Um dos pilares da 22ª Expoagro, encerrada na sexta-feira, 22, foi o foco em inovação e tecnologia. Quem circulou pelo parque em qualquer um dos dias não demorou a perceber as inúmeras novidades em maquinário, implementos, ferramentas, cultivares agrícolas, alimentos e outros produtos que auxiliam os produtores na rotina do campo. Além dos estandes, a programação do evento contou com diversos painéis, palestras, fóruns e seminários onde o tema foi discutido e as criações, demonstradas.
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Sem dúvida, uma das novidades que mais atraíram a atenção do público foram os drones agrícolas. Cada vez maiores e mais tecnológicos, eles se destacam pelo tamanho e também pelo ruído que emitem durante o voo. Além de despertar interesse nos agricultores devido ao rendimento e eficiência na aplicação de fertilizantes e defensivos agrícolas, também provocam curiosidade em pessoas que enxergam na operação e manutenção desses equipamentos uma grande oportunidade profissional.
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Quando ouve a palavra drone, você ainda pensa em um aparelho pequeno e compacto que voa com agilidade e serve para fazer fotografias e vídeos aéreos? Essa compreensão não está incorreta, mas pode e deve ser muito mais ampla. Durante a Expoagro, algumas empresas apresentaram drones agrícolas com capacidade de carga superior a 40 quilos e autonomia de voo de mais de dez minutos. O tempo pode parecer curto, mas em condições climáticas e terrenos ideais, podem pulverizar até três hectares, superando em muito a média dos meios convencionais.
Conforme o expositor Márcio Busanello, os compradores são os produtores rurais que buscam por soluções tecnológicas e também empresas especializadas na prestação de serviço para esses agricultores. Os usos são variados e vão desde o mapeamento da propriedade e o monitoramento das lavouras até a pulverização de fertilizantes e defensivos agrícolas, entre outros. “São equipamentos que têm entrado muito bem nas fazendas para substituir o pulverizador costal e complementar os autopropelidos e a aviação agrícola.”
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Toda a operação pode ser programada no aplicativo que controla o drone – faixa de aplicação, altitude do voo, tamanho das gotas e velocidade, que pode chegar a 30 quilômetros por hora. “Se você pegar uma lavoura de arroz, que é uma área aberta e plana, ele faz mais de três hectares por voo porque consegue manter a velocidade. Em dez minutos consegue aplicar todo o volume do tanque.” Se a bateria ou o produto a ser aplicado acabarem, basta retornar até a base, substituí-los e continuar a aplicação.
A mão de obra, observa Busanello, ainda é um grande gargalo para o crescimento do uso dos drones agrícolas. A dificuldade se justifica pelo alto nível de exigência. Não basta apenas saber programar e pilotar o drone, o operador precisa ter conhecimento sobre defensivos, fertilizantes, parâmetros de aplicação aérea, relevo, condições climáticas e mais. “É uma mão de obra que está sendo formada agora e há uma defasagem muito grande. Hoje existe um mercado gigante para quem está começando.”
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Busanello explica que o piloto precisa ter o Curso de Aplicador Aeroagrícola Remoto (Caar) para ser autorizado a utilizar esse tipo de drone. A partir da decolagem, o operador é responsável pelo que acontece. “Se ele aplicou, deu vento e deriva na propriedade vizinha, o piloto é coparticipante e vai responder, então ele precisa saber que determinados produtos em determinadas condições não podem ser pulverizados, não é só voar.”
O valor do Caar varia de R$ 2,5 mil a R$ 5 mil, a depender da instituição escolhida. Já os preços dos drones vão de R$ 25 mil a mais de R$ 200 mil, conforme as capacidades.
Conhecido por ser uma cultura de trabalho braçal e grande exigência física, o cultivo do tabaco está se tornando mais mecanizado. Além do uso dos tratores com arado para formar os camalhões e as transplantadeiras, cresce também o uso de máquinas autopropelidas para a colheita. A Irmãos Francisco Implementos Agrícolas foi pioneira no desenvolvimento desse tipo de maquinário no Brasil e hoje vê a procura crescer cada vez mais diante do sucesso do produto.
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Batizada de Matirde, foi desenvolvida pelo empresário Milton Oliveira Francisco. Ele conta que em 1977, quando plantava tabaco, a empresa da qual era associado forneceu máquinas importadas do Canadá para alguns fumicultores testarem. A famíla Francisco usou o equipamento por mais de 20 anos. Quando tentou adquirir um novo, percebeu que não havia nenhuma fabricante. Assim, em 2004, Milton fundou a empresa e colocou a primeira geração da Matirde no mercado.
O implemento permite que três, quatro ou até cinco pessoas colham as folhas do tabaco sentadas e protegidas do sol, sem precisar carregar o peso. “Hoje você colher tabaco no sol é muito complicado, então ela oferece benefícios para a saúde e a qualidade de vida do agricultor”, sa o vendedor Robson Tavares.
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Ele explica que o terreno não precisa ser totalmente plano para possibilitar o uso. “Onde o trator consegue passar ela também consegue, e já temos registros de lugares aonde ela foi e até o trator não conseguiu.”
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Antes de vender a máquina, Tavares orienta que os interessados se dirijam até uma propriedade onde ela já é utilizada e vejam de perto como é o funcionamento. “Nada melhor que ele ir ver com os próprios olhos o produto que pretende comprar funcionando.” A empresa também valoriza os retornos dos clientes, críticas, elogios e sugestões de melhorias. “Não parte só da gente, as pessoas também têm ideias muito boas, então é uma relação muito tranquila e nós procuramos atender todos.”
O investimento parte de R$ 140 mil e aumenta conforme o modelo escolhido. O valor pode ser financiado a partir dos diversos programas de crédito rural disponibilizados pelo governo federal e instituições financeiras. “Ela passa em qualquer banco como pulverizador motorizado agrícola”, enfatiza o empresário.
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Usuário da Matirde há três anos, o fumicultor e agroinfluenciador Giovane Weber diz que, hoje, não abre mão dela. “É uma facilidade, depois que você conhece e usa, não quer mais trabalhar sem.”
As novidades apresentadas na Expoagro não se restringem a máquinas e equipamentos eletrônicos produzidos por grandes empresas. Há espaço para inovações na área farmacêutica, como é o caso dos produtos criados pela estudante Eloise Antune Lima, de 18 anos. Moradora do município de Água Doce, na Região Oeste de Santa Catarina, ela desenvolveu uma pomada cicatrizante a partir da goiabeira-serrana, uma espécie nativa das terras altas do Sul do Brasil e presente também no Paraguai, Argentina e Uruguai.
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Aluna do Colégio Estadual Ruth Lebarbechon, Eloise fez a pesquisa sob a orientação da professora Janete Rodrigues e escolheu a espécie por estar familiarizada com as propriedades medicinais dela, apesar de não ser uma planta conhecida pela população.
“Tem um morador da nossa cidade que cultiva e vende, então decidimos visitar a propriedade dele e nos encantamos com a goiabeira-serrana.” O objetivo é criar uma alternativa mais barata que os medicamentos sintéticos para o tratamento de lesões cutâneas.
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A partir dos resultados promissores, Eloise e Janete começaram a participar de eventos científicos e tecnológicos. Um deles foi o 9o Concurso Brasileiro de Projetos Científicos e Tecnológicos (Infomatrix Brasil), realizado em Blumenau (SC), em setembro do ano passado.
A participação credenciou a estudante a integrar a Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), ocorrida em Novo Hamburgo em outubro de 2023. Com novo sucesso, ela agora participará da Regeneron International Science and Engineering Fair, em Los Angeles, nos Estados Unidos, entre os dias 11 e 17 de maio. A feira é considerada o maior evento pré-universitário de ciência e engenharia do mundo.
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Lá, o objetivo será conseguir uma bolsa de estudos ou premiação em dinheiro para continuar o desenvolvimento dos produtos. Para o futuro, ela pretende ingressar na faculdade de biomedicina e quer se especializar nessa área. “Quando comecei esse projeto no ano passado, nunca imaginei que ele poderia chegar nesse nível, imagina poder apresentar em âmbito internacional. Para mim é algo único.”
Para o coordenador pedagógico do Verde é Vida, professor José Leon Macedo Fernandes, eventos como esses possibilitam que os alunos tenham iniciação científica e conduzam seus próprios projetos. “Hoje, depois de 14 anos, nós temos alunos que passaram pelo Verde é Vida, chegaram à universidade e estão produzindo seus trabalhos de conclusão de curso com base naquele trabalho científico realizado ainda na escola.” Para ele, é apenas uma questão de provocar o jovem e despertar nele a curiosidade pela pesquisa. “Esse é o objetivo do Verde é Vida.”
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