Protestante. A base da comemoração é a mesma? Quais as diferenças?
Douglas Baptista – Os pesquisadores em geral consideram a Reforma como um único evento que se desdobrou em diversos movimentos religiosos. As expressões igreja de tradição luterana, igreja de tradição reformada e igreja da tradição pentecostal são apenas nomenclaturas usadas para identificar esses desdobramentos. Por isso, a base da comemoração é a mesma, ou seja, a fixação das 95 teses de Lutero, em 31 de outubro de 1517. Paralelamente à Reforma na Alemanha, ocorria algo similar na Suíça (1522) com Ulrico Zuínglio. Lutero e Zwínglio estavam unidos em 14 pontos principais da fé, mas no 15º, a ceia do Senhor (eucaristia), discordavam se o corpo e sangue de Cristo estão fisicamente presentes no pão e no vinho ou se devem ser interpretados como um memorial. Contudo, ambos concordavam que tanto os clérigos quanto os leigos deviam participar dos elementos da ceia: o pão e o vinho. Na sequência, surgiram outros líderes do movimento, como o francês João Calvino (1530), que desenvolveu a doutrina da predestinação. O holandês Menno Simons (1535), que divergiu acerca do batismo infantil. O também holandês Jacob Armínio (1585), que protestou contra os dogmas da predestinação. Mais tarde, surgiu na Alemanha o movimento pietista, com o pastor luterano Philip J. Spener (1675), que pregava a necessidade de um cristianismo prático. Nesse mesmo período, também irrompeu na Inglaterra o puritanismo, que defendia a supressão das vestimentas sacerdotais, a retirada dos altares e até se opunha ao sinal da cruz. O Metodismo, com o inglês João Weslley (1739), que enfatizava a necessidade de santificação dos fiéis e a busca de um revestimento de poder. Por fim, nas últimas décadas do século 19, paralelo ao Movimento de Santidade americano, surgiu o pentecostalismo em diversas partes do mundo. Desse modo, todos os movimentos são originários da Reforma e todos são protestantes, quer sejam luteranos, reformados ou pentecostais.
Gazeta – Qual a relação da Igreja Assembleia de Deus na atualidade e ao longo da história com os demais movimentos protestantes?
Baptista – As Assembleias de Deus, quando surgiram no Brasil, em 18 de junho de 1911, enfrentaram perseguições por parte da Igreja Católica e de algumas denominações religiosas originárias da Reforma. Tais adversidades se deram principalmente no campo doutrinário. Hoje, passados 106 anos e com mais de 22 milhões de fiéis, as Assembleias de Deus se consolidaram no território nacional e incontestavelmente conquistaram o seu espaço. Por outro lado, acredito que a principal herança da Reforma Protestante idealizada por Lutero para com as Assembleias de Deus foi o resgate da doutrina da justificação pela fé. Essa doutrina, formulada por Lutero e aceita pelo movimento pentecostal, ensina que o pecador é justificado, absolvido da condenação do pecado, unicamente pela fé na graça divina. Assevera que a salvação é dom gratuito e imerecido de Deus aos pecadores e só pode ser recebida por meio da fé. Assim, as Assembleias de Deus mantêm com os luteranos um clima amistoso de respeito mútuo, consideração e parceria.
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Gazeta – A reforma também teve impacto em aspectos da educação, da economia e de outras áreas. Qual o principal legado do movimento e que deixou reflexos na realidade brasileira?
Baptista – Além da mais relevante de todas as contribuições, que foi o despertamento espiritual do nosso povo, destaco duas áreas que modificaram a vida em sociedade. Uma delas é econômica. Os trabalhadores, na Idade Média, eram considerados cristãos de segunda classe. Com a Reforma, sustentar a si mesmo e à família por meio do trabalho passou a ser uma dádiva divina que dignifica o homem. Por esse motivo, os protestantes foram estimulados a trabalhar e a não gastar o dinheiro com vícios ou efemeridades, e assim, alcançaram prosperidade financeira. A outra área é a educacional. O incentivo para a leitura da Bíblia promovido pela Reforma contribuiu para o combate ao analfabetismo em nosso País e despertou o interesse pela educação formal. Foi o protestantismo que estruturou a educação por meio da implantação de colégios de cunho confessional e também com a fundação de faculdades, seminários e universidades, retirando o nosso povo da alienação.
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