Até hoje, na história deste planeta, desconheço alguma mãe que não faça previsões certeiras. Elas acertam do casaco que o filho precisa colocar de manhã até as pessoas com quem devem se relacionar. Mãe é tipo bruxa (do bem). Sabe direitinho o que vai acontecer. E mesmo que o filho siga o caminho que ela advertiu não ser o mais adequado, ela o deixa. É preciso aprender para não repetir o erro. Querem alguns exemplos clássicos?
“Minha filha, não gosto que tu andes com fulaninha.”
“Ai, para de implicar, mãe. Fulaninha é superlegal.”
É claro que não demorou muito tempo para eu descobrir que fulaninha não era bem assim como eu pensava…
“Mas tu vai sair com essa saia nesse frio? Coloca uma calça ou uma meia calça mais quentinha!”
“Pô, mãe, para de implicar com o meu look. Tá na moda, ok?”
Na fila da balada, tremendo de frio, eu pensei: “Por que eu não escutei a minha mãe?”. O resultado? O que ela já havia alertado: um resfriado daqueles.
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E com os meninos no ápice da adolescência?
“Minha filha, tenta não se envolver demais com fulaninho. Sinto que ele vai te machucar.”
“Ah, mãe, o guri é tri gente fina, educado, descolado, coisa e tal. Me deixa curtir. Não vou me apegar.”
Não tardou para a dona Fátima ver a Natany chorando pela casa.
Certa vez, uma amiga me disse: “Mães têm o dom de organizar as coisas sem parecer que fazem isso”. E é a mais pura verdade. Sorrateiramente elas ajeitam a vida em família. Lá em casa, por exemplo, mesmo com as nossas pequenas desavenças (e qual relação mãe e filha não é assim?), ela conseguia me dar o suporte necessário para encarar os desafios deste mundão. Era eu começar a mirabolar um plano sem pé nem cabeça para que imediatamente me colocasse no centro. Dona Fátima nunca podou os meus sonhos, apenas mostrou que eu poderia buscá-los de outra forma.
Esses dias eu sonhei com ela. E pela primeira vez a reconheci como alguém que já havia partido. Sonhei quando as coisas lá em casa não andavam muito bem e como um sinal ela veio, me abraçou forte e ficou do meu lado conversando por um bom tempo. Não lembro o que ela disse, mas acordei com a sensação de que quando for a hora, eu vou lembrar. E sentir.
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Semana que vem, completam-se três anos que dona Fátima se foi. Desde 2014 não escuto mais seus pitacos, nem convivo com a “bruxaria” do bem da minha mãezinha. Lembro, aliás, que uma das coisas que ela mais adorava “pitaquear” era quando eu saía de casa. “Ihhh, lá vem a passeadeira. Pra onde vai hoje?”, dizia a danada. Na época, eu achava que era implicância. Hoje ressignifico e compreendo que, no fim das contas, ela só queria mais da minha companhia. É por isso que, mesmo quando você sentir que a relação com a sua mãe não é das melhores, se esforce. Mães entendem, mesmo quando parecem não entender. No fim das contas, elas só querem um pouco mais da gente.
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