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Câmara Cascudo, um dos maiores intelectuais do Brasil

Um dos mais prolíficos, irrequietos, curiosos e perspicazes historiadores e pesquisadores brasileiros do século 20, o potiguar Luís da Câmara Cascudo convida a leitura e releitura constante de sua obra. Ainda que nascido no extremo oposto do território brasileiro em relação ao Rio Grande do Sul, sempre manifestou profundo interesse e afeto pelas tradições e pela história dos gaúchos.

Talvez até pela identificação entre os dois povos, coirmãos: os potiguares, situados no limite norte do mapa, no Rio Grande do Norte, e os gaúchos, no extremo sul. Nascido em Natal, em 30 de dezembro de 1898, na reta final do século 19, faleceu na mesma cidade em 30 de julho de 1986, aos 87 anos. Deixou uma vasta produção, que supera a cem livros, e muitas memórias espalhadas por sua casa, no Centro Histórico da capital; pelo museu dedicado a sua vida, e por diferentes ambientes.


Câmara Cascudo foi antes de tudo um viajante. Formado em Direito, desde cedo revelou seu gosto pela antropologia, pela história e pelo jornalismo. Passo a passo, foi estendendo seu olhar e interesse para as mais variadas áreas das tradições, dos costumes e do folclore, primeiro diretamente dos portugueses, que colonizaram o Nordeste, depois pelo povo nordestino do sertão, com suas lutas e suas peculiaridades, até abarcar, gradativamente, todo o território nacional.

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Ao menos um dos trabalhos de Câmara Cascudo é definitivo para inserir seu nome na história do País, e a exigir a leitura constante: é o algo épico História da alimentação no Brasil, com suas quase mil páginas, que contemplam praticamente tudo o que alguém possa querer assimilar sobre tradições culinárias, receitas, ingredientes, preparações. Traz as contribuições de todas as etnias e culturas que ajudaram a construir o Brasil, sem deixar de contemplar, com muita ênfase, as tribos indígenas, os negros africanos, os árabes e as demais etnias europeias e asiáticas.


Câmara Cascudo constitui o personagem das artes e da intelectualidade mais aclamado e mais festejado pelos cidadãos do Rio Grande do Norte. E com toda a razão. Ele era simplesmente um dos maiores interlocutores de especialistas e estudiosos do Brasil e do mundo. Sua casa, na hoje devidamente nomeada Avenida Câmara Cascudo, na Cidade Alta, na capital, era ponto de passagem e de peregrinação de artistas, personalidades e políticos, que tinham o maior interesse em “colar” sua imagem à do grande professor.

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Na casa, atualmente, sua neta Daliana zela pela memória do avô. Ali, segue intacto o ambiente no qual produziu sua obra: sua máquina de escrever, a escrivaninha, seus objetos de uso diário, os cômodos nos quais descansava e seguia sua rotina, na companhia da esposa, dona Dhália Freire. Com ela teve dois filhos, Fernando Luís e Anna Maria. É Daliana quem afirma que Câmara Cascudo tinha enorme apreço pelo Rio Grande do Sul, e se correspondia com intelectuais gaúchos, a exemplo do santa-mariense Moysés Vellinho (1902-1980).


Hoje, para quem visita Natal, a casa de Câmara Cascudo e também o Museu dedicado a sua vida, mantido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), inaugurado em 1960 e situado na Avenida Hermes da Fonseca, no Tirol, área histórica de Natal, são pontos de visitação indispensáveis. Lá, pode-se conhecer e compreender o pensamento e a escrita de um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos. Depois, mergulhar na obra dele é apenas extensão natural do respeito e da admiração que se estabelecem.

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