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Casos de HIV crescem na região; Santa Cruz tem o maior número de pacientes em atendimento

O Vale do Rio Pardo teve cerca de 115 diagnósticos de pessoas com o vírus HIV durante o ano passado. Pelo menos, este foi o número de novos pacientes da região que procuraram atendimento no Centro Municipal de Atendimento à Sorologia (Cemas) em Santa Cruz do Sul em 2019. Em 2018 foram 92 novos casos e em 2017 haviam sido 150. Além do número alto, os profissionais se preocupam com a alta incidência entre os jovens, na faixa dos 20 anos.

No entanto, o número não é fixo, já que algumas pessoas são transferidas, param de aderir ao tratamento ou morrem, em decorrência da doença ou por causas diversas. “Pacientes que têm uma boa adesão se mantêm vivos, alguns estão em tratamento há 15 ou 20 anos. A aids é uma doença crônica que é grave, mas tem tratamento. Mas não podemos descuidar ou banalizar, já que a medicação antirretroviral é uma química que afeta os outros órgãos. O tratamento constante tem efeitos colaterais no coração e no fígado”, explica a assistente social Maria Cristina da Rosa Afonso.

Os números na região assustam: são mais de 1,4 mil pessoas em tratamento atualmente. O maior número de casos é em Santa Cruz do Sul. No mês de dezembro foram entregues mil coquetéis, dos quais 70% são para moradores do município. Em seguida no ranking, vêm Candelária, Rio Pardo e Pantano Grande, que também possuem números consideráveis. Vera Cruz, Vale do Sol e Sinimbu ficam ao fim da lista.

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Números do Ministério da Saúde apontam mais de 900 mil casos no país, o que constitui uma epidemia, especialmente entre homens jovens de 20 a 39 anos. O alerta é para quem convive com a doença sem saber, número estimado em 135 mil no país. “É uma doença invisível, muitas pessoas não sabem que têm a doença no nosso município. Pensam que é a doença do outro, que nunca vai afetar a sua família, ou que usar preservativo não é para elas.” Conforme Maria Cristina, o Rio Grande do Sul lidera o ranking de novos casos ao lado do estado de Roraima, há mais de uma década.

Além da prevenção, a forma mais eficaz de evitar o contágio é fazer o teste rápido, disponível em todas as unidades de saúde. “Não é preciso agendar, nem consultar com o médico e dura apenas dez minutos. Além do HIV, o teste aponta a presença de outras doenças como a sífilis, hepatite B e hepatite C”, conta a assistente social. O vírus se instala no corpo sem mostrar sintomas por pelo menos cinco anos. Durante este período, a pessoa pode infectar pelo menos outros três parceiros e a epidemia vai crescendo. Com o resultado do teste, é possível buscar tratamento mais cedo para tratar a doença e não ter os sintomas.

Aids e HIV
HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Ter o HIV não é a mesma coisa que ter aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção.

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Segundo Maria Cristina, com o tratamento o objetivo é que o paciente fique com a carga viral indetectável, que é quando a combinação de medicações impede a reprodução do vírus no corpo, deixando-o “dormente”. Nessa fase do tratamento, a pessoa volta a ter uma melhor condição de saúde e a possibilidade de transmitir o vírus é praticamente nula.

Campanhas de prevenção
O Centro Municipal de Atendimento à Sorologia tem cerca de 20 campanhas anuais orientadas pelo Ministério da Saúde, sendo as principais no Carnaval, Dia da Mulher, Dia dos Namorados, Oktoberfest e no dia 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids. Além de palestras em empresas e escolas, a equipe possui material educativo, como folders e distribuição de preservativos. Informações podem ser obtidas pelos telefones (51) 3715 6368 e (51) 3711 8485 ou pelo e-mail cemas@santacruz.rs.gov.br.

Estima-se que em torno de 135 mil pessoas no país possuem a doença sem saber

Novos medicamentos
Profilaxia Pós-Exposição (PEP): é o uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas após terem tido um possível contato com o vírus HIV. Deve ser iniciado em até 72 horas e durante 28 dias. Está disponível em Santa Cruz e é um direito garantido, assim como a pílula do dia seguinte. O interessado passa por um atendimento médico antes de receber a medicação.
Profilaxia Pré-Exposição (PrEP): é o uso preventivo de medicamentos antes da exposição ao vírus, diminuindo a probabilidade de infecção pelo HIV. O público prioritário são as pessoas que concentram o maior número de casos de HIV no país: gays e homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans, trabalhadores do sexo, dependentes químicos, população privada de liberdade e casais sorodiscordantes (quando uma pessoa está infectada pelo HIV e a outra não). A opção não está disponível na região, apenas em Porto Alegre, que é uma das 22 cidades brasileiras com a medicação.

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“Para mim não foi o fim, foi um recomeço”
Foi aos 22 anos que Silvana* descobriu que carregava o vírus. Na época, residindo em Encruzilhada do Sul, ela havia feito exames em Porto Alegre. “Nunca imaginei que tivesse”, contou. O parceiro à época estava com a doença já avançada e, por não fazer o tratamento, acabou falecendo em 2004. Paciente do Cemas desde então, hoje aos 42 anos, ela aprendeu a lidar com os obstáculos físicos e principalmente com o preconceito decorrente da falta de informação. “Vejo tantas pessoas falando bobagem, de que sentar no mesmo banco pega, ao abraçar, compartilhar o chimarrão ou usar o mesmo copo e talher”, conta.

A modista e costureira conta que as primeiras medicações tinham muitos efeitos colaterais, mas foram evoluindo. No começo a opinião dos outros incomodava. “Eu ficava chateada quando alguém tinha preconceito, mas aprendi que não tenho que ser aceita por todo mundo, então fico perto das pessoas que me aceitam.” O convívio com outros pacientes do Cemas também foi um alento e ofereceu a oportunidade de ajudar outras pessoas com o vírus.

“Tem muitas pessoas que ficam depressivas, acham que é o fim da vida. Para mim não foi o fim, foi um recomeço. Eu bebia e fumava, depois que descobri a doença comecei a me cuidar mais. Faço caminhadas, vou na academia e me sinto muito melhor hoje.” Mesmo assim, ela reforça que o cuidado para evitar a contaminação, principalmente com os jovens, é essencial. “A gente quando é jovem pensa que é imortal, mas uma vez contaminado é para sempre.” Silvana não esconde ser soropositiva de amigos e familiares, e jamais ocultou isso dos parceiros quando namorou. O atual marido, com quem está há cinco anos, foi uma das pessoas que a ajudou a perder o preconceito com si mesma. “Desde o começo eu sempre tive bom humor. Eu tinha dois caminhos, poderia ficar em casa chorando e me lamentando ou ir à luta. E eu escolhi lutar.”
*Nome fictício

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