Passava um pouco das 7 horas da manhã dessa terça-feira, 24,, quando uma equipe da Polícia Federal (PF) de Santa Cruz do Sul adentrou um imóvel de luxo na Rua Riachuelo, Bairro Frota, em Cachoeira do Sul. Em um dos cômodos, que mais parecia um estúdio de gravação, havia uma dupla de ring lights, acessórios usados para melhorar a iluminação de vídeos, normalmente gravados para as redes sociais.
Em outra dependência da residência, computadores monitoravam investimentos realizados em sites de apostas. O detalhe é que, segundo a PF, esses investimentos eram feitos por uma empresa cachoeirense com o dinheiro de clientes que acreditavam estar investindo no mercado, sob a promessa de vantajosos retornos financeiros.
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Uma investigação traçada em sigilo pela PF de Santa Cruz culminou nessa terça na chamada Operação O Dobro ou Nada, que contou com o apoio da Polícia Civil de Cachoeira do Sul. Os investigadores identificaram um jovem casal, ela de 24 anos e ele de 28, como proprietários dessa empresa. O delegado Mauro Lima Silveira, chefe da PF de Santa Cruz, participou da abordagem em Cachoeira e detalhou os bastidores da investigação.
“A gente acredita que as pessoas estavam investindo dinheiro sem saber exatamente naquilo que estava sendo aplicado por essa empresa, que não tem autorização para trabalhar no mercado financeiro”, comentou o chefe da PF de Santa Cruz. “Nas buscas, identificamos que uma das formas de investimento feitos pela empresa era em sites de apostas, onde o elemento sorte é o preponderante, não há relação com o mercado financeiro”, complementou.
Ainda durante a operação, foram executadas ordens judiciais para sequestro, restrição de circulação e transferência de veículos pertencentes aos investigados, bem como o bloqueio de valores em contas bancárias. “Em sites de jogos hospedados fora do Brasil, eles realizavam apostas na valorização ou desvalorização de determinadas moedas, podendo ganhar ou perder, de acordo com a oscilação da moeda”, explicou o delegado Mauro.
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Investigados movimentaram R$ 1 milhão
A investigação teve início em dezembro de 2022, a partir de contatos que a PF recebeu de moradores de Cachoeira do Sul informando que estavam desconfiados da forma de trabalho da empresa. O casal anunciava em redes sociais, com fotos e vídeos produzidos, oferecendo oportunidades de investimento e prometendo retorno do capital aplicado em até três meses.
“Identificamos uma provável operação fraudulenta dessa empresa. O retorno seria de 80% a 180% do valor investido, dependendo do período que permanecesse aplicado, o que é muito fora daquilo que o mercado financeiro trabalha e oferece”, salientou Silveira. A PF observou que a entrada de novos clientes é o que dá suporte ao pagamento dos primeiros “investidores”, com características de uma “pirâmide financeira”.
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A Polícia Federal estima que, somente no último semestre de 2022, os investigados tenham movimentado ilicitamente mais de R$ 1 milhão e parte dos valores tenha sido utilizada na aquisição de veículos de luxo. Por enquanto, o casal investigado permanece em liberdade. Os nomes dos dois e o da empresa foram mantidos em sigilo pela PF.
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A Gazeta do Sul apurou que o nome da empresa é Connect Money. Conforme o delegado Mauro Lima Silveira, os crimes investigados são contra o sistema financeiro nacional, contra a economia popular, estelionato, pirâmide financeira e organização criminosa.
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As suspeitas devem ser confirmadas a partir de perícias no material apreendido durante a operação, com análise de dados extraídos de celulares e computadores. “Também estamos buscando identificar eventuais clientes que foram ou possam ser lesados com a não devolução dos valores aplicados. O casal investigado provavelmente será indiciado, assim que for encerrada essa etapa de análise do material apreendido”, finalizou o delegado Mauro Lima Silveira.
Nome da operação
O nome da operação remete ao fato de que os investigados oferecem oportunidades de investimentos com promessa de retorno de 100% (“o dobro”) do capital aplicado. Todavia, era questão de tempo para que a empresa deixasse de pagar seus clientes (“ou nada”), o que é característica de toda pirâmide financeira. O golpe centenário já levou milhares de pessoas à falência e até ao suicídio. É um modelo comercial no qual o retorno para o investidor vem principalmente da adesão de novos membros ao negócio, e não necessariamente da venda de algum produto ou serviço.
O nome já explica o seu funcionamento: a base de participantes precisa ser cada vez maior para sustentar os que estão acima. Na maioria das vezes, as vítimas caem no golpe da pirâmide financeira sem saber do que se trata, pensando que estão entrando em um negócio legítimo. Atraídas por promessas de ganhos altos e rápidos, “investem” um valor inicial e são estimuladas a captar mais participantes.
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