Cartunistas lamentam a morte do cartunista Georges Wolinski, 70 anos, uma das vítimas do atentado ao jornal satírico francês “Charlie Hebdo” nesta quarta-feira, 7, e considerado um dos maiores nomes do gênero no país. Nascido na Tunísia em 1934, Wolinski mudou-se para a França aos treze anos. Durante os eventos de maio de 1968, fundou o jornal “L’Enragé”, juntamente com o caricaturista Siné – dando viés político a seus cartuns.
No atentado, ao menos dez jornalistas e dois policiais foram mortos na sede da publicação, em Paris. De acordo com a polícia, três homens fizeram disparos e depois fugiram em um carro dirigido por um quarto integrante do grupo. O jornal já sofreu ataques por publicar caricaturas de líderes muçulmanos e do profeta Maomé. Em 2011, a redação foi alvo de um incêndio criminoso após ter publicado uma série de caricaturas sobre Maomé. Cartunistas comentam a morte de Georges Wolinski:
Laerte: “Isso é um gesto, de uma agressividade e de uma violência absurdas. Eu continuo a favor da liberdade de expressão. Continuo achando que deve existir, mas que existe num mundo que também não pode ignorar um contexto de maioria religiosa e mexer com os dogmas daquela religião impunemente. É uma polêmica bastante ambígua, cheia de lados. Faço questão de levar todos esses lados em conta. Não acho que deve haver liberdade de expressão pra quem tá a fim de fomentar o ódio, o machismo, a homofobia e o racismo. Mas eu também sou a favor da liberdade de expressão -o humor sem liberdade de expressão morre. Não vi as charges que motivaram os ataques – não tenho como opinar sobre isso. Não posso dizer que foram eles [os chargistas] que provocaram o ataque. Tem que levar em conta as tensões crescentes no Oriente Médio, a direita ultracrescente na Europa.”
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Allan Sieber: “Para mim, é como se tivessem dado um tiro na cabeça de um Jaguar, um Drummond. É muita brutalidade. A gente vive num mundo brutal, mas tem vezes que a gente acha que está escolado e as coisas te surpreendem. Wolinski foi uma referência pra mim. Conheci o trabalho dele numa coletânea de quadrinhos publicada nos anos 1980 pela L&PM. Quando pus os olhos naquilo vi que o humor podia ser uma coisa ao mesmo tempo escrota e ultrasofisticada. O desenho dele também tinha essa coisa de variar entre o superchutado e rápido e o superrebuscado, com sombras, bem desenhado. O humor dele, dessa linha da “Charlie Hebdo”, tudo pelo humor, sem concessões, sem dúvida me inspirou muito.”
Arnaldo Branco: “Ele era um alento pra quem desenha mal. Embora desenhasse bem, ele subproduzia o traço dele de propósito, fazia um desenho meio tosco para ressaltar os aspectos cômicos da piada. É impressionante imaginar que ele morreu nas mãos de alguém que ele incomodou, e incomodou gente à beça, os comunistas, os direitistas, era uma metralhadora giratória. Ele morrer dessa maneira parece até um troféu de guerra para um cara que sempre foi tão combativo. Acho importante ressaltar o absurdo da situação. Não sei que causa é essa, que verdade é essa, que precisa se vingar de uma piada. Que causa tão fraca é essa que usa o assassinato contra uma piada.”
André Dahmer: “Dia triste para os que acreditam que a inteligência pode ser maior do que a violência. Wolinski e três dos melhores cartunistas da França estão mortos. Pessoas progressistas, vozes que falavam contra os desmandos da direita francesa inclusive. Wolinski é uma perda irreparável. Um cara que influenciou três gerações de desenhistas. Talvez o maior cartunista em atividade. Lamentável e incompreensível.”
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Caco Galhardo: “Wolinski era um dos gigantes do cartum, um dos caras mais legais. É uma perda absurda para o mundo dos quadrinhos -ele era um dos maiores. Mais do que quadrinista, era um cartunista assim nato, de mão cheia. Eu conheci pouco o Wolinski, mas ele era sempre uma influência, porque era o mais despirocado, o mais livre dos cartuns. Ele colocava essa coisa da liberdade dele nos seus cartuns. É uma coisa horrorosa, um atentado por causa de charge, de cartum. É uma violência sem precedentes, eu não me lembro de haver algo desta forma antes.”
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