Uma das grandes damas da literatura contemporânea de expressão mundial completa 80 anos nesta segunda-feira, 18. A canadense Margaret Atwood, natural de Ottawa, a capital, situada na província de Ontário, próximo à divisa com os Estados Unidos, chega a suas oito décadas de vida com muita vitalidade, uma inabalável criatividade, e celebrada em escala global.
Lembrada de forma recorrente para o Nobel de Literatura, teve em alguns de seus romances, marcados por um enredo distópico, um chamariz contemporâneo para os leitores. O conto da aia, originalmente de 1985, tem sido mencionado e relançado por conta da sociedade de viés totalitário fundamentalista que apresenta. Ou seja, mais de três décadas passadas de seu lançamento, mostra-se atualíssimo e, na linha de Orwell ou de Huxley, evidencia o olhar visionário e intuitivo da autora.
Agora, os 80 anos de Margaret são enfatizados com o lançamento de uma continuação daquela história: Os testamentos chegou às livrarias brasileiras sob o selo da Rocco, que edita toda a sua obra no País. E Atwood merece ser lida não apenas pelo enredo desafiador em si. Sua escrita é elegante, de uma fluidez desconcertante. Sua produção transita por todos os gêneros (da poesia ao romance, dos contos ao infantil, da não-ficção ao ensaio, com quase 50 títulos), e, não raro, os mistura, numa originalidade de estilo.
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Na ficção propriamente dita, envereda pela científica e pelo resgate histórico e, como tal, sua obra permite a alusão a temas fortemente atuais: os desmandos do poder, as injustiças sociais, a desigualdade, a necessidade de mais espaço para as mulheres em sociedade. Seus livros, isolados ou em conjunto, obtiveram inúmeras premiações, entre eles o Man Booker Prize de 2000 por O assassino cego, no Brasil traduzido por Lea Viveiros de Castro para a Rocco.
Em poesia, seu mais recente livro nesse gênero, A porta, de 2007, também mereceu edição no Brasil, e nele novamente explora, em forma de versos, os disparates e a insensatez que, de certa forma, marcam os caminhos da sociedade contemporânea, desencaminhando, assim, os indivíduos, fragilizados e isolados.
Mas Os testamentos anuncia-se mesmo como best-seller desse final de ano e, certamente, da virada de ano no mundo todo. Não há dúvida de que, a exemplo de O conto da aia, o novo romance será amplamente premiado, e talvez a alce em definitivo ao panteão do Nobel, como já poderia ter ocorrido. Em O conto da aia, um regime teocrático comanda a república fictícia de Gilead, o que motivou associações diretas com as formas de poder conservador em vários países no mundo contemporâneo – sem esquecer das alusões e das vendas que se multiplicaram em relação ao estilo Donald Trump de gerir os Estados Unidos.
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Agora, em Os testamentos, três mulheres estão no centro da trama, em uma Gilead ainda comandada com mãos de ferro. Ou seja, eis que agora o poder feminino parece entrar em cena e ditar os rumos futuros da civilização de Gilead. E, como ocorre no plano da ficção, será que Atwood vislumbra alguma coisa do gênero também no mundo real? É ler para ver.
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