Geral

Bovinocultores de férias? Casal de Venâncio Aires mostra que isso é possível

A bovinocultura de leite foi a atividade escolhida pelos agricultores Marcelo Müller e Liege Schweikart para diversificar a produção e garantir aumento de renda. A aposta dos agricultores de Linha 17 de Junho, em Venâncio Aires, deu certo e o empreendimento que começou com oito vacas – algumas alugadas de um vizinho – hoje soma 22 em lactação, com média acima de 30 litros por animal ao dia. Isso tornou a produção de leite a única fonte de renda do casal.

Marcelo e Liege não pararam por aí. A profissionalização da atividade e o gerenciamento da propriedade rural sempre estiveram no foco dos agricultores, que contam com a assistência técnica da Emater/RS-Ascar. “A assistência técnica é importante porque eles [os extensionistas] buscam o conhecimento e estudam. E isso se torna útil quando eles conseguem trazer essas oportunidades para o produtor”, ressalta Marcelo. “Esse modelo de trabalho só é possível com a assistência continuada, tanto da Emater quanto da cooperativa. O suporte técnico que nos dão com informações e tecnologias nos permite fazer com que o sistema de produção funcione”, avalia.

LEIA TAMBÉM: Cobertura vacinal contra a brucelose está baixa no Vale do Rio Pardo

Publicidade

Em 2015, a família passou a integrar o Programa de Dietas para Vacas em Lactação, desenvolvido pela Emater – vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural –, no município de Venâncio Aires. O programa consiste em organizar o manejo e a alimentação do rebanho leiteiro de forma que os animais possam expressar o máximo potencial produtivo sem descuidos com a saúde. Os produtores conseguem analisar a atividade, avaliar as necessidades e adequar os investimentos de modo a reduzir custos e aumentar a lucratividade a partir de ações como mapeamento e aptidão do solo para o cultivo de pastagens; planejamento das culturas para o fornecimento de alimento ao rebanho no ano todo, a fim de evitar os períodos de vazio forrageiro; e melhoramento genético e controle do rebanho com planilhas de cálculo de dieta ajustadas com a demanda alimentar das vacas em lactação.

Com a produção organizada, a família traçou um objetivo ousado para a bovinocultura de leite: 30 dias de férias por ano sem a preocupação com a ordenha dos animais. Para isso, desde 2018, com a assistência da Emater, a família começou a organizar o período reprodutivo do rebanho para concentrar os partos nos meses de abril, maio e junho. Dessa maneira, os animais estariam no período seco em março, permitindo a Marcelo e Liege as tão esperadas férias. “Esse momento de folga foi uma sugestão do extensionista da Emater, o Diego, que percebeu os nossos pensamentos e a nossa realidade”, lembra Marcelo.

LEIA TAMBÉM: Dia de Campo aborda o carrapato na pecuária

Publicidade

O extensionista Diego Barden dos Santos explica que as inseminações foram concentradas no inverno para que os animais parissem no mesmo período. “Com isso, a gente contribuiu com o manejo alimentar, ajudando mais na parte de inverno, quando as vacas precisariam entrar em protocolo de inseminação, com a nutrição bem balanceada.”

Período sem necessidade de ordenha possibilita a folga

Além da qualificação do manejo alimentar, o acompanhamento veterinário também foi fundamental para o casal de produtores de Venâncio Aires. “A união do trabalho de dietas feito pela Emater com a sanidade animal feita pelo veterinário, juntamente com a nutrição balanceada, nos possibilita tirar o máximo das vacas nesse período”, frisa o extensionista rural Diego Barden dos Santos. “Então, além de expressar uma excelente produção e sanidade, a gente conseguiu uma excelente reprodução dessas vacas também. Tanto que neste ano foi possível concentrar mais ainda os partos nesse período de inverno.”

LEIA TAMBÉM: Ações de vigilância garantem ao Estado um ano como zona livre de febre aftosa

Publicidade

A agricultora lembra que o trabalho constante com os animais, com duas ordenhas diárias, além dos demais manejos, torna a rotina do produtor cansativa. Por isso, o período de férias, no qual a família pode viajar com tranquilidade, torna-se ainda mais importante. “Com as vacas não tem muito intervalo durante o dia. O trabalho é diário, não tem fim de semana ou feriado. A gente vinha de outra cultura e, como somos só nós dois, ou a gente mudava o sistema e dava um jeito de aproveitar a vida, ou largava a atividade”, conta Liege. “Do jeito que era, não estava funcionando. Então decidimos adensar todos os partos. Estamos tentando há três anos e em 2022 deu bem certo, praticamente 30 dias sem ordenha. Foi maravilhoso”, comenta a agricultora.

Sem a rotina de ordenha, contratar mão de obra para cuidar dos animais enquanto a família viaja se torna mais fácil. “A vaca é muito de rotina, ela precisa que a ordenha seja feita da mesma forma todos os dias. A mudança de pessoa para fazer esse serviço nos traria dificuldades. Além disso, é difícil encontrar uma pessoa que venha ordenhar de madrugada e no final do dia. Sem essa tarefa, é mais fácil encontrar pessoas que possam fazer a alimentação das vacas e manejá-las para o campo durante esse período”, comenta Marcelo.

LEIA TAMBÉM: Dia de Campo discute inseminação artificial para bovinocultura de corte

Publicidade

Diego explica que a concentração dos períodos de parto não gera prejuízos aos produtores quando se analisa o processo de produção e fatores de mercado, como o preço pago pelo litro do leite no inverno. “Quando a gente entende que o leite é tirado no ano e não no mês, vê que não há perdas. Na verdade, há um ganho. Toda vaca tem uma curva de lactação e necessita ficar dois meses sem produzir leite. Então, quando a gente concentra esse período de reprodução no inverno, não deixamos de produzir naquele ano. A gente só deixa de produzir leite em um certo período, que é o mês anterior ao início dos partos”, explica Santos.

Mais produção de leite

A produção de leite na propriedade de Liege e Marcelo tem aumentado a cada ano e se espera que em 2022 supere 200 mil litros de leite, um recorde para a propriedade. E isso sem abrir mão das merecidas férias. “Quando a gente observou que os animais têm melhor alimentação no inverno, produzem mais leite nesse período, e a família entendeu isso, casando as duas oportunidades no processo, a gente conseguiu pensar e projetar um futuro onde a família possa ter em torno de 30 dias de férias, sem a obrigação de tirar leite das vacas”, afirma o extensionista rural Diego Barden dos Santos. “Benefícios como bem-estar animal, alimentação adequada e o preço do leite mais vantajoso, tudo isso está a favor do produtor. Então, não tem por que não concentrar partos para o período de inverno”, finaliza Santos.

LEIA TAMBÉM: Guerra na Ucrânia afeta preços de commodities agrícolas, aponta Ipea

Publicidade

Além da assistência técnica da Emater, Marcelo e Liege contam com a assessoria técnica do médico-veterinário e zootecnista Eduardo Motta Caminha. Ele explica que o planejamento foi fundamental para o casal atingir com êxito o objetivo. “Esse trabalho exigiu planejarmos tanto a reposição quanto o descarte de animais, pois nem todos se encaixavam nesse período. Então, eles se programaram com um número de animais jovens para repor o número que estava fora desse objetivo” esclarece Caminha.

O veterinário ainda ressalta que o acompanhamento e a realização das vacinas no período certo são fundamentais. “Esse trabalho não envolve somente a reprodução. Os animais precisam estar bem nutridos, principalmente no pós-parto, para que voltem a reproduzir e a ciclar o mais cedo possível. Na parte de sanidade, temos o controle das vacinas, principalmente contra as doenças reprodutivas, que são as que mais acometem o rebanho. Estando tudo certo no calendário vacinal, a parte sanitária estará correta também”, avalia Caminha.

LEIA TAMBÉM: Gado Nelore e produção de cana se destacam em fazendas de São Paulo

Para outros agricultores que também desejam tirar um período de folga, sem ordenha das vacas, Marcelo Müller recomenda o acompanhamento técnico. “Para qualquer decisão que forem tomar, primeiro busquem o máximo de informações para, no momento da decisão, saber definir o que vai ser útil para a propriedade. Esse modelo funciona bem na nossa, mas cada produtor deve fazer a sua avaliação. A realidade hoje é que eu trabalho de uma forma cansativa, mas vejo que em março do ano que vem terei meu período de folga, como todo trabalhador que tem carteira assinada. É isso que nos estimula a trabalhar e fazer funcionar esse sistema de trabalho”, salienta o produtor.

Liege Schweikart lembra que, além do planejamento do período reprodutivo dos animais, é fundamental a gestão de todas as atividades. “Tem que saber que não terá entrada de dinheiro naquele mês, mas dá para fazer. Não é fácil, mas dá para fazer”, garante.

LEIA MAIS NOTÍCIAS DA REGIÃO

Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

Share
Published by
Naiara Silveira

This website uses cookies.