Segundo o delegado regional Luciano Menezes, o crescimento da facção Os Manos no Vale do Rio Pardo teve um momento bastante emblemático, que resultaria em muitos desdobramentos. “Para eles alavancarem o negócio, abriram um canal de compra de cocaína e crack direto do Paraguai, com um homem apelidado de Doutor. Buscaram comprar direto da fonte, não de atravessador de Novo Hamburgo como fazem hoje. Direto lá era mais barato, mas corria o risco de perder pelo caminho, porque o frete fica por conta do comprador.”
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Pagando para ver, em uma das encomendas, Chapolin e o grupo solicitaram 123 quilos de drogas embaladas em pacotes ao fornecedor Doutor, que viriam diretamente do Paraguai. No entanto, em 10 de dezembro de 2015, a carreta Scania R380 vermelha, onde vinha o entorpecente, foi parada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Naviraí, no Mato Grosso do Sul, a 250 quilômetros de Ponta Porã, que faz divisa com a cidade de Pedro Juan Caballero, do Paraguai. Em um compartimento falso, embaixo de 32 toneladas de milho, os agentes encontraram 70 tabletes de cocaína, que pesaram 71,1 quilos, e 50 de crack, que pesaram 52,7 quilos.
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O motorista de 32 anos foi preso. “Eu sei que essa droga era deles. Nessa época, nós tínhamos uma interceptação telefônica, e o Chapolin falava nos áudios que essa droga era o capital que eles tinham. Tentaram renegociar com o Doutor para pagar a perder de vista. Na época eles não tinham tanto dinheiro, hoje eles têm tentáculos”, disse Menezes. Os desdobramentos em Santa Cruz causariam repercussão. Primeiro, para recuperar o valor perdido, a facção iria extorquir donos de mercados de bairro, com a venda dos cigarros do Grupo R7 filter cigarretes, marca paraguaia que já foi apreendida no Brasil em cargas contrabandeadas.
“Passaram o 2016 e o 2017 ‘patinando’ para recuperar a perda. Foi quando o Chapolin decidiu fazer um capital de giro diferente. Foram para as vilas e disseram aos bodegueiros que o único cigarro paraguaio que era para ser vendido era o da facção, não podiam pegar de outros.” A ação, no entanto, gerou um efeito diferente. Os donos de mercados idôneos, com medo, passaram a abandonar a venda de qualquer tipo de cigarro, para evitar as extorsões. Foi quando Chapolin mirou outro grupo comercial na região, este sem nenhuma idoneidade.
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Ainda em 2017, conforme o delegado regional Luciano Menezes, Os Manos, por intermédio do seu líder máximo, decidiram agir como uma milícia na região. “Passaram a vender proteção para os bicheiros. Eles foram extorquidos e obrigados a darem dinheiro para a facção, que dizia que iria proteger os membros dos grupos de contravenção do risco de a facção Bala na Cara vir à região, tomar conta e gerar violência. Tudo papo furado”, afirmou Menezes.
Segundo ele, os bicheiros não entraram muito na conversa de Chapolin e seus comparsas. Foi quando ele decidiu agir de forma violenta. “Ele queria R$ 600 mil dos bicheiros, para diminuir do prejuízo que teve um ano e pouco antes, no carregamento perdido. Os bicheiros não deram, ou deram pouco, e ele mandou seus subordinados apressarem o passo. Ele descobriu quem tinha vínculo no esquema e mandou fuzilar as casas deles, em Santa Cruz.”
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Em três episódios em sequência, nos dias 24, 25 e 27 de setembro de 2017, duas casas foram alvejadas com disparos de fuzil calibre 556 e pistola 9 milímetros. Os dois primeiros ocorreram contra uma mesma residência, na Rua Capitão Fernando Tatsch, no Centro. Foram 27 estojos de fuzil apreendidos, após 38 tiros, no primeiro ataque; no segundo, mais uma dezena de disparos.
O terceiro atentado aconteceu na Rua Rui Barbosa, quase na esquina com a Rua Senador Pinheiro Machado, no Bairro Goiás. “Isso apavorou na época, porque a gente não entendia o que era”, salientou Menezes. Enrolado em uma pedra jogada em um dos imóveis, havia um bilhete com ameaças. O conteúdo nunca foi divulgado. A revelação do delegado Menezes à Gazeta sobre a motivação dos ataques pôs fim ao mistério iniciado na época.
O chefe regional da Polícia Civil revelou que a apuração dos disparos de fuzil nas residências foi um dos fios condutores da investigação que localizou, cerca de um mês depois, em 27 de outubro, no apartamento de um estudante de Engenharia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), um arsenal bélico com 36 armas da facção Os Manos, incluindo o fuzil FAL retrátil calibre 762 – preferido de Chapolin. Hoje essa arma compõe o arsenal da Polícia Civil.
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“Informações e investigações da época apontam que os bicheiros, com medo, repassaram cerca de R$ 500 mil em uma tacada só para a facção, em um encontro no estacionamento da Unisc, perto do bloco 18, no fim daquele ano”, explicou o delegado Luciano Menezes. A entrega teria sido também para a mesma ex-companheira de Chapolin, que havia recebido o valor na Catedral meses antes.
“Depois dessa apuração de extorsão do jogo do bicho, subsidiamos o Gabinete de Inteligência de Porto Alegre, abrimos mão da análise local para eles, que tinham uma investigação mais macro sobre a facção Os Manos no Estado todo”, salientou o delegado regional.
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Um santa-cruzense de 42 anos está entre os denunciados pelo MP como sendo atuante nos jogos de azar e do bicho, e no aporte financeiro ao negócio da facção. “Homem de confiança de Antônio Marco”, afirma um trecho da denúncia.
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