Nessa quarta-feira, 24, outra publicação nas redes sociais alarmou moradores do Bairro Aliança. Segundo o relato, o motorista de um carro prata, com placas de Candelária, estaria rondando uma creche e observando as crianças. A atitude suspeita chegou a ser relacionada com a morte da menina Eduarda Herrera. O boato foi esclarecido na manhã de ontem, quando o motorista descrito procurou a Gazeta.
Manoel José Machado, de 48 anos, contou que esteve de fato nas proximidades da creche, mas é motorista do Uber e estava procurando uma cliente. Ela não apareceu e ele cancelou a corrida. “Eu até notei as pessoas me olhando, mas não dei bola. Eu estava procurando a moça que havia pedido a corrida”, contou.
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Assustado com a possibilidade de sofrer retaliações, Machado chegou a procurar a Delegacia de Polícia na manhã de ontem para esclarecer o caso. “Realmente tem que se precaver. Meu guri tem 18 anos, eu me preocupo com as crianças dos outros. Mas não dá pra sair falando sem ter certeza.” O motorista se mudou para Santa Cruz há pouco menos de dois meses, com a família, em busca de melhores oportunidades de trabalho. Além do aplicativo, ele ganha a vida fazendo fretes. Mas agora, depois dos boatos, diz que tem medo de sair para trabalhar. “Muitas vezes um inocente paga pelo boato”, desabafou.
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Além do alarme falso sobre o condutor do carro prata, outra mensagem que também circula é de um segundo motorista que estaria rondando o Bairro Santuário. No entanto, segundo a titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Lisandra de Castro de Carvalho, nenhuma denúncia foi registrada na Polícia Civil. “Quando há alguma situação de perigo concreta, visualizada por alguém, essa pessoa deve procurar a polícia. Aqui nós trabalharemos a informação, mas não vamos investigar uma situação a partir de boatos veiculados em redes sociais, sem que as pessoas venham, pessoalmente, nos fornecer os dados”, afirmou.
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“Não podemos ir atrás de histórias inventadas e correr atrás do nada. Mas não estamos dizendo que não tomaremos nenhuma providência caso seja necessário, caso haja algo concreto.” Lisandra lembrou ainda que, além de atrapalhar investigações policiais, os boatos podem resultar em prejuízos para as pessoas envolvidas neles, como aconteceu com Israel Rech na época do caso Francine. “Foram boatos direcionados a uma pessoa e que causaram danos morais e materiais. Tudo em função de boato, fofoca.”
Desde que o corpo da menina Eduarda Herrera, de 9 anos, foi encontrado em Alvorada, no início da semana, mensagens em redes sociais e grupos de WhatsApp alertando para supostas tentativas de sequestro de crianças circulam não somente em Santa Cruz, mas em diversos municípios do Estado. Segundo a Polícia Civil, alguns relatos de supostas tentativas de sequestro chegaram a ser registrados, mas nenhum foi confirmado.
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Em Canoas, um homem foi apontado por internautas como suposto autor da morte de Eduarda e teve nome, foto e endereço divulgados nas redes sociais. À imprensa da Capital, ele contou que recebeu 200 ligações no telefone celular, das quais cerca de 150 eram ofensas graves, com ameaças de morte a ele, sua esposa e familiares. Preocupado com o fato de ter o endereço da casa divulgado, o homem ligou para a Brigada Militar e explicou a situação. Em seguida, foi para a delegacia escoltado por uma viatura. A Polícia Civil confirmou que não há suspeita contra ele.
“Já tivemos notícias também em Frederico Westphalen e São Borja, de que pessoas estariam observando crianças para fins de sequestro. É importante que as pessoas tenham cuidado na proliferação dessas informações, desse pânico social, para que a gente não tenha retrabalho, como está acontecendo no caso da Eduarda”, afirmou o chefe da Polícia Civil no Estado, Emerson Wendt.
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O delegado reforçou que é importante as pessoas ficarem atentas, mas sem causar situações de pânico ou calúnia com informações falsas. “É natural que as pessoas circulem nas cidades, passem próximo a escolas e locais com movimentação, como praças onde crianças podem estar brincando. E nem sempre pode ser, realmente, uma ameaça a alguém”, lembrou.
Outra vítima de boatos no Estado é uma técnica de enfermagem que trabalha como socorrista voluntária em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Nas redes sociais ela foi apontada, terça-feira, como sequestradora de crianças a serviço de uma quadrilha de tráfico de órgãos. Temendo represálias, ela e a família tiveram de se mudar.
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