O cenário de um dos fatos de maior repercussão do noticiário policial dos últimos anos, no Vale do Rio Pardo, já tem data, horário e local para ser reproduzido. Na próxima sexta-feira, às 14h30, ocorrerá a reconstituição do chamado Caso Kolbe, como ficou conhecido um episódio ocorrido na noite de 14 de novembro de 2019, quando o frentista Carlos José Kolbe, de 27 anos, foi morto por um tiro disparado por um policial militar.
O brigadiano havia sido chamado para intervir em uma suposta perturbação de sossego na Rua José Bonifácio, no centro de Candelária, nas proximidades de um posto de combustíveis. Conforme informações da Brigada Militar (BM) repassadas um dia após a ocorrência, quando a guarnição chegou ao local, Carlos estaria urinando em via pública. Houve então uma abordagem e revista no homem, que teria reagido e agredido um dos policiais com um soco no nariz.
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Foi necessária a intervenção do outro PM, que entrou em luta corporal com o frentista. Carlos teria tentado sacar a arma de um deles e acabou sendo atingido por um disparo na altura do abdômen. Na investigação do caso, que demorou seis meses para ser concluída, foram ouvidas 13 testemunhas, além de analisadas as perícias técnicas na pistola utilizada pelo policial e o exame médico legal.
Em dois inquéritos que correram em paralelo, finalizados em 24 de junho de 2020, a Polícia Civil e a Brigada Militar concluíram que o PM agiu em legítima defesa, após uma reação agressiva do jovem, abordado por ato obsceno. “Esse foi meu entendimento”, disse o delegado Paulo César Schirrmann na época. O então comandante do Comando Regional de Polícia Ostentiva do Vale do Rio Pardo, coronel Valmir José dos Reis, seguiu a mesma linha de Schirrmann. “Ele [o policial que atirou] estava no exercício regular de direito e agiu em legítima defesa”, disse Reis na oportunidade.
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Embora o caso tenha sido concluído pelas forças de segurança, a família do frentista nunca se conformou com o resultado dos inquéritos. Em uma entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, veiculada no dia 10 de julho de 2020, o pai de Carlos, José Gilmar, e a mãe, Evani, apresentaram uma nova evidência, que até então não tinha chegado ao conhecimento das autoridades policiais: o estojo da bala da pistola ponto 40 que atingiu a vítima.
Foi a partir da prova, apresentada na reportagem da Gazeta, que o promotor Martin Albino Jora encaminhou, em 31 de julho de 2020, um pedido de reconstituição da ocorrência que foi acatado pelo Poder Judiciário. Além da perícia na nova evidência, outros fatores, como depoimentos desconexos juntados ao inquérito, foram determinantes para a reabertura do caso.
Segundo a delegada Alessandra Xavier de Siqueira, se chover, uma nova data deve ser reagendada para a reconstituição. Contudo, o que mais a preocupa é que intervenções externas de familiares e amigos de Kolbe possam atrapalhar os trabalhos dos peritos no local, fazendo com que as ações sejam canceladas já com os agentes na cidade. “Tenho receio pela movimentação no dia, com possíveis tumultos e manifestações que vão atrapalhar. Os profissionais podem até cancelar essa perícia, que já tem quase dois anos de espera. Então a gente pede a compreensão da população, para conseguirmos realizar esse trabalho de forma concreta e entregar a melhor reprodução possível”, finalizou Alessandra.
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José Kolbe, o pai do jovem falecido em novembro de 2019, conversou com a Gazeta do Sul e relatou a ansiedade pela reconstituição das cenas. “Que seja feita a justiça. Eu ainda acredito na Justiça brasileira. Quero que os verdadeiros culpados pela morte do meu filho sejam punidos. Tem muita coisa a esclarecer sobre aquela noite”, disse o pai.
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Na época do fato, após o pedido de novas diligências do Poder Judiciário, o delegado responsável pela Delegacia de Polícia (DP) de Candelária, Paulo César Schirrmann, encaminhou solicitação da reconstituição ao Instituto-Geral de Perícias (IGP). Agora, quase dois anos depois, caberá à delegada Alessandra Xavier de Siqueira comandar a diligência da próxima sexta-feira. À Gazeta, ela revelou que o Posto de Criminalística do IGP de Santa Maria será o responsável pelo trabalhos.
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Uma operação será realizada na área central do município, com o objetivo de evitar quaisquer interferências no trabalho dos peritos. “Vamos interditar algumas ruas de uma quadra, para não ter tumulto, pois sabemos que a área onde ocorrerá a reconstituição é movimentada”, disse ela. Segundo Alessandra, um policial civil se passará por Carlos José Kolbe na reprodução das cenas do caso. Já outras pessoas envolvidas no episódio, que estiveram presentes naquela noite, vão participar como personagens da reprodução. “Intimamos todo mundo para comparecer, inclusive o policial que deu o tiro.” Conforme Alessandra, os peritos do IGP vão simular a ocorrência a partir dos relatos das testemunhas ouvidas no inquérito da Polícia Civil. “Será uma reprodução de acordo com o que tem nos autos, pela visão das pessoas que presenciaram o fato. Como são várias versões, pode ser preciso repetir a mesma cena várias vezes, de acordo com a ótica de cada um”, complementou a delegada Alessandra.
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