Mudar o mundo pode parecer uma tarefa utópica, mas quando atitudes simples conseguem alterar a realidade de bairros e cidades, essa missão começa a se concretizar. Em uma semana em que os termômetros marcam temperaturas negativas em Santa Cruz do Sul, o Movimento Canto Livre dá continuidade à uma ação que começou há dois meses e busca aquecer os dias de quem não tem muito para vestir.
Intitulado Cabide Livre, o projeto consiste em distribuir cabideiros em pontos estratégicos do município, sempre em espaços cobertos, para que as pessoas possam deixar agasalhos para doação. Da mesma forma, quem estiver precisando e avistar um dos cabides, pode retirar as peças para si. O psicólogo Leonardo Neves Peixoto, um dos articuladores da ação, explica que não é necessário pedir permissão ou avisar ninguém na hora de pegar um agasalho. “As pessoas nos perguntaram se não temos medo de que ‘roubem’ as roupas, mas é para roubar, é exatamente isso”, brinca.
Além de Peixoto, também integram o Canto Livre o jornalista Rodrigo Lucchese Kampf, a acadêmica de design gráfico Diana Arend, o estudante de engenharia de bioprocessos Fábio Leipelt e o de produção musical Frédéric Helfer. O primeiro local que recebeu um cabide livre, em maio, foi aIgreja Evangélica Gustavo Adolfo, localizada na Rua Coronel Oscar Jost, no Bairro Santo Inácio. Em seguida, o Palacinho, na Praça da Prefeitura, também passou a contar com uma unidade. “Na igreja deu muito certo, nós não falamos com ninguém, apenas colocamos lá e quando passávamos sempre havia roupas diferentes, sinal de que tinha uma rotatividade. Depois vimos que o pessoal da igreja trocou os grampos por pregos, provavelmente porque tinham caído, o que foi um sinal de que eles haviam abraçado a ideia”, contou Kampf.
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Na tarde de ontem, o grupo instalou mais duas unidades dos cabideiros, uma na Estação Rodoviária de Santa Cruz e outra no Hospitalzinho, no Bairro Santa Vitória. Conforme Diana, a ideia é fazer algo que impacte positivamente na sociedade. “Conversamos bastante sobre o movimento fazer a diferença, tentar dar aquele ajudinha que está ao nosso alcance. Aí em uma dessas conversas veio a questão do inverno que estava chegando, e o Leo lembrou de um projeto que fez em Porto Alegre uma vez pra que quem precisasse pudesse pegar roupas sem nenhuma burocracia”, lembra
Sobre o material utilizado na ação, Kampf explica que tudo foi feito a partir de objetos reciclados, que provavelmente iriam acabar no lixo. “Não gastamos absolutamente nada além da nossa dedicação, então é algo bem artesanal e que também tem um caráter sustentável”, frisou. Como o grupo ainda tem alguns cabideiros disponíveis, outros pontos da cidade devem receber a estrutura. Inclusive, quem tiver interesse em participar da ação, pode solicitar uma unidade pela página do grupo no Facebook ou pelo e-mail [email protected]. “Além de ajudar quem pode estar precisando de mais calorzinho no inverno é uma ideia de consumo sustentável, porque cria essa rotatividade de bens e não simplesmente adquirir coisas novas, é mais sustentável pro planeta”, comemora Diana.
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Sobre o Canto Livre
Inovação social e colaboratividade são palavras-chave no Movimento Canto Livre. Unindo as diferentes habilidades dos seus integrantes, o grupo, que foi criado no início deste ano, busca promover ações e eventos independentes que valorizem a música autoral, produções locais, sustentabilidade, colaboratividade, solidariedade, arte e cultura. Além do Cabide Livre, já foram realizados eventos musicais reunindo bandas locais e de outros municípios, com o intuito de divulgar trabalhos autorais e independentes. Para o futuro próximo, brechós, briques solidários e feiras de doação para animais estão sendo planejados. A ideia, conforme os articuladores, é unir grupos, projetos, bandas e coletivos da cidade, do estado e do país em um ambiente de troca e mútuo crescimento, buscando assim formar e fomentar uma cena colaborativa que possibilite novas oportunidades em Santa Cruz e na Região.
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