Bem além de muita diversão, o Carnaval é conhecido como a maior festa popular do mundo. O Carnaval é cultura e reúne costumes e estilos de todos os cantos do território brasileiro. Em Santa Cruz do Sul, uma terra de misturas trazidas por cada um que fez esse chão ser o que é, essa festividade também é um momento de ressaltar essa riqueza cultural. Tem-se conhecimento de que, no final do século 18, manifestações carnavalescas já faziam parte do verão santa-cruzense, inclusive com desfiles pela área central da cidade.
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Atualmente, cinco escolas de samba compõem a Associação de Entidades Carnavalescas de Santa Cruz do Sul (AECSCS): Acadêmicos do União, Imperadores do Ritmo, Imperatriz do Sol, Império da Zona Norte e Unidos de Santa Cruz. Santa Cruz conta também com o Bailinho da Borges, festa que terá sua terceira edição neste sábado, 11, e já é conhecida e esperada por muitos. O Santafolia começou na sexta-feira e segue até o dia 25, com o desfile das escolas de samba de Santa Cruz, na Marechal Floriano.
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Os registros mais antigos do Carnaval em Santa Cruz do Sul são datados de 1896. Em sua coluna na Gazeta do Sul, em publicação de 2013, José Augusto Borowsky conta que, em 1826, o jornal Kolonie já registrava convites para bailes carnavalescos.
Já por volta de 1900, conforme pesquisa de Borowsky, Santa Cruz do Sul passou a realizar as chamadas “brincadeiras de rua”, que eram comandadas pelos blocos Bam-Bam-Bam, Filhos do Inferno e Turunas. “Eles desfilavam pelo Centro, ainda em vias sem calçamento, fantasiados e com acompanhamento de músicos, com violões, violinos e instrumentos de sopro”, descreve.
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Naquela época, os desfiles eram realizados durante o dia, para que os foliões aproveitassem a luz. “Devido à precariedade da iluminação pública, os desfiles ocorriam no final da tarde, pelo Centro e nas ruas próximas. Uma das atrações eram os carros alegóricos puxados por cavalos”, diz Borowsky. Os anos passaram e novos blocos foram surgindo, agregando ritmistas e, assim, transformando-se em escolas de samba.
Também em sua coluna, em 2012, Borowsky traz outras curiosidades acerca das comemorações carnavalescas em Santa Cruz. De acordo com sua pesquisa, os primeiros desfiles contavam mais com a participação de homens, pois as mulheres preferiam participar das festas em clubes. O bloco Bam-Bam-Bam, até 1925, tinha um homem como “rainha”. Os eventos mais famosos aconteciam na Ginástica, na Aliança e no Clube União.
Após vivenciar mais de 50 anos de carnavais, é agora, no dia 25 de fevereiro de 2023, que Adão Francisco Pedroso, de 73 anos, realiza um sonho: o de desfilar na Marechal Floriano, a principal via da cidade de Santa Cruz do Sul. É a primeira vez, pelo menos nas últimas décadas, que o desfile de Carnaval vai acontecer na rua que é também palco para desfile de outras variadas manifestações culturais, como Oktoberfest, Enart e Natal. “Meu desejo sempre foi esse. É uma festa popular, de rua, e a Marechal Floriano vai ficar lotada. É uma conquista para nós.”
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A escola de samba que ele representa é a Acadêmicos do União, da qual também é um dos fundadores. Neste ano, a Sociedade Cultural e Beneficente (SCB) União comemora o centenário e a Acadêmicos do União faz 50 anos. São duas importantes datas celebradas da melhor forma, com a retomada da festa de Carnaval, que é a mais clássica das comemorações do clube.
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Pedroso faz parte de toda essa história e viveu o Carnaval de Santa Cruz como poucos. “Eu era vizinho do União, meu pai foi presidente em 1934, minha mãe foi rainha em 1935. E eu comecei em 1965, era cobrador de mensalidades, caminhava pela cidade cobrando, e depois me tornei secretário. Em 1966, o União foi registrado no Ministério da Educação e da Cultura”, relembra.
Antes disso, quando era mais novo, Pedroso participava do Carnaval Bumba Meu Boi, também do União. “Lotava de gente nas avenidas”, conta, orgulhoso. São 50 anos participando do Carnaval de forma ativa, mas as histórias relacionadas à festividade são ainda mais antigas. Quando criança, com apenas 7 anos, Adão Pedroso quebrou o braço enquanto assistia a um desfile. “No Bumba Meu Boi havia os bonecos de boi, gorila e elefante. E o gorila abraçava a gurizada. Saí correndo para ver a atração, e uma senhora me empurrou e acabei quebrando”, recorda.
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Em 1969 os desfiles pararam, retornando em 1973, mesmo ano em que foi fundada a Acadêmicos do União. “Fizemos o Carnaval em 45 dias naquele ano.” Após, aconteceram mais pausas e nem sempre foi possível realizar os desfiles, assim como agora, em que as escolas de samba santa-cruzenses voltam às ruas após um longo intervalo desde o último evento, em 2016.
Um novo retorno aconteceu em 1978, ano de centenário do município de Santa Cruz do Sul. O samba-enredo, naquele Carnaval, tratava das diversas etnias que formam o município, e deu o título de campeã para a Acadêmicos do União. A escola fez de temas culturais o tópico principal de seus sambas-enredos. E os preparativos para o próximo dia 25 estão a todo vapor. Neste Carnaval, será o próprio clube o homenageado pelos seus 100 anos de história. “O tema será o centenário do União, e a velha guarda vai desfilar”, diz.
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Pedroso lembra e faz questão de mencionar João Carlos da Silveira, o Tio Carlos, que foi presidente do clube. “Ele foi uma referência para nós”, afirma. Contudo, o presente e o futuro da escola de samba estão garantidos, pois as novas gerações trabalham muito para isso. “Temos uma comissão de Carnaval formada por jovens que estão realizando um excelente trabalho nos eventos, com respaldo e participação da Diretoria Executiva.”
Além disso, o clube desenvolve o projeto social Águia Agito, iniciado em 2007 por jovens da época, que hoje fazem parte da escola de samba. “O mestre da bateria é o Douglas Poeta, que começou no projeto substituindo o mestre e professor Leonardo Schwengber. São o futuro da nossa Escola de Samba Acadêmicos do União e participam com muito amor”, finaliza.
Depois de dois anos sem poder realizar o famoso Bailinho da Borges, a festa retorna neste sábado ao centro de Santa Cruz do Sul, ocupando parte das ruas Borges de Medeiros e Marechal Floriano e também a Praça da Bandeira. Apesar de ser um evento criado há pouco tempo, que vai para sua terceira edição neste 2023, o Bailinho já conquistou os santa-cruzenses e visitantes de diversos municípios da região. A expectativa é receber aproximadamente 30 mil pessoas.
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O que poucos sabem, porém, é que o Bailinho nasceu de uma ideia formulada na capital gaúcha. Foi de Porto Alegre, com a realização do Bloco Maria do Bairro, já muito conhecido por lá, que Rafael Tombini, um dos idealizadores do Bailinho, trouxe a proposta. “É uma história que vem de 2007, quando fundamos o bloco em Porto Alegre. Foi o responsável pela retomada dos carnavais de rua, pois a partir dele começaram a surgir outros blocos e, posteriormente, houve a criação do circuito de carnaval de rua de Porto Alegre”, recorda.
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Em 2013, Tombini passou a morar em Santa Cruz e começou, aos poucos, a alimentar a ideia de também fazer um carnaval de rua na cidade do Vale do Rio Pardo. “Essa ideia ficou em banho-maria, até que em 2018 eu comecei a conversar com algumas pessoas aqui da cidade. E aí começou juntando os amigos, a Roberta Pereira, do Sesc; o secretário Edemilson.
Conseguimos organizar e realizar o primeiro Bailinho, que foi em 2019, e decidimos fazer na Borges porque acreditamos ser a rua mais privilegiada, não só por ser histórica, mas também porque os pubs, as cervejarias, se concentravam ali.”
O nome “Bailinho” foi escolhido, entre outros fatores, por remeter aos bailes carnavalescos do passado. Neste ano, após a pausa provocada pela pandemia de Covid-19, a retomada vem também com uma ampliação do espaço e a expectativa de grande público. “Montamos um projeto para a Lei de Incentivo à Cultura, que foi aprovado. E pela primeira vez conseguimos captar via patrocinador, que é a Mor, que também ajuda nas despesas”, explica Tombini.
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Edemilson Severo é o atual secretário de Administração de Santa Cruz. Na época da primeira edição, ele era secretário municipal da Cultura e foi um dos idealizadores do evento. Ele relembra como foram as primeiras propostas para a criação do Bailinho.
“A ideia inicial era fazer na esquina da Venâncio Aires e da Borges de Medeiros. Mas dei a sugestão de fechar a Borges, entre a Floriano e a Marechal Deodoro; afinal, é uma rua simpática, tem opções de gastronomia. Nós esperávamos receber 2,5 mil pessoas, e chegamos em 9 mil.” Na segunda edição, a expectativa era de repetir o mesmo público, mas ela foi superada e chegou a 17 mil pessoas.
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O secretário prefere não falar em números, mas afirma que, quando se cogita receber 30 mil pessoas, Santa Cruz do Sul e o Bailinho da Borges estão preparados. “Trabalhamos muito para isso. As forças de segurança estão integradas para fazer uma festa legal e em condições apropriadas para que se obtenha o resultado das edições anteriores, que foi zero ocorrências, sem nenhum conflito ou desentendimento.”
Para Severo, Santa Cruz está cada vez mais forte como um dos polos culturais do Rio Grande do Sul. “Temos a Oktoberfest, o Enart, eventos culturais no interior do município que são muito fortes; temos escolas de samba e movimentos como o Festival de Cinema. Então, realmente Santa Cruz está ocupando um espaço que gradativamente, através de várias lideranças, foi criado”, enfatiza.
Outro destaque, segundo o secretário, é a cultura de os moradores saírem e ocuparem espaços públicos. “Santa Cruz ama a rua, é a cidade que mais sai. É só olhar o movimento nas praças e nessa beleza em que se transformou nosso Centro.”
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