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Brasil busca a recuperação das ferrovias, diz superintendente da ANTT

Diferentemente de outros países com dimensões continentais, o Brasil, ao longo das últimas cinco décadas, foi deixando de lado a malha ferroviária em favor das rodovias. Com o passar dos anos e o crescente aumento na demanda por meios de escoar a produção do setor primário, essa decisão se mostrou errada e, atualmente, o País busca a recuperação das ferrovias. Essa missão é liderada pelo santa-cruzense Ismael Trinks, servidor público federal e atual superintendente de Transporte Ferroviário da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9, Trinks chamou a atenção para a extensão da malha ferroviária brasileira, que hoje não ultrapassa os 30 mil quilômetros. Além de curta se comparada às necessidades do Brasil, o especialista destaca a idade: a maior parte foi construída entre 1880 e 1950. “De lá para cá até tivemos alguma coisa sendo construída, mas ao mesmo tempo outros trechos foram desativados, então se manteve no mesmo patamar”, observou. Há ainda a questão do uso, que em partes é constante e em outras é variável.

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A título de comparação, a malha nos Estados Unidos chega a 293 mil quilômetros. A China aparece na segunda colocação, com 141 mil quilômetros. Logo após vem a Índia, com 108 mil quilômetros e na quarta posição a Rússia, com 86 mil quilômetros. O Brasil é somente o sétimo colocado, atrás ainda do Canadá e da Austrália. “Temos esse déficit justamente porque os governos não investiram em ferrovias de 1950 até hoje”, afirmou.

A partir de 2017, contudo, essa realidade começou a mudar com as novas legislações que permitem o investimento privado. “Como é um prazo muito curto, nós ainda não conseguimos verificar essa mudança na prática”, disse Trinks. Segundo ele, os trâmites burocráticos que envolvem projetos de engenharia, licenciamento ambiental e desapropriação dos terrenos por onde os trilhos vão passar demoram cerca de quatro anos e só depois deles é possível começar as obras. Ainda assim, já são cerca de R$ 60 bilhões em recursos privados investidos na construção de ferrovias e demais infraestruturas necessárias para a operação desse tipo de transporte.

Superintendente de Transporte Ferroviário da ANTT diz que retomada do transporte de passageiros é possibilidade em discussão | Foto: Albus Produtora

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A partir dessa mudança de pensamento por parte do governo federal, diversas concessões avançaram, como a Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia Integração Oeste-Leste, bem como o chamado investimento cruzado. “Em vez de pagar a outorga para o governo, o setor privado constrói novas ferrovias.” Nesse modelo, de acordo com Trinks, está sendo feita a Ferrovia Integração Centro-Oeste, no Mato Grosso. “Quando estiver pronta, a ideia é conceder e trocar a outorga por outra ferrovia, assim a gente vai aumentando a malha brasileira sem precisar de recurso público.”

Modal é fundamental para reduzir custos

É de conhecimento geral a dificuldade enfrentada por diversos setores da economia brasileira para escoar a produção, que é transportada em grande maioria por estradas. E muitas delas não oferecem as condições ideais. Ismael Trinks enfatizou que, atualmente, 100% do minério de ferro produzido no Brasil vai de trem até os destinos, sejam eles as siderúrgicas ou os portos para exportação. “Hoje não existe mais caminhão transportando minério no País. Imagino que em um futuro próximo nenhum porto que não tenha uma ferrovia atrelada será competitivo do ponto de vista econômico.”

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Salientou ainda que, junto da redução de custos em função da operação mais barata das ferrovias, há a consequente queda na necessidade de manutenção das rodovias e também no número de acidentes, tendo em vista um possível menor número de caminhões em deslocamento. Para alcançar esse objetivo, o governo federal, por meio da ANTT, criou as autorizações ferroviárias. Estas permitem aos investidores mostrarem interesse espontâneo em construir ferrovias, sem a necessidade de esperar uma oferta de concessão ou processo licitatório.

“Desenhamos essa lei no final de 2021 e ela começou a vigorar no início do ano passado. Tínhamos a expectativa de receber seis ou sete pedidos, e hoje já estamos com 101”, contou Trinks. Destes, 22 foram arquivados, 39 seguem em análise e 40 já tiveram os contratos assinados. Os tamanhos são diversos e vão desde linhas com mais de mil quilômetros até ramais de acesso, pátios e outras infraestruturas. “Sabemos que nem todos vão ficar de pé devido aos custos, que aumentaram muito após a pandemia, mas se a metade sobreviver já será uma revolução no setor.”

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O superintendente da ANTT informou que está prevista uma resolução para tentar reativar o transporte de passageiros, hoje quase inexistente no Brasil. A ideia, explicou Trinks, é conceder não somente as ferrovias, mas também os terrenos próximos às estações para que o concessionário tenha receitas alternativas, como a exploração de pontos comerciais e residenciais, tal qual existe nos Estados Unidos, Europa e Japão. “Se você for colocar todo o custo da operação no tíquete, ninguém vai andar de trem, porque fica o preço de usar o avião.”

Quem é Ismael Trinks

Ismael Trinks nasceu em Santa Cruz do Sul e viveu em Vera Cruz até os 17 anos | Foto: Albus Produtora

Nascido em Santa Cruz do Sul, Ismael Trinks morou em Vera Cruz até os 17 anos. Filho de um militar do Exército, a família foi transferida para Boa Vista, em Roraima, e depois para Brasília, onde reside até hoje. Lá, Ismael formou-se em Engenharia Civil na Universidade de Brasília e passou a prestar concursos públicos. Em 2008, foi aprovado para o cargo de analista de transportes no extinto Ministério do Planejamento e trabalhou nas áreas de rodovias e depois portos e hidrovias, mas não se adaptou às funções.

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Em 2010, passou a atuar no setor de ferrovias e prontamente se identificou. Assim, Trinks se especializou na área e progrediu na carreira. Em 2019, foi convidado pelo então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, para ser diretor de Transporte Ferroviário da pasta. Em 2020, foi condecorado com a Medalha Mérito Mauá, por relevantes serviços prestados ao desenvolvimento do setor de transportes. Em 2022, deixou o ministério e assumiu como superintendente de Transporte Ferroviário da Agência Nacional de Transportes Terrestres, cargo que ainda ocupa.

*Colaborou o radialista Rosemar Santos

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Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

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