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Catmandu, uma palavra que soa mágica

O Durbar (praça central) de Catmandu é o terceiro e mais antigo reino nepalês. Ali nota-se o efeito destruidor dos recentes terremotos, com palácios e templos que resistiam desde o século 12 agora sendo completamente reconstruídos.

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Um dos locais que chamou minha atenção foi o templo-residência Kumari Ghar. Kumaris são meninas-deusas escolhidas por dezenas de atributos físicos e metafísicos. Tornam-se deusas vivas no hinduísmo e seriam a reencarnação da deusa Taleju. A Kumari de Catmandu é a mais famosa e venerada. Aguardei para vê-la no jardim central da casa onde mora e de onde só sai para procissões e festivais. A menina é sempre carregada, jamais tocando os pés no solo, até o dia de sua “aposentadoria”, que acontece quando chega à puberdade.

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Fiéis e alguns turistas se amontoavam no jardim interno da casa. De repente alguém gritou “Kumari!”. Uma criança de 5 ou 6 anos apareceu na janela central do último andar. Olhava desinteressadamente, parecendo um pouco chateada com aquela atenção toda. Após alguns segundos, desapareceu. Alguns fiéis ficaram ali, rezando, enquanto curiosos, como eu, se dispersavam. Essa controversa tradição é milenar e as famílias consideram uma honra ter uma de suas filhas como a escolhida.

Foto: Aidir Parizzi Jr.

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Conta a história que há 2,5 mil anos um príncipe nepalês chamado Sidharta abandonou uma rotina confortável para buscar o real sentido da vida. Em sua busca, alcançou o que chamou de iluminação, ou Nirvana, ao descobrir que a raiz de todo sofrimento humano está no desejo. Tornou-se o Supremo Buda, o desperto. Essa iluminação pode ser comparada à busca pelo alto, ou por aquilo que o mundo real não consegue oferecer. As grandes religiões monoteístas, por exemplo, chamam esse objetivo de paraíso, Reino de Deus, Pleroma etc. Cada denominação, à sua maneira, simboliza um estado de plenitude, de luz e de conhecimento.

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A religião é consequência pura da natureza humana e, como tal, encontra pontos comuns, seja qual for a denominação. Infelizmente, diferenças na forma, e não no conteúdo, já fizeram correr rios de sangue pelos quatro cantos do planeta.

Na última noite, caminho por horas pelas ruas estreitas, lotadas de pessoas e mercadorias, em um espetacular festival de cores e simpatia. Pela primeira vez, parece que entendo por que os povos destes países parecem não ter sido alvo direto do cristianismo. A mensagem cristã de amor e compaixão pode ser de alguma forma redundante por ali. Mesmo (ou quem sabe por serem) tão sofridos, carregam consigo solidariedade, serenidade e alegria inigualáveis.

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Do topo de um prédio do Durbar, encerrei minha visita a Catmandu com uma saborosa cerveja local: Everest.

No voo de retorno, um nepalês me aponta o ponto mais alto do planeta. O Everest parece só mais um pico misturado a tantos outros. A cordilheira do Himalaia abriga dez das 14 montanhas da Terra com mais de oito mil metros – oito delas ficam no Nepal.

Espero voltar um dia para conhecer mais da beleza natural do país e caminhar pelas trilhas montanhosas da região, longe da poluição da capital, e mais perto da alma dos nepaleses.

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Aidir Parizzi Júnior – Natural de Santa Cruz do Sul, é engenheiro mecânico e reside no Reino Unido. É diretor global de suprimentos para uma multinacional britânica que atua no fornecimento de sistemas de controle e segurança para usinas de geração de energia, usinas nucleares e indústria de petróleo, gás natural e petroquímica.

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