Quando o casal Sebastião Rodrigues da Silva e Joana Batista Rodrigues, estabelecido em uma fazenda no interior de Catalão, em Goiás, deu o nome de batismo de Amado a um de seus filhos, de certo modo parece que vaticinou o destino dele. Amado Rodrigues Batista, ou Amado Batista, como passou a ser idolatrado por milhões de fãs, tornou-se um dos artistas mais populares no Brasil e um dos cantores mais bem-sucedidos da música brasileira. Não há quem, em qualquer quadrante do País, não tenha ouvido ou cantarolado uma de suas canções. Folha Seca, Seresteiro das Noites, Vem Morena, Carta Sobre a Mesa, dentre tantas outras músicas, estão literalmente na boca do fãs e integram o ranking das mais tocadas.
Em vias de completar 69 anos no dia 17 de fevereiro, esse goiano nascido em 1951 ostenta 44 anos de carreira ininterrupta. Gravou 39 discos, e, no tempo dos LPs, do vinil, posicionou-se entre os cantores brasileiros com um dos maiores desempenhos de comercialização de seu trabalho em todos os tempos. Não por acaso, vendeu mais de 36 milhões de discos, o que lhe rendeu 28 discos de ouro, 28 discos de platina e um de diamante.
Para comemorar tal trajetória, está com seu mais recente CD nas ruas, Amado Batista 44 Anos, lançado em 2019, e percorre o Brasil com agenda repleta de shows, em todos os estados. Por conta da divulgação desse novo trabalho, veio ao Rio Grande do Sul no último domingo, para atender a compromissos em Porto Alegre e na região Metropolitana. E foi na viagem de carro entre Novo Hamburgo e a capital que atendeu ao Magazine, por telefone, para uma entrevista de 20 minutos, na estreia de nova seção deste suplemento, Cantor das Multidões.
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Nada poderia combinar melhor com Amado Batista do que essa alcunha. E nada mal para uma carreira que começou até um tanto tardia em relação a outros artistas, muito dos quais sobem aos palcos ainda crianças. Na entrevista, Amado lembra que vem de origem humilde, de família de 12 irmãos. Cresceu em fazenda de Davinópolis, na época distrito de Catalão, e que desde cedo batalhou para vencer na vida. Davinópolis hoje é município emancipado, com cerca de 2,2 mil habitantes, e a cidade fica a 55 quilômetros da sede de Catalão.
O gosto por cantar, recorda, estava nele desde quando era criança. Adulto, deixou Catalão e fixou-se na capital, Goiânia, a 280 quilômetros de distância, três horas e meia de viagem. Ali, apostou em loja de discos. Instado por amigos, que sabiam de seu pendor para a música, acreditou nesse talento e em 1975 foi para o estúdio. Gravou um compacto duplo. Não chamou muita atenção, mas instigou-o a lançar, dois anos depois, aquele que pode ser considerado seu verdadeiro álbum de estreia, Canta o Amor, com 12 faixas.
A novidade estava na parceria estabelecida com um amigo, o compositor Reginaldo Sodré, 62 anos, baiano de Ubiaí. Juntos, forjaram letras como as de Meu Ex-amor e Não Quero Falar com Ela; assinam cerca de 250 das 500 músicas gravadas por Amado Batista em sua carreira de 44 anos. A boa receptividade ao segundo disco motivou o lançamento, no ano seguinte, de Sementes de Amor, no qual consta a popularíssima O Fruto do Nosso Amor (Amor Perfeito), que impulsionou a venda do álbum para mais de 1,1 milhão de cópias.
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A cada disco, novas canções impunham-se nas rádios e ficavam entre as mais pedidas, até que Seresteiro das Noites, em 1985, no período da abertura política no Brasil, batesse a casa de 1,5 milhão de discos. Era a consagração definitiva, que se traduziu em apresentações constantes em programas de TV, como os de Chacrinha, e shows lotados dentro e fora do País. Amado Batista tornava-se uma grife.
Nesse meio-tempo, foi pai quatro vezes (tem duas netas e um neto, além de mais uma neta a caminho). E viu os filhos Erich e Bruno formarem uma dupla de cantores, mais tarde desfeita. Mas então o caçula, Rick Batista, entrou em ação, e também investiu na carreira musical, iniciando trajetória que já arranca elogios do pai. Já a filha Lorena é médica-veterinária. Amado Batista acompanhou os novos tempos, mas jamais abriu mão do estilo romântico com a sua marca. Em 2014, lançou o álbum Amado Batista: O Negócio da China, apoiado na música título, composição de Fernando Mendes.
E se soube seguir cativando as sucessivas gerações ao longo de mais de quatro décadas de carreira, foi também vivendo novas fases em sua vida pessoal. Tanto que, segundo divulgado nas mídias sociais, chega aos 69 anos, na iminência de sete décadas de caminhada, em novo relacionamento amoroso, com a amazonense Layza Felizardo, de 19 anos, e muito pouco preocupado com a diferença de cinco décadas entre ambos. “Estou muito feliz!”, revela. Para seus fãs, essa sem dúvida é uma informação das mais relevantes. E que só o colocará ainda mais em alto conceito perante seu vasto público de admiradores.
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A série
Em homenagem aos que cantam e encantam no Brasil ao longo das décadas, o Magazine inicia nesta edição uma série de reportagens dedicadas a esses artistas: Cantor das Multidões. A entrevista exclusiva com o cantor Amado Batista marca essa estreia, e com regularidade mensal um novo astro, que mobiliza legiões de fãs no País, terá sua vida e sua obra apresentadas aos leitores.
Contato com o campo
Fora dos palcos, Amado Batista jamais perdeu contato com o mundo no qual nasceu e cresceu. Sempre que pode, foge da rotina dos palcos e da correria das cidades e vai para a sua fazenda de cerca de 100 hectares nas imediações de Goiânia. Ali surge a sua metade empresário rural, como produtor de leite e criador de gado de corte, este mais concentrado em outra fazenda que possui em Colniza, no Mato Grosso, próximo à divisa com o Amazonas e o Pará.
Versos que marcaram
Fui seresteiro das noites
Cantei vendo o alvorecer
Molhado com os pingos da chuva
Com flores pra lhe oferecer
(De Seresteiro das Noites)
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Vem morena vem vem amar
Este jovem que está sempre a te esperar
Vem morena é noite de luar
Só você só você quero beijar
(De Vem Morena)
No hospital
Na sala de cirurgia
Pela vidraça eu via
Você sofrendo a sorrir
E seu sorriso
Aos poucos se desfazendo
Então vi você morrendo
Sem poder me despedir
(De Amor Perfeito)
Fazia um dia bonito quando ela chegou
Trazia no rosto as marcas que o sol queimou
Disse que estava cansada sem lugar para ficar
Tive pena do seu pranto e disse pode entrar
(De Folha Seca)
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Deixe-me renascer
Viver e crescer
E morrer em paz
A nossa estrada era tão larga
Já não existe mais
(De Carta Sobre a Mesa)
ENTREVISTA
Magazine – És um dos pioneiros da música romântica, praticamente tendo inaugurado um gênero, no teu estilo. Hoje, como vês essas quatro décadas de caminhada?
Amado Batista – Nossa, como valeu a pena! Fiz tudo o que queria fazer, cheguei a números a que poucas pessoas chegaram. Tenho muito a agradecer a todas as pessoas que sempre me ajudaram, e aos fãs, que têm me dado incentivo até agora.
Buscas te aproximar de outros cantores ou gêneros?
Nunca me preocupei em me aproximar da turma de hoje. Faço meu trabalho, e tenho meu estilo. Não tenho nenhuma preocupação com isso. Me preocupo com meu público, e é para ele que gravo. Não me preocupo com os modismos que apareceram ao longo das quatro décadas. Não sou cantor de modismos, sou cantor de música boa. Por isso que estou aqui até agora.
O que te levou para a música?
Acho que as pessoas gostam de música independentemente de classe social, origem, essas coisas. Música é sentimento. Todos têm sentimentos, independentemente de ter faculdade ou não, e a música está em mim desde criança. Mas cantar, cantar mesmo, ter essa perspectiva de uma carreira, isso começou quando botei loja de discos em Goiânia. Passei a viver da música. E amigos meus me estimularam a apostar em cantar. Tive a oportunidade de gravar um disco, que até não fez sucesso, mas então gravei um segundo, e daí em diante a carreira deslanchou.
Consegues lembrar, do início da carreira, de algum momento que acabou sendo muito especial?
No primeiro disco não aconteceu nada. Mas foi no segundo que fiz parceria com um amigo meu, o Reginaldo Sodré. Começamos a compor juntos, e a parceria foi dando certo. As músicas foram dando certo, e a parceria emplacou. Foi uma sequência de 500 músicas que gravei até agora. Dessas, 250 são nossas, que compomos juntos.
E que renderam, por exemplo, um disco de diamante…
Na verdade não existia essa qualificação de ouro e diamante. O Chacrinha que criou isso para os que tinham vendido um milhão de discos. Quatro discos de platina significam mais de um milhão de discos. Eu vendi mais de um milhão de discos. Não tinha ninguém que fazia isso. Aí chego eu, vários discos de platina, mais de 1 milhão de discos vendidos, ele ficou louco, e então criou essa nova modalidade, diamante.
No especial de 44 anos também apostas nas parcerias?
Isso. Com o Jorge, de Jorge & Mateus, em Meu Ex-amor; com Simone & Simaria, em Folha Seca; com Kell Smith, em Separação; e com o Moacyr Franco, em Madrugada na Cidade. Eles não participam em show; exclusivamente no disco e no DVD.
Como é a tua rotina? Onde gostas de ficar quando não estás em turnê ou viajando?
Resido em Goiânia, e minha rotina é música. Quando não estou fazendo show, estou fazendo a divulgação do disco. Agora mesmo estou envolvido nisso. Na vida pessoal, quando tenho tempo, fico com meus filhos, amigos. Sou caseiro. Sigo tendo contato com o meio rural. Tenho fazenda nas imediações de Goiânia e sou produtor. Gosto muito de fazenda, adoro a natureza. Tenho criação de gado de leite, tiro 300 mil litros de leite por mês, 10 mil litros por dia, e ainda uma fazenda de gado no Mato Grosso. E tenho uma rádio, a Amor FM, em Anápolis, que pega num raio de 200 quilômetros em volta, pega o Estado inteiro.
Que papel a música cumpre para uma sociedade? A música traduz as ansiedades do povo?
Acho que a música não tem obrigação nenhuma com política, por exemplo. A gente ouve música independente de política. Tem de gostar dela por sentimento. Agora, o cidadão sim, este tem de se manifestar, dizer aquilo de que gosta, em prol de nosso país.
Tua música é a um tempo urbana e rural, de raiz, de interior. Sempre procuraste dosar isso?
Sim, da música romântica todas as pessoas gostam, independentemente de condição social. O amor está em todas as pessoas. Ainda bem que é assim, né?
A poucos dias de completares 69 aos, a proximidade com os 70 te faz refletir de maneira diferente sobre a vida?
Tenho consciência de que estamos num paredão. Cada vez que avança a idade, vai-se chegando mais perto da morte, infelizmente. Mas a cada dia que passa se aprende mais coisas, se está um pouco mais maduro.
Estás num momento feliz?
Sim, estou muito feliz! Com minha carreira, com minha vida, com meu filho, o Rick Batista, que começou a carreira muito bem. E isso me deixa muito contente.
Uma mensagem para 2020? Boas perspectivas?
Só tenho a dizer a todas as pessoas que curtem o meu trabalho, e às que não curtem também: espero que todos tenham um ano novo maravilhoso, de saúde, felicidade, que possam progredir cada vez mais em busca daquilo que cada um almeja.
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