Antes mesmo da cerimônia do Grammy ter início, no Madison Square Garden, em Nova York, na noite deste domingo, 28, a academia da indústria de gravação revelou parte dos seus 84 indicados, principalmente nas categorias mais específicas – de subgêneros como melhor disco de comédia, por exemplo. E, nessa celebração prévia, destacou-se o nome de Kendrick Lamar, o rapper cuja derrota há dois anos, com o álbum To Pimp a Butterfly, foi bastante questionada por parte da crítica.
O disco de 2015, considerado um fenômeno artístico e revolucionário, ao fundir a cultura hip-hop com a cultura do jazz de vanguarda da costa oeste norte-americana, ao mesmo tempo em que colocava o dedo em feridas que muitas pessoas gostariam de esquecer, levou quatro prêmios na cerimônia realizada no ano seguinte.
Venceu nas categorias de melhor performance e melhor música, com Alright; melhor performance vocal de rap por These Walls; melhor vídeo de rap por Bad Blood, gravado com Taylor Swift; e melhor disco de rap.
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Desta vez, Damn, lançado no ano passado, faturou todos os gramofones das categorias específicas. Ainda antes mesmo do início da cerimônia, Lamar havia levado três prêmios. Logo nos primeiros minutos do Grammy, foram mais dois.
Damn foi eleito o disco de rap do ano, a música Humble foi eleita a melhor canção, performance e melhor vídeo. Com Loyality, na qual Lamar divide os vocais com Rihanna, venceu como melhor performance vocal de rap. A noite sequer havia começado e, com os cinco recebidos no início da cerimônia, ele já tinha um total de 12 gramofones na carreira – e talvez seja a hora de comprar uma nova estante.
Não era , contudo, uma cerimônia só de Lamar. Pelo contrário, embora o rapper tenha se destacado nas categorias de rap, Bruno Mars e seu pop foram os protagonistas da cerimônia. Ao longo da noite, o havaiano foi enfileirando prêmios e se sagrou o grande vencedor da noite, com seis gramofones.
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Curiosamente, desde 2016 – ou seja, há três cerimônias do Grammy – Mars não perde uma disputa no Grammy. Foi indicado, levou. Desta vez, não foi diferente. Sozinho, ele levou as três principais categorias da noite: canção do ano (That’s What I Like), disco do ano (24K Magic) e melhor gravação (a faixa 24K Magic).
Mars também se destacou previamente no início da cerimônia. That’s What I Like se saiu vencedora nas categorias de melhor performance e música de R&B. A canção – executada durante a noite de cerimônia – também foi eleita a música do ano, desbancando Despacito (Luis Fonsi, Daddy Yankee e participação de Justin Bieber), 4:44 (Jay-Z), Issues (Julia Michaels), 1-800-273-8255 (Logic, com Alessia Cara & Khalid).
O havaiano foi o bicho-papão nas categorias de R&B as quais disputou. Seu disco, 24K Magic, foi eleito o melhor do gênero. Nas outras categorias, Childish Gambino garantiu o Grammy de melhor performance de R&B tradicional com a música Redbone, o carro chefe do seu novo disco. Já The Weeknd, artista pouco lembrado na cerimônia deste ano, viu o álbum Starboy ser escolhido como o melhor álbum contemporâneo.
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No universo indie, as principais vitórias ficaram com o LCD Soundystem, cujo retorno após seis anos de hiato foi celebrada com a escolha na categoria de melhor gravação dance. Já o The National, banda abocanhou o prêmio de melhor álbum alternativo, derrotando inclusive o gigante Arcade Fire, uma das poucas bandas a deixarem o underground e disputarem – e levarem – um prêmio principal do Grammy.
No rock, Leonard Cohen, morto no fim de 2016, recebeu o Grammy póstumo pelo disco You Want It Darker, como melhor performance roqueira. Run, do Foo Fighters, foi eleita a melhor música, e A Deeper Understanding, do War on Drugs, o disco do ano do gênero.
Desapontamento não foi só com Kendrick Lamar, cujo disco Damn provavelmente será lembrado nos próximos anos com mais frequência do que o álbum de Mars. Despacito, música dos porto-riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee, tocou com exaustão nas rádios do mundo, tem números impressionantes de visualizações no YouTube, quatro vitórias no Grammy Latino. No Grammy, contudo, a indicação para gravação do ano e melhor música foi o suficiente.
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Ainda assim, nada representou melhor a onda de mudanças pelas quais os Estados Unidos passam atualmente do que a apresentação da dupla no palco e a ovação do público presente no Madison Square Garden. Faltou um Grammy. Mas essa sequer foi a única injustiça da noite.