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Câncer de próstata: precisamos te dar esse toque

Antônio Soares, 63, Lucival Kopp, 71, e Egídio Fetter, 78, compartilham duas vivências: já receberam o diagnóstico de câncer de próstata e hoje enxergam a prevenção como prioridade. Entre exames, cirurgia e sessões de radioterapia, entenderam que não são vítimas e ressignificam a doença. Na última terça-feira à tarde, os três se encontraram em uma tarde de brisa boa na Gruta. Apesar de desconhecidos, conectaram-se em uma sentada de conversa. Por lá, permitiram-se compartilhar experiências e angústias. Deixaram que as lágrimas corressem e mantiveram a confiança sobre o mais importante aprendizado: sempre é tempo de recomeçar. 

O mais falante, seu Soares, tem na ponta da língua: a vida pode e deve ser mais leve. Mas só chegou nesse estágio depois de encarar o “choque” do diagnóstico. “Eu sentia muita tontura e dor ao urinar. Fui procurar ajuda no posto de saúde e logo depois fiz o exame do toque. De imediato, perceberam que tinha uma coisa errada.” À época, o susto fez com que Soares deixasse de ser mais “turrão” e se aproximasse da esposa. “Ela me cuidou dia e noite. Deixava de comer e dormir para ficar do meu lado. Hoje, sim, entendo o que é amor e valorizo quem eu tenho ao meu lado”, disse com os olhos em lágrimas.

Após ser submetido a um procedimento cirúrgico, Soares hoje segue cumprindo o tratamento à risca via medicação oral. “Antes eu só ficava em casa nos fins de semana e não saía. Agora virei passeadeiro. Quero aprender, ver e abraçar mais.” Não é à toa que frequentar a Associação de Apoio aos Necessitados (Aapecan) virou quase uma espécie de obrigação para o santa-cruzense. E o convívio permitiu que ele se reinventasse. “Faço até teatro, você acredita?”

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FIQUE DE OLHO

O Brasil deve ter 61 milhões de casos de câncer de próstata este ano, diz o Inca. Descoberta precocemente, a doença tem 90% de chances de cura

Ao lembrar dos últimos meses, seu Egídio Fetter se emocionou diversas vezes. Isso porque antes de receber o diagnóstico de câncer de próstata, o aposentado teve um tumor no intestino delgado. “Lembro que sentia uma dor horrível na barriga. Fui para o hospital e não tive outra escolha a não ser fazer a operação de urgência. Quando acordei e senti que estava vivo, chorei de alegria.” 

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Meses depois, enquanto conciliava o tratamento, mais um susto: outro tumor, desta vez na próstata. “Sigo na radioterapia, mas não deixo de fazer o que gosto.” Acompanhado da esposa com quem é casado há 59 anos, dona Noêmia, seu Fetter não abre mão da hidroginástica. “É tão bom entrar na água e relaxar. Entro um e saio outro. Melhor ainda que posso contar com a companhia da minha companheira de sempre.” 

Só quem espera pela notícia de exames entende a proporção da angústia. E, nos últimos dias, a rotina de seu Fetter se resumiu em aguardar. Nessa sexta ele descobriu que deverá seguir com o tratamento por, pelo menos, mais três meses. Mas ninguém tira dele a confiança. Ainda mais agora que passará a compartilhar suas dores, angústias e pequenas vitórias do dia a dia junto aos grupos de apoio da Aapecan.

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Seu Lucival Kopp aprendeu a cuidar do seu tempo

Lucival Kopp descobriu o câncer após os médicos perceberem alterações no exame PSA. “Na época, em 2006, a doença não era tão conhecida e tudo era tabu. Não tinha muitas pessoas para me aconselhar.” Kopp foi o primeiro paciente a realizar a cirurgia de retirada de próstata no Centro de Oncologia Integrado do Hospital Ana Nery (COI) e agradece ter descoberto a doença em fase inicial. “Fazia meu check-up certinho uma vez por ano e, graças a Deus, descobri a tempo.” Feliz, o vera-cruzense concluiu o tratamento com sucesso e nem remédio toma mais. 

Os cuidados, porém, viraram rotina. Ele caminha todos os dias pela manhã, toma muita água, vai regularmente ao médico e ainda conta com uma motivação extra. Apegado à filha mais nova, Rafaela, 15 anos, só quer saber de passar seus dias acompanhando o crescimento da jovem. “Uma das cenas mais marcantes foi quando, após a cirurgia, levaram ela para me ver no quarto. Ela tinha 4 aninhos e me ajudou muito na recuperação.” Seu Kopp ainda descobriu outros talentos. Vendeu o pequeno mercadinho que cuidava à época e hoje é ele quem cozinha, cuida da casa e espera seus dois amores – filha e esposa Márcia – chegarem para o almoço. É que depois de quase tê-lo perdido, o aposentado trata de cuidar bem do seu tempo.

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PSA e exame do toque são complementares

Hoje o câncer de próstata pode ser detectado por meio do exame PSA, que avalia a quantidade da proteína produzida pela próstata,  ou pelo exame do toque. O urologista Eduardo Gröhs explica que ambos os procedimentos devem ser realizados, pois são exames complementares que auxiliam no diagnóstico. Apesar do tabu com relação ao exame do toque, ele afirma que o cenário, mesmo a passos lentos, está mais positivo. “Antes eram as próprias mulheres que ligavam. Hoje a iniciativa também parte do homem.”

Apesar dos avanços, cultura machista ainda atrapalha

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A psicóloga especialista em psico-oncologia, Larissa Dutra Azambuja Magalhães, afirma que, na maioria das vezes, os homens buscam apoio psicológico por incentivo da equipe médica ou de familiares. Dificilmente a procura ocorre de forma espontânea. “Muitos ainda chegam aqui com o discurso de que não precisam disso.” Esse comportamento, avalia, se dá pelo fato de o homem estar imbuído de uma masculinidade acentuada. Larissa observa que, mesmo com mudanças expressivas, a sociedade ainda está marcada pela cultura machista, cercada pelo estereótipo de que o homem, provedor da família, não precisa se cuidar. 

“Estudos mostram que o homem vive sete anos a menos que a mulher. Por quê? Porque, além de naturalmente receber mais estímulo ao cigarro e à bebida, ainda existe essa fantasia de que não precisa ir ao médico.” Na visão da psicóloga, é preciso mudar a cultura por meio da transformação de valores. A médio e longo prazo, esse processo já pode começar nas bases. “Se o filho ver o pai indo no médico desde cedo, ele entenderá que se cuidar também é ‘coisa de homem’”, observa.

Apoio psicológico: um acolhimento sem cobranças

Conforme Larissa Magalhães, que também atua no Instituto de Oncologia Saint Gallen, quanto mais precoce for a busca por auxílio psicológico, mais fortalecido estará o paciente para enfrentar o tratamento. “Trata-se de uma prática em que ele é acolhido sem preconceito, cobrança ou julgamentos sobre seus hábitos. Não é momento de culpar ou responsabilizar. É hora de escutar.” As sessões são fundamentais para que a pessoa entenda de que forma pode recorrer a sua rede de apoio (família, amigos).

A resiliência – sair mais fortalecido do processo – também é trabalhada ao longo das sessões. “É uma pausa para olhar para a vida, se reconhecer como sujeito e compreender que das crises nós saímos mais fortes.” Ao longo das abordagens, a terapia busca mostrar que neste novo mundo que se abre, a mudança não é só de hábitos, mas de pensamento. “Tiramos os pacientes do lugar de vítimas e trabalhamos para que eles deem outro significado à doença.”

Hoje, de acordo com a psicóloga, que trabalha com um grupo de estagiárias no Centro de Oncologia Integrado (COI) do Hospital Ana Nery, a instituição oferece atendimento multidisciplinar aos usuários do SUS. “Assim que o paciente dá início ao tratamento, ele tem acesso a um grupo formado por assistente social, nutricionista, psicóloga e enfermeira. Nenhum profissional trabalha de forma isolada.” No Ana Nery, o apoio psicológico também é disponibilizado aos familiares e pacientes ainda no processo de investigação da doença. Tudo pelo SUS.

Disfunção pode ser resolvida facilmente, diz especialista

Conforme Gröhs, um dos maiores medos que os homens apresentam na hora de buscar os exames está relacionado ao que vem depois. “É comum os pacientes chegarem aqui e questionarem sobre uma possível impotência sexual ou incontinência urinária.” 

Após passar por cirurgia ou sessões de radioterapia, o paciente tem risco global de ter entre 5% e 10% de chance de ter incontinência e 30% e 40% de disfunção. Para a impotência são oferecidas diversas formas de tratamento, como medicação, prótese e injeção. “É uma complicação fácil de ser resolvida”, salienta o especialista.

VALE LEMBRAR
O início da prevenção começa na unidade de saúde mais próxima da sua residência. Entre em contato e manifeste o interesse em fazer os exames preventivos. O médico vai encaminhar, junto à Central de Regulação, o agendamento de uma consulta com urologista.

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