Os primeiros tiros da Revolução Romena, em 21 de dezembro de 1989, partiram da Praça Revolutiei, em Bucareste, iniciando a única derrubada violenta de um regime comunista na Europa Oriental. Sitiado com a esposa Elena no Palácio do Parlamento, o ditador Nicolae Ceausescu protagonizou uma espetacular tentativa de fuga em um helicóptero militar. Capturado no mesmo dia, o líder, que era visto por muitos como herói da nação, foi rapidamente julgado e condenado à morte. O casal Ceausescu foi celeremente executado por um pelotão de fuzilamento no dia de Natal de 1989.
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A aeronave com Nicolae e Elena em retirada foi a primeira imagem que me veio à mente enquanto caminhava ao longo da larga Avenida Unirii, no fim da qual está o imenso Palácio do Parlamento. Os cerca de 2 milhões de habitantes de Bucareste testemunharam Ceausescu em seu sonho megalomaníaco de construir a capital socialista ideal. Mais de 9 mil casas e prédios do centro histórico da cidade foram demolidos, com charmosos boulevards e ruínas otomanas substituídos por avenidas desertas e blocos de concreto. Felizmente, algumas ruas do centro histórico ainda mantêm a tradição cultural e arquitetônica que faziam de Bucareste uma das estrelas do Expresso Oriente até a primeira metade do século 20.
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Depois do Pentágono, nos Estados Unidos, o Palácio do Parlamento da Romênia é o segundo maior prédio administrativo do planeta, um colosso construído em mármore e materiais nobres a partir de 1984. O sonho neoclássico de Ceausescu, que ainda não foi concluído, impressiona com seus mais de 3 mil suntuosos aposentos. É um símbolo dos excessos de um regime autoritário, especialmente em um período em que a vasta maioria dos 20 milhões de romenos viviam em extrema dificuldade.
Emergindo de décadas de ditadura comunista e da repressão da brutal polícia secreta Securitate, a Romênia ainda vive uma transição, com parte da população buscando a ocidentalização e outra parcela satisfeita com o estilo rural e bucólico de seus antepassados. O país é rico em história e belezas naturais e tem um povo hospitaleiro que, juntamente com a vizinha Moldávia, fala o romeno, a língua românica mais próxima do latim, com suas declinações e incluindo o gênero neutro.
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Fiquei surpreso com o culto ainda presente de uma das romenas mais conhecidas, a “Pelé da ginástica” Nadia Comaneci. Nas Olimpíadas de Montreal, em 1976, a performance de Nadia nas barras paralelas, aos 14 anos de idade, deixou o mundo estupefato diante de tamanha perfeição, recebendo a inédita nota 10,0.
Visitei várias empresas no interior do país, no sul da Transilvânia, o que me colocou em contato com um ambiente eminentemente rural que parece congelado nos anos 50, tanto na aparência quanto na mentalidade, diferenciando-se do cenário mais moderno da capital. O que não muda de uma parte a outra é a paixão pela educação e pela literatura, algo típico dos países do Leste Europeu, onde livros de todos os gêneros e categorias são vendidos nas ruas e nas muitas livrarias locais. Os romenos são prova viva de conquista da democracia e de persistência popular construída com educação, cultura e espírito crítico.
Quem busca na Romênia a mágica retratada em livros e filmes do Conde Drácula não se decepcionará na Transilvânia, com belíssimos castelos góticos e cidades medievais. De certa forma, aliás, Drácula realmente existiu. Porém, ele não foi o rei da Transilvânia, mas da Valáquia, e não era conde, e sim um príncipe. O monarca, que serviu de inspiração para o livro Drácula (1897), do irlandês Bram Stoker, também não era vampiro, embora a verdade sobre Vlad Tepes (1431-1476) seja de arrepiar. A história começa com o pai, Vlad Basarab, que tinha o apelido de Dragul (dragão). Aos 10 anos, Tepes (ou Drágula, o filho do dragão) acabou prisioneiro dos otomanos por vários anos.
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Com as tropas do sultão Murad II, Vlad aprendeu aquele que seria seu método favorito de tortura e execução: a empalação. A prática cruel aprendida dos turcos acabaria sendo usada, anos depois, contra os próprios otomanos quando estes tentavam invadir o reino de Drágula. Ao chegarem na fronteira com a Valáquia, tropas de Constantinopla se depararam com uma macabra “decoração” com 20 mil de seus compatriotas empalados ao longo das estradas romenas. A terrível tática de terror funcionou por algum tempo e rendeu ao príncipe os apelidos de Vlad, o Empalador, e Vlad Drácula (o filho do demônio).
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