Quando colocou os patins nos pés pela primeira vez, aos 6 anos, Bruna Karnopp jamais imaginou até onde eles iriam levá-la. A patinação artística surgiu como uma brincadeira e se tornou uma paixão. Os primeiros movimentos como patinadora foram orientados pela técnica Regina Käfer, no Clube Pattins Sul, em Santa Cruz do Sul. A dupla formou parceria por muitos anos.
Apesar da pouca idade, Bruna sempre teve personalidade forte e uma determinação nata. Ela sabia o que queria e aonde gostaria de chegar. E, de fato, não eram as apresentações no esporte que lhe traziam fascínio e admiração. O desejo por competir norteou a caminhada desde o início. “Toda a adrenalina”, revela Bruna sobre o motivo que a fez seguir em busca do seu objetivo.
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Desde a infância, esse foco a conduziu para uma trajetória de êxito na patinação artística. Com apenas 8 anos, começou a participar de competições. Um ano depois, veio o primeiro campeonato brasileiro. “Depois da primeira competição, foi tudo muito rápido. Comecei a fazer cursos e me apaixonei cada vez mais pela patinação artística”, recorda. A primeira convocação para a Seleção Brasileira de Patinação Artística aconteceu aos 10 anos. Em seguida, a conquista de pertencer à classe internacional. “Subi de categoria muito rápido.”
A dedicação de Bruna se manteve como um diferencial. Para tanto, os treinos eram constantes. Em incansável busca por aprimorar o desempenho como atleta, ela teve uma experiência única. Deixou a terra natal, Santa Cruz do Sul, por um tempo, e partiu para Santos, no litoral de São Paulo. Por lá, treinou no Clube de Regatas Saldanha da Gama, referência nacional na área. “Treinava de terça a domingo. Era um treino mais puxado.”
Na bagagem como atleta estão três campeonatos mundiais. Além da determinação, ela contou com o apoio da família. A mãe, Susana, e a avó, Eni, revezavam-se para acompanhá-la pelas competições mundo afora. Ainda hoje são parceiras incondicionais. Irmã gêmea de um menino, Leonardo, foi e continua sendo incentivada pelos pais. Inclusive financeiramente, visto que o esporte exige um investimento significativo e, assim como outras modalidades, carece de incentivo no Brasil.
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Inúmeros pódios foram alcançados. Bruna coleciona 164 medalhas em nível estadual, nacional e internacional. Em 2019, ela decidiu parar de competir. No entanto, um convite em 2021 a fez ter a oportunidade de viver o momento que considera o mais marcante: a conquista da medalha de bronze no Campeonato Mundial de Patinação Artística, com a equipe do Clube de Regatas Saldanha da Gama. “É algo que todo atleta sonha”, vibra ao relembrar. Além dessa, têm um lugar especial no ranking de títulos o de campeã da Copa de Orlando e Brasileira e Sul-Americana em 2019.
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De patinadora a técnica
Apesar de ter encerrado a carreira como patinadora, Bruna não abandonou as pistas. Quando tomou a decisão de parar, a ideia era dar um tempo no esporte e viver outras experiências. Um intercâmbio estava nos planos, mas a pandemia cancelou a possibilidade de isso acontecer. Então, decidiu formar outro tipo de parceria com a então professora Regina: dessa vez, como técnica.
“Comecei a gostar e daí surgiu a ideia de criar um espaço para treinar meninas.” De atleta profissional a técnica de patinação, a paixão pelo esporte resultou na criação da BK Patinação Artística em março de 2023, uma escola especializada na área e que leva as iniciais do seu nome.
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Vivendo esse outro lado nas competições, Bruna encarou a nova fase. Embora no começo tenha considerado um tanto desafiador ser a responsável por orientar os primeiros passos de futuras atletas, os resultados logo começaram a aparecer. Hoje, entre equipe e pré-equipe são 46 alunas em busca de preparo para brilhar em competições. Ao todo, a escola tem em torno de 125 inscritas.
“Uma coisa é estar na pista e saber lidar com o meu corpo, com as minhas emoções. Outra coisa é estar ali, ao lado das competidoras, treinando-as. Numa competição, a pessoa pode estar muito bem treinada, mas pode acontecer de cair, de esquecer a coreografia.”
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As medalhas conquistadas por Bruna, que decoram uma das salas da escola, inspiram pequenas “Brunas” que almejam trilhar uma carreira na patinação artística. Embora o projeto seja recente, Bruna já acumula bons momentos. No fim do ano passado, teve a oportunidade de realizar o primeiro show com as alunas.
“Montei as coreografias, vi todas as roupas. Corri durante meio ano para o espetáculo acontecer.” Para este ano, ela prepara novo espetáculo que terá a participação de em torno de cem crianças com o tema “Anos 1980”.
Por ser reconhecida na patinação artística, outro diferencial importante da escola de Bruna é que ela consegue trazer treinadores de nível nacional e internacional para intercâmbios em Santa Cruz do Sul. Assim como ela, as atletas podem ter acesso aos melhores ensinamentos.
Desafios e projetos
Aos 23 anos, Bruna cursa Nutrição e ainda quer concluir Educação Física. Ela reconhece que, como em qualquer esporte, na patinação artística é necessário preparo físico e emocional. “Existe muita pressão.”
Bruna se manteve dedicada e entregue à carreira profissional. Entretanto, a regra de ouro foi nunca se frustrar com resultados ruins. “É uma caminhada, há muita coisa por trás de um atleta, não é somente a competição. Meu preparo incluía alongamento, acompanhamento com nutricionista e psicólogo, além de sessões de fisioterapia.” Não bastasse isso, a dedicação envolvia a busca por cursos para se aprimorar.
Bruna admite que é bem difícil chegar ao nível em que chegou. A busca pelo movimento perfeito exige várias repetições, o que é comum para todos os esportistas, independentemente da modalidade. É necessário estar muito bem preparado antes mesmo da competição. Embora a pressão exista, Bruna atribui aos pais uma boa parcela do estímulo que a transformou numa patinadora de sucesso. “Meus pais nunca me cobraram um resultado. Sempre tiveram orgulho de todos os passos que trilhei e, por isso, nunca desisti.”
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Hoje, Bruna percebe isso acontecer com as aprendizes. Ela presenciou muitas desistirem. “Às vezes, elas vão para a competição e erram tudo. É o psicológico, é muita pressão. É necessário apoio da família, tanto psicológica quanto financeiramente.”
As integrantes da equipe de competição frequentam a escola quase todos os dias. Esse é o primeiro item do sucesso. Outro ponto indispensável para quem deseja competir é ter o material adequado. “A patinação artística não é um esporte barato, em função dos materiais e viagens. Se a criança não tem o material adequado, não adianta querer competir. Ela acaba ficando para trás, é nítido, não consegue acompanhar o processo, infelizmente.”
Para além disso, Bruna cobra a mesma disciplina e empenho que a mantiveram como uma atleta bem-sucedida. Na BK Patinação Artística, algumas das patinadoras que ela treinou já se destacam. A santa-cruzense Helena Drescher Murillo segue os passos e começa a colecionar premiações. Sobre o futuro, Bruna pretende continuar o projeto da BK Patinação Artística e estimular o sonho de outras meninas que desejam seguir seus passos. E sobre o percurso até aqui, garante: “Faria tudo novamente”.