A demora na entrega de moradias aos atingidos pelas enchentes desde setembro de 2023 no Vale do Taquari expõe duas mazelas crônicas que são marcas registradas do Brasil. Uma é a burocracia crônica que emperra qualquer iniciativa que exija “autenticação oficial” de alguma autoridade reconhecida. É uma praga que lota repartições de todos os níveis – municipal, estadual e federal.
Em qualquer país desenvolvido, o ato de abrir uma empresa ou de transferir um veículo são rotinas cumpridas sem intermediários, com rapidez e eficiência. Nesses lugares, tão distantes da nossa realidade, é possível cumprir todas as etapas da burocracia mediante o uso do computador ou de aplicativos de celular. Nem é preciso sair de casa ou terceirizar as tarefas legais.
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No Brasil, a figura do despachante é onipresente, resultado do festival de exigências justificadas na proliferação de fraudes de todo tipo. Dizem que esse fenômeno tem a ver com a influência lusa. Todos parecem desonestos até prova em contrário. O trabalhador não tem tempo a perder em cartório para cumprir um sem número de etapas que causa desânimo. Um carimbo seguido de rubrica resolve, mas não sem antes recolher uma taxa.
Tudo isso impacta em tempo e custo e nem sempre o demandante sai da repartição com o documento, tornando-se um escravo dos prazos. No caso das enchentes, o que principalmente o governo federal não entendeu é que vivemos, no Rio Grande do Sul, uma situação excepcional de calamidade e emergência extremas.
O fortalecimento da burocracia se alimenta de outras vertentes. Uma delas, citada usualmente, é a proliferação de vigaristas que insistem na busca do dinheiro fácil em todas as circunstâncias. Poucas horas depois do trágico acidente aéreo da última sexta-feira, familiares das 62 vítimas denunciavam tentativas de golpes usando perfis dos mortos para pedir dinheiro para deslocamentos até São Paulo, para reconhecimento dos corpos.
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Parcela significativa dos pedidos emergenciais com benefícios à população e aos microempreendedores foi fraudada, conforme a imprensa noticia todos os dias. O vício de “conseguir dinheiro fácil”, sem trabalho ou esforço, está profundamente arraigado em nossa sociedade. Parece impossível realizar uma simples rifa sem que ocorra uma falcatrua intrínseca. O resultado é uma desconfiança generalizada, inclusive junto às instituições tradicionais, que, como reza o ditado, faz com que “os bons paguem pelos bandidos”.
Em meio a essa mistura de burocracia e emprego de meios escusos/golpes, sofrem aqueles que há 11 meses padecem em abrigos ou morando de favor com familiares ou amigos. Tomara que a promessa de “uma casa para cada um de vocês”, repetida à exaustão pelo presidente da república, um dia se torne realidade.
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