Quarenta nomes do Vale do Rio Pardo aparecem em uma lista tornada pública nessa sexta-feira, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), de candidatos às eleições municipais deste ano que receberam o auxílio emergencial de R$ 600,00 pago pelo governo federal em razão da pandemia. A relação inclui quatro postulantes a vereador de Santa Cruz do Sul.
Todos os políticos citados pelo TCU declararam à Justiça Eleitoral patrimônio superior a R$ 300 mil. Para o órgão, essas situações indicam “potenciais integrantes do rol de inclusões indevidas do benefício, uma vez que os indícios apontam renda incompatível com as regras do programa”. O próprio tribunal, entretanto, alertou que não há confirmação de irregularidade, pois pode haver situações de erro de preenchimento pelo candidato e de fraudes estruturadas com dados de terceiros.
A Gazeta do Sul consultou os dados da Justiça Eleitoral e as informações de beneficiários do auxílio emergencial. Os concorrentes à Câmara de Santa Cruz que constam na lista do TCU têm patrimônios de entre R$ 355 mil e R$ 521 mil, distribuídos em veículos, imóveis e participação em empresas. Consultados, três confirmaram ter recebido o benefício federal, enquanto outro reconheceu ter feito o cadastro no programa, mas disse que não chegou a sacar o valor. Um deles afirmou que os dados referentes ao seu patrimônio foram preenchidos incorretamente.
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Os requisitos para acessar o dinheiro incluem não receber pensão, aposentadoria ou seguro-desemprego e possuir renda familiar total de até três salários mínimos (veja abaixo). Desde que o programa foi lançado, centenas de denúncias de irregularidades vêm sendo investigadas.
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Os candidatos em Santa Cruz
Professor Jamal (PSDB)
Patrimônio declarado: R$ 400 mil, incluindo um terreno em Santa Cruz e um em Candelária.
A situação: consta na lista de beneficiários do auxílio emergencial nos meses de julho e agosto (R$ 1,2 mil no total).
O que diz: Alegou ser sócio minoritário de uma escola de cursos a distância e disse que o cadastro no programa foi feito no início da pandemia, devido ao receio em relação à situação. Entretanto, como o cenário logo se estabilizou, garante que não chegou a sacar os valores. “Foi um susto no começo, mas depois tudo se acertou. Não peguei e não quero esse dinheiro. Até tentei ir à Caixa para devolver, mas não consegui.” Jamal também disse que um patrimônio elevado não indica necessariamente uma boa condição financeira. “Ter R$ 100,00 pode valer mais do que ter um terreno de R$ 100 mil”, afirmou.
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Duda Frantz (PDT)
Patrimônio declarado: R$ 521 mil, incluindo três veículos, uma oficina mecânica e uma casa.
A situação: consta na lista de beneficiários do auxílio emergencial nos meses de junho e agosto (R$ 1,2 mil no total).
O que diz: Alegou que trabalha com pintura automotiva e pediu o auxílio por necessidade, porque estava com a renda comprometida em função da pandemia e acredita que atende aos critérios do programa. “Senão, não teria sido aprovado”, argumentou. Acrescentou que já não possui todo o patrimônio declarado à Justiça Eleitoral porque está em processo de separação.
Aldeni Juca (PDT)
Patrimônio declarado: R$ 415 mil, incluindo um caminhão, uma empresa e contrato de compra e venda de uma casa no Bom Jesus.
A situação: consta na lista de beneficiários do auxílio emergencial nos meses de junho e julho (R$ 1,2 mil no total).
O que diz: Alega que o valor de patrimônio que consta no sistema da Justiça Eleitoral está incorreto. “Se eu tivesse tudo isso, não tinha com o que me preocupar”, alegou. Segundo ele, os dados foram entregues por pessoas ligadas ao partido. Disse ainda que trabalha com transporte e solicitou o auxílio por necessidade, já que estava sem poder trabalhar por causa da pandemia.
Ricardo Severo (PTB)
Patrimônio declarado: R$ 355 mil, incluindo três veículos, dois imóveis e cabeças de gado.
A situação: consta na lista de beneficiários do auxílio emergencial de abril a julho (R$ 2,4 mil no total).
O que diz: Pecuarista, disse que solicitou o auxílio porque ele e a companheira estavam desempregados e com muitas despesas em função de um filho pequeno. Afirmou ainda que atende aos critérios do programa. “Se eu não precisasse mesmo, não teria pego. Não mudou minha vida, mas ajudou. Não peguei para jogar fora”, argumentou.
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Beneficiário tem bens de R$ 4 milhões
Ao todo, 35 candidatos a vereador da região aparecem na lista do TCU, que pode ser consultada no site do órgão (tcu.gov.br). Também foram citados dois candidatos a prefeito e três postulantes a vice-prefeito. Os casos que mais chamam a atenção são o de um candidato a vereador de Barros Cassal que tem patrimônio declarado de R$ 4,6 milhões e o de um candidato a vereador em General Câmara que declarou possuir R$ 1,3 milhão em bens.
OS CASOS NA REGIÃO
Por cargo
Vereador – 35
Vice-prefeito – 3
Prefeito – 2
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Por município
Santa Cruz do Sul – 4
Passo do Sobrado – 4
Venâncio Aires – 4
Gramado Xavier – 3
Herveiras – 3
Rio Pardo – 3
Candelária – 2
Vera Cruz – 2
Barros Cassal – 2
Encruzilhada do Sul – 2
General Câmara – 2
Salto do Jacuí – 2
Mato Leitão – 2
Sinimbu – 1
Vale do Sol – 1
Vale Verde – 1
Ibarama – 1
Lagoa Bonita do Sul – 1
Fonte: TCU
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