Os clientes da loja de Lucilda e Zeno Zuge, no Centro de Cerro Branco, sabiam que seriam recebidos com alegria. Cóbi, um pastor alemão criado pelo casal desde os dois meses, estava sempre por ali. Desde o início da manhã, auxiliava nas tarefas, como alimentar as galinhas, buscar a vassoura para varrer o estabelecimento ou pegar o jornal. Nesta semana, no entanto, a história do cão acabou de uma forma trágica. Quando viu o comerciante na mira de um revólver, ele saltou sobre o assaltante e foi alvejado na cabeça. O ladrão fugiu sem levar nada.
Lucilda estava atrás do balcão, na tarde de terça-feira, enquanto o marido lia o jornal sentado próximo da porta. O último cliente tinha saído há pouco, quando uma motocicleta estacionou na frente do comércio. Com a arma na mão e sem tirar o capacete, o criminoso invadiu o local e apontou a arma para a cabeça de Zeno. “É um assalto, passa o dinheiro pra cá”, gritou. Deitado quieto, no canto da loja, como sempre ficava, Cóbi se levantou e correu na direção do ladrão. “Ele nunca tinha feito nada a ninguém de avançar, querer morder. Mas foi o instinto de defender o dono. Quando esse assaltante mirou o revólver no meu esposo, ele correu e saltou pra pegar o homem”.
O criminoso virou a arma na direção de Cóbi e atirou. Alvejado na cabeça, o cão tombou morto. O ladrão ainda caminhou na direção de Lucilda e tentou abrir a gaveta. “Dá o dinheiro, dá o dinheiro”. Enquanto ele se debruçava no balcão, para puxar a gaveta, Zeno conseguiu fugir para os fundos do comércio. “Ele olhou e viu que o meu esposo não estava mais ali. Talvez tenha imaginado que ele foi pegar a arma. Aí saiu correndo e foi embora”. O corpo de Cóbi ficou estendido no meio da loja. “Foi uma perda muito grande. Ele perdeu a vida para salvar o dono”.
Publicidade
Dócil e companheiro
Quando fala do pastor alemão, Lucilda titubeia para se referir a ele no passado. “Ele é, era, muito, muito especial. Ele sabia muita coisa. Nos ajudava inclusive. Ficava sempre por aqui na loja. Ele era dócil, dócil. A clientela chegava e brincava com ele. Os vizinhos tinham amizade com ele. Ele era, ele fazia festa, pulava nas pessoas, brincava com as crianças”. Em 21 de janeiro, Cóbi completou 1 ano e dois meses. Há um ano, que ele vivia na casa dos Zuge.
Desde pequeno, o casal notou que o cão era muito esperto. Por isso, passaram a ensinar a ele tarefas diárias. “Ele fazia muitas atividades que não dá pra imaginar. Todo dia pela manhã, depois que ele ia tratar as galinhas, ele vinha, levava a vassoura quando eu acabava de varrer, dava mais umas voltas e quando vinha motoqueiro com o jornal, ele corria, pegava o jornal na porta e levava pra mim onde eu estava”, conta.
Publicidade
Pela manhã, o cão fazia festa quando a dona abria a porta da garagem. “Ele dormia ali ou na cozinha. Eu abria a porta e ele fazia festa. Pulava, pulava, pra nós ir tratar as galinhas. Eu dava uma porção de comida pra ele levar na boca. Eu mandava ele ir no armazém aqui perto e ele trazia as sacolas. Eu tava ensinando ele isso ainda. Ele estava começando a carregar até salame. Ele carregava e não comia na viagem”, lembra a comerciante.
Cóbi só saía para a rua à noite, quando caminhava pela cidade junto com o casal. “Quando a gente dizia “agora vamos passear”, ele ia. E nós caminhávamos com ele toda a noite. Nós fazíamos isso com todo carinho porque ele era especial. Ele era assim tu dizia uma coisa pra ele “faz isso”, ele tentava fazer. Se tu dizia “não faz”, ele não fazia. Era assim nosso bicho, que se foi. Bem novinho”. Após a perda, o casal agora quer encontrar outro filhote de pastor alemão, para dar o mesmo carinho que dedicaram a Cóbi.
Publicidade
This website uses cookies.