Uma operação da Polícia Civil envolvendo 30 agentes foi deflagrada na manhã desta terça-feira, 30, em Encruzilhada do Sul. Foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão no Centro da cidade, em duas sedes de uma instituição financeira e na residência de um casal, que administra o estabelecimento. O homem e a mulher, de 37 e 33 anos, respectivamente, são investigados pela prática de crimes de estelionato, falsidade ideológica e falsificação de documentos particulares.
Policiais da Delegacia Regional e da Draco, ambas de Santa Cruz do Sul, e também da Brigada Militar de Encruzilhada do Sul, participaram da abordagem. De acordo com a delegada Luana Medeiros, titular na DP de Encruzilhada do Sul e que coordenou a operação, foram apreendidas provas das falsificações realizadas, os computadores utilizados, telefones celulares e o carro de luxo dos investigados, uma camionete Nissan Frontier, avaliada em R$ 150 mil.
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Duas armas e 26 munições também foram apreendidas pelos agentes na casa dos pais da investigada. Além disso, 20 contas bancárias foram bloqueadas e as atividades da financeira foram suspensas. Conforme apurou a delegada Luana Medeiros, que assumiu a DP de Encruzilhada há sete meses, após cinco anos sem delegado titular respondendo pelo município, comentários sobre as ações do casal iniciaram assim que ela chegou ao município.
“Logo comecei a ouvir os boatos que circulavam na cidade, dando conta de que uma família, dona de uma instituição financeira, aplicava golpes em idosos e em pessoas humildes com baixa instrução. Resolvemos então investigar melhor. Analisei novamente inquéritos policiais que haviam sido arquivados e entendi que algumas investigações deveriam ser reabertas”, comentou a delegada.
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Outros 19 procedimentos foram instaurados a partir do início das novas investigações. “Aos poucos, entendemos como os criminosos agiam. Verificou-se que, de posse dos dados pessoais das vítimas, os quais conseguiam de maneira ilícita, os investigados acessavam as informações bancárias, bem como a margem consignável que elas possuíam em suas aposentadorias”, explicou Luana.
Desta forma, a dupla realizava empréstimos não consentidos em nome das vítimas, por meio da falsificação das assinaturas nos contratos ou em procurações, ou mesmo através de engodos, tais como dizer aos idosos que haviam ganhado um “prêmio” e, para que o recebessem, deveriam assinar um recibo – o qual era, na verdade, um contrato de empréstimo em branco, a ser, posteriormente, completado pelos criminosos.
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Idosa teve prejuízo de R$ 225 mil
Conforme apurado durante as investigações, outra maneira dos criminosos agirem era fazendo com que as vítimas assinassem os contratos sem saber do que se tratava. “Não foram poucos os casos em que, em meio a contratos lícitos, consentidos pelos clientes, os investigados colocavam outros documentos para serem assinados, fazendo com que as vítimas firmassem outros empréstimos, esses sem ter vontade. Por meio desse tipo de fraude, teve uma vítima idosa que chegou a sofrer um prejuízo de cerca de R$ 225 mil”, explicou Luana Medeiros.
Em geral, as vítimas notavam que suas aposentadorias estavam vindo em valores bem abaixo do que deveriam e, após retirarem um extrato do INSS, percebiam a inclusão de inúmeros empréstimos, por elas não consentidos. Segundo a delegada, muitos idosos sofreram desde abalos psíquicos, sem dormir bem à noite, devido ao nervosismo, até graves dificuldades financeiras.
“Houve quem não pudesse, ao final da vida, sequer comprar os remédios de que necessitava.” O nome da operação, chamada de “Audácia”, deve-se ao fato de que, enquanto cometiam crimes contras as pessoas, os investigados ostentavam uma vida de glamour, com festas e viagens caras, veículos de luxo, diversos imóveis e uma mansão no Centro da cidade.
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Investigada recebia auxílio emergencial sem necessidade
Os investigados cometiam as infrações penais há mais de 10 anos na cidade. Chegaram a aplicar mais de 100 golpes em idosos e analfabetos, utilizando-se da instituição financeira, que tem aparência lícita. Durante o cumprimento dos mandados na manhã desta terça-feira, 30, mais uma possível forma de estelionato foi descoberta pelos investigadores.
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Ao ser localizada a carteira de trabalho da investigada, percebeu-se ter sido assinada a demissão dela pelo seu marido, o dono da instituição financeira. Testemunhas, no entanto, são uníssonas ao afirmar que a infratora continua trabalhando diariamente na função de gerente do estabelecimento. “Verificou-se que ela está recebendo auxílio emergencial devido à Covid-19. Em razão dos indícios, esse fato será encaminhado à Polícia Federal, devido à atribuição”, explicou a delegada Luana.
Os nomes dos investigados não foram revelados pelas autoridades policiais. Embora tenha representado pela prisão preventiva da dupla, o Poder Judiciário entendeu que, pela condição de pandemia da Covid-19, que restringe prisões para crimes não violentos, o pedido foi negado. “Na operação, conseguimos fazer uma grande coleta de provas, inclusive contratos já com a assinatura das vítimas, prontos para serem fraudados futuramente”, finalizou a delegada Luana Medeiros.
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