Lissi Bender

Casa Pueblo em Punta Ballena

Acredito que a alma de minha família é provida de asas – viajar é uma de nossas paixões. Não costumamos viajar em excursões; isto nos possibilita mais liberdade e mergulhos mais profundos na cultura de cada lugar que conhecemos. Uma de nossas rotas preferidas é a Europa. Nosso ponto de chegada e lugar ancoradouro tem sido, há muitos anos, a Alemanha. Lá alugamos moradia de férias em Tübingen.

De lá, vamos desvendando diferentes regiões e países, outras culturas. Neste ano, parte da família passou uma temporada em Maceió, meu filho Carlos viajou pelo Nordeste e pelo Centro-Oeste de nosso país. Grace e eu estivemos por dois meses na Alemanha. Minha filha vivenciou com o pai uma temporada em Mallorca, no arquipélago dos Baleares, e depois participou de um evento internacional de Yoga no sul da Itália, em Puglia, a convite dos organizadores.

Agora, em final de outubro, realizamos o sonho de Grace de vivenciar seu aniversário no Uruguai, no Club Hotel Casa Pueblo. A Casa Pueblo se localiza em Punta Ballena – um pedacinho do Mediterrâneo no Uruguai. Ela foi sonhada, projetada, desenhada pelo poeta, pintor e escultor Carlos Paéz Vilaró, nascido em Montevideo, em 1º de novembro de 1923.

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Por quatro dias, fomos hóspedes da Casa, e remanesce em nós o desejo de voltar. A Casa Pueblo é uma obra de arte. Sua arquitetura foi inspirada em Santorini, ilha ao sul do mar Egeu, na Grécia e, acreditem, Vinicius de Moraes inspirou-se na Casa Pueblo para compor a canção A Casa, um presente para as filhas de Vilaró.

Grace em seu aniversário na Casa Pueblo, em outubro de 2022 | Foto: Acervo pessoal de Lissi Bender
Pôr do sol visto a partir do terraço do apartamento | Foto: Acervo pessoal de Lissi Bender

Quando o artista comprou o lugar, havia lá apenas um enorme penhasco, e tudo começou com uma pequenina casa feita de latas, junto do mar. Vilaró iniciou a obra em 1989, e sempre que Vinicius o visitava a encontrava acrescida de uma parte diferente da anteriormente construída. E isso teria sido inspiração para o poeta e cantor brasileiro compor a canção. Vocês lembram? “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…”.

O que mais nos chamou a atenção é que o complexo arquitetônico levou mais de 30 anos para ser construído. No ano exato em que terminou, em 2014, Vilaró faleceu. A Casa Pueblo foi incrustada num enorme rochedo, junto à enseada de Punta Ballena. Ela concentra hotel, restaurante, café e museu. Fica a uns 10 quilômetros depois de Punta Del Leste.

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Os apartamentos contam com amplos terraços individuais de frente para o mar, de onde se pode apreciar um divino pôr do sol. Os andares vão de zero – no alto do penhasco – até -9. É provida de um excelente restaurante, piscinas (uma térmica) e um belo gramado junto ao mar. Nos corredores, em forma de labirinto e em níveis, pedras do rochedo estão à mostra e os apartamentos são identificados por nomes de planetas, nomes de signos do zodíaco ou de aves da região.

Ao longo dos anos em que a obra foi sendo construída, Vilaró recitava lá diariamente um poema seu para os presentes, enquanto o sol se despedia. Esse ritual permaneceu vivo, mesmo após sua partida deste mundo – em todo entardecer, o esplendor do mergulho do sol no mar é acompanhado da voz de Vilaró recitando um poema seu, acompanhado de fundo musical.

E permanece também, guardada em nós, a magia do sol se deitando sobre o mar e dos recitais – uma vivência tocante que une a cultura com a Mãe Natureza. Deposito aqui um trechinho de um de seus poemas, que pode ser conferido no original e também na tradução.

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“Chau Sol…! Gracias por provocar nos una lágrima, al pensar que iluminaste también la vida de nuestros abuelos, de nuestros padres y la de todos los seres queridos que ya no están junto a nos otros, pero que te siguen disfrutando desde otra altura. Adiós Sol…! Mañana te espero otra vez. Casa Pueblo es tu casa, por eso todos la llaman la casa del sol.”

“Graças por provocar em nós uma lágrima, ao pensar que iluminaste também a vida de nossos ancestrais, nossos pais e a de todos os seres queridos que já não mais estão conosco, mas que te seguem desfrutando de outra altura. Adeus, sol…! Amanhã te espero novamente. Casa Pueblo é tua casa, por isso todos a chamam de a casa do sol.”

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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