O carnaval sempre se caracterizou pela alegria, pela descontração, pelo deboche e, sobretudo, pela desconstrução e ruptura de regras e etiquetas sociais. Entre fantasias, adereços e alegorias individuais e grupais, o destaque ficava, especialmente, à conta das músicas, ricas em descrever aspectos caricaturais.
Bem, isso é coisa do passado. Hoje vigora a onda do politicamente correto, não só no Brasil, no mundo todo. Resultou que restaram “lacradas e proibidas” algumas palavras, algumas expressões e músicas que sugerem preconceitos sociais e comportamentais.
Interpretadas por músicos e cantores famosos, algumas dessas músicas são históricas e entraram fortemente no imaginário e na memória popular. A maioria relacionada à mulher, de viés sexualizado, estético e machista.
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Sem deixar de mencionar também aquelas que evidenciam formas de racismo e o preconceito contra gays e lésbicas, grupo hoje politicamente ampliado e contextualizado pela expressão LGBTQIA+. Vejamos algumas músicas e seu “crime atual”. A interpretação é livre e a cargo do leitor.
Ai, que saudades da Amélia (1942), de Mário Lago (1911-2002). No dizer do autor, Amélia, a ex-companheira, comparada com a atual, seria uma “mulher de verdade e que não tinha a menor vaidade. Amélia é que era mulher de verdade!”.
Teu cabelo não nega (1931), de Lamartine Babo (1904-1963). “O teu cabelo não nega, mulata/Porque és mulata na cor/Mas como a cor não pega, mulata/Mulata, eu quero o teu amor. Tens um sabor bem do Brasil/Tens a alma cor de anil/Mulata, mulatinha, meu amor/Fui nomeado teu tenente interventor…” Há outros exemplos históricos. Nega do cabelo duro e Veja os cabelos dela.
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Cabeleira do Zezé (1964), de Roberto Faissal (1928-1988) e João Roberto Kelly (1938). “Olha a cabeleira do Zezé. Será que ele é? Parece bossa-nova, parece Maomé, parece transviado, mas isso eu nao sei se ele é.”
Maria Sapatão (1981), de Joao R. Kelly (1938). “Maria sapatão, sapatão, sapatão. De dia é Maria, de noite é João. O sapatão está na moda/o mundo aplaudiu/é um barato, é um sucesso/ dentro e fora do Brasil”. A letra se resume a essa frase. A marchinha mais tocada em 1981.
Bem, isso quanto ao carnaval. Mas seriam imunes à crítica do politicamente correto o rock, o funk, o rap e o forró, por exemplo? E seus autores e suas músicas? Entre outros, quatro exemplos conhecidos. Raul Seixas e seu Rock das aranhas, Zeca Pagodinho e sua Faixa amarela, Chico Buarque e seu Com açúcar e com afeto e os saudosos Mamonas Assassinas e seu Robocop Gay.
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Entre ritmos regionais e nacionais, e para além de marchinhas e frevos, há dezenas de exemplos de sul a norte do Brasil Ironia e duplo sentido são suas marcas. Músicas e obras literárias, basicamente, são a memória social e histórica de um povo. São retratos de uma época, de um tempo!
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