O que parece ser apenas um amontoado de coisas velhas para alguns é riqueza de inestimável valor para outros. E essa comparação, muitas vezes, é feito por pessoas de uma mesma família, cujas origens são iguais. Nesse contexto, Cenilo e Valita Wrasse, ambos com 68 anos, enquadram-se no grupo daqueles que preservam objetos antigos e agem como legítimos guardiões de relíquias.
O casal de aposentados mora em Vale do Sol, a 12 quilômetros da entrada do município e a 34 quilômetros de Santa Cruz do Sul. Visivelmente emocionados, eles mantêm sob seus cuidados duas camas e dois baús, além de um cachimbo e um moedor de pimentas.
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Estes foram trazidos por Ricardo Wrasse, bisavô de Cenilo, quando da sua vinda da Alemanha para o Brasil. “O meu bisavô veio com dois irmãos mais novos para o Brasil. Ele se instalou aqui em Vale do Sol (antigo Trombudo), um em Cachoeira e outro na região de Rio Pardo. Meu avô contava que os três vieram solteiros e que haviam deixado os pais na Alemanha”, comenta.
Foi também o bisavô de Cenilo quem construiu as camas e os baús, até hoje utilizados por ele e a esposa Valita. “Foi tudo feito em madeira de lei. Ele fez as duas camas de solteiro. Elas eram curtas e estreitas, nas medidas dele, e há alguns anos eu restaurei e ampliei para casal”, detalha Cenilo.
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Os objetos, conforme revela, foram fabricados por seu bisavô, com a ajuda de um tio-avô. “Meu tio-avô, Arvino, ajudou ele. Eles tinham uma marcenaria (atividade iniciada por volta de 1930) e conciliavam com o trabalho na lavoura”, acrescenta. O negócio também teve, por alguns anos, a participação de Ernesto, avô de Cenilo, que depois se afastou por causa de desentendimentos entre os irmãos.
A fabricação da própria cama para descanso do corpo após horas de exaustivo trabalho revela, especialmente para Cenilo, a força que precisou ser desprendida por seus antepassados e os demais imigrantes que vieram para o Brasil. “O meu bisavô veio para cá e começou a abrir lavouras e estradas. Primeiro, comprou uma carroça para transportar fumo e ‘palhadas’ para Santa Cruz do Sul. Ele ia com sete mulas (seis puxavam e uma ficava de reserva) e demorava uns oito dias para ir e mais oito dias para voltar”, relembra.
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Ao se estabelecer de fato naquela região, o bisavô de Cenilo se casou e teve sete filhos. Destes, quem guardou as camas e os baús, igualmente fabricados na marcenaria da família, foi seu avô Ernesto. “Meu avô foi o guardião disso. Depois passou para o meu pai, Martin Luther, que era o terceiro filho mais velho. Dos seis irmãos, só o meu pai se interessou em manter preservado”, observa, orgulhoso. De geração em geração, Cenilo adianta que seu filho também demonstra interesse de preservar os objetos.
Hoje as camas e os baús são utilizados pela família e representam, sobretudo, a superação constante daqueles que viveram em tempos nos quais os recursos materiais eram escassos. “É importante a gente valorizar. A gente não sabe o que vem para o futuro e precisa preservar o que os nossos antepassados também já cuidaram”, considera Cenilo.
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