Nosso interior é muito bonito e precisa ser mais conhecido, com viés turístico. E precisa haver quem invista e empreenda nisso, para atrair visitantes. Já vemos algumas iniciativas nos distritos santa-cruzenses de Rio Pardinho e Boa Vista, e agora também na minha terra natal, Monte Alverne, mais especificamente na Linha Brasil (2,5 quilômetros após a vila). Ali já é bem visitado o empreendimento da família Siebeneichler (Márcia, Laura e Cristiane, filhas de Ruben e Erica), o chamado “Aromas do Monte”, com plantações e belas paisagens de lavanda, da qual fabricam também óleos essenciais e outros produtos, além de mostrarem cascata próxima à casa e um ambiente caseiro acolhedor, ao lado de um café colonial bem típico e original (e, claro, muito gostoso).
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Já o visitei em roteiro de caminhada rural, a filha grávida tirou belas fotos no local e agora, no sábado de 29 de novembro, fui convidado a participar de um novo e interessante projeto que as empreendedoras estão iniciando: “Café com histórias”. Elas próprias incentivam a lembrança de histórias, a partir de objetos antigos que guardam; um parente colecionador e restaurador de peças do passado (Audimar Ludwig, de Venâncio Aires) trouxe parte de sua coleção, e, particularmente, falei de histórias da colônia alemã, contadas em meus livros, que mais chamam atenção do público leitor e, em especial, dos estudantes e novos leitores.
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Esteve em visita ao local, nesse dia, um grupo da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (Oase), da Comunidade Bom Pastor, de Santa Cruz do Sul, tendo à frente Marlice Panke, que gostaram e interagiram muito com tudo que se mostrou e comentou. Ludwig, que é natural de Linha Isabel, em Venâncio Aires, filho de comerciantes, apresentou objetos mais antigos que a localidade de 150 anos, como uma lanterna americana e uma panela de ferro alemã, além de outros itens preciosos, como livro em miniatura de 1878, com rezas e canções, trazido pelos imigrantes alemães da região. Não faltaram calçados típicos antigos (“Holzschlape” e “Letterschlape” – tamanco e chinelo de couro) e até uma urna de madeira usada nos primeiros tempos para escolha de membros das sociedades (com bolas brancas – aprovação, e pretas – negação).
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As proprietárias do recanto exibiram algumas peças do baú de antiguidades, como as relacionadas a cavalos, muito presentes no passado colonial, como “Mähnenschneider” (aparador de crinas) e “Steigbügel” (estribo), sobre os quais muitos lembraram histórias, em especial de meninos que, desde crianças (ainda precisando de ajuda para subir nos animais), já iam aos moinhos coloniais levar o milho para transformar em farinha usada para fazer o pão de cada dia. Também foram destacadas as máquinas de costura (“Nächmaschinen”), e sua presença fundamental nas casas para preparar e consertar as poucas roupas do dia a dia das colônias, assim que a própria dona de casa Erica foi exímia costureira, inclusive de peças artesanais ainda hoje feitas e oferecidas aos visitantes.
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Além disso, entre outros produtos, não dá para esquecer a chamada “Spritzbier” (uma refrescante bebida gaseificada, ou refrigerante caseiro/natural à base de limão, abacaxi e gengibre, ali fabricado). A tudo isso aliei histórias de vida emocionantes (como “Vozes do silêncio”, “Ela e o azul do céu”), pitorescas (tais quais “Pela cegonha e ou pela parteira”, “O visitante insaciável”) e dramáticas (a exemplo de “Quando era proibido falar a própria língua”), presentes em Carl & Ciss e Peter & Lis, que também tiveram boa repercussão no grupo. Afinal, cada localidade e cada pessoa têm histórias para contar, por livros ou nas simples rodas de conversa. E quando são contadas junto a um apetitoso café (colonial), como vivenciamos nesse belo projeto de turismo rural, fica ainda melhor.
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