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PRODUÇÃO DE LEITE

Bovinocultores de férias? Casal de Venâncio Aires mostra que isso é possível

Marcelo Müller conversa com o extensionista rural Diego Barden dos Santos: planejamendo do ciclo de reprodução das vacas permite ao agricultor e à esposa viajar em março | Foto: Carina Venzo Cavalheiro/Divulgação

A bovinocultura de leite foi a atividade escolhida pelos agricultores Marcelo Müller e Liege Schweikart para diversificar a produção e garantir aumento de renda. A aposta dos agricultores de Linha 17 de Junho, em Venâncio Aires, deu certo e o empreendimento que começou com oito vacas – algumas alugadas de um vizinho – hoje soma 22 em lactação, com média acima de 30 litros por animal ao dia. Isso tornou a produção de leite a única fonte de renda do casal.

Marcelo e Liege não pararam por aí. A profissionalização da atividade e o gerenciamento da propriedade rural sempre estiveram no foco dos agricultores, que contam com a assistência técnica da Emater/RS-Ascar. “A assistência técnica é importante porque eles [os extensionistas] buscam o conhecimento e estudam. E isso se torna útil quando eles conseguem trazer essas oportunidades para o produtor”, ressalta Marcelo. “Esse modelo de trabalho só é possível com a assistência continuada, tanto da Emater quanto da cooperativa. O suporte técnico que nos dão com informações e tecnologias nos permite fazer com que o sistema de produção funcione”, avalia.

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Em 2015, a família passou a integrar o Programa de Dietas para Vacas em Lactação, desenvolvido pela Emater – vinculada à Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural –, no município de Venâncio Aires. O programa consiste em organizar o manejo e a alimentação do rebanho leiteiro de forma que os animais possam expressar o máximo potencial produtivo sem descuidos com a saúde. Os produtores conseguem analisar a atividade, avaliar as necessidades e adequar os investimentos de modo a reduzir custos e aumentar a lucratividade a partir de ações como mapeamento e aptidão do solo para o cultivo de pastagens; planejamento das culturas para o fornecimento de alimento ao rebanho no ano todo, a fim de evitar os períodos de vazio forrageiro; e melhoramento genético e controle do rebanho com planilhas de cálculo de dieta ajustadas com a demanda alimentar das vacas em lactação.

Com a produção organizada, a família traçou um objetivo ousado para a bovinocultura de leite: 30 dias de férias por ano sem a preocupação com a ordenha dos animais. Para isso, desde 2018, com a assistência da Emater, a família começou a organizar o período reprodutivo do rebanho para concentrar os partos nos meses de abril, maio e junho. Dessa maneira, os animais estariam no período seco em março, permitindo a Marcelo e Liege as tão esperadas férias. “Esse momento de folga foi uma sugestão do extensionista da Emater, o Diego, que percebeu os nossos pensamentos e a nossa realidade”, lembra Marcelo.

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O extensionista Diego Barden dos Santos explica que as inseminações foram concentradas no inverno para que os animais parissem no mesmo período. “Com isso, a gente contribuiu com o manejo alimentar, ajudando mais na parte de inverno, quando as vacas precisariam entrar em protocolo de inseminação, com a nutrição bem balanceada.”

Período sem necessidade de ordenha possibilita a folga

Além da qualificação do manejo alimentar, o acompanhamento veterinário também foi fundamental para o casal de produtores de Venâncio Aires. “A união do trabalho de dietas feito pela Emater com a sanidade animal feita pelo veterinário, juntamente com a nutrição balanceada, nos possibilita tirar o máximo das vacas nesse período”, frisa o extensionista rural Diego Barden dos Santos. “Então, além de expressar uma excelente produção e sanidade, a gente conseguiu uma excelente reprodução dessas vacas também. Tanto que neste ano foi possível concentrar mais ainda os partos nesse período de inverno.”

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A agricultora lembra que o trabalho constante com os animais, com duas ordenhas diárias, além dos demais manejos, torna a rotina do produtor cansativa. Por isso, o período de férias, no qual a família pode viajar com tranquilidade, torna-se ainda mais importante. “Com as vacas não tem muito intervalo durante o dia. O trabalho é diário, não tem fim de semana ou feriado. A gente vinha de outra cultura e, como somos só nós dois, ou a gente mudava o sistema e dava um jeito de aproveitar a vida, ou largava a atividade”, conta Liege. “Do jeito que era, não estava funcionando. Então decidimos adensar todos os partos. Estamos tentando há três anos e em 2022 deu bem certo, praticamente 30 dias sem ordenha. Foi maravilhoso”, comenta a agricultora.

Sem a rotina de ordenha, contratar mão de obra para cuidar dos animais enquanto a família viaja se torna mais fácil. “A vaca é muito de rotina, ela precisa que a ordenha seja feita da mesma forma todos os dias. A mudança de pessoa para fazer esse serviço nos traria dificuldades. Além disso, é difícil encontrar uma pessoa que venha ordenhar de madrugada e no final do dia. Sem essa tarefa, é mais fácil encontrar pessoas que possam fazer a alimentação das vacas e manejá-las para o campo durante esse período”, comenta Marcelo.

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Diego explica que a concentração dos períodos de parto não gera prejuízos aos produtores quando se analisa o processo de produção e fatores de mercado, como o preço pago pelo litro do leite no inverno. “Quando a gente entende que o leite é tirado no ano e não no mês, vê que não há perdas. Na verdade, há um ganho. Toda vaca tem uma curva de lactação e necessita ficar dois meses sem produzir leite. Então, quando a gente concentra esse período de reprodução no inverno, não deixamos de produzir naquele ano. A gente só deixa de produzir leite em um certo período, que é o mês anterior ao início dos partos”, explica Santos.

Mais produção de leite

A produção de leite na propriedade de Liege e Marcelo tem aumentado a cada ano e se espera que em 2022 supere 200 mil litros de leite, um recorde para a propriedade. E isso sem abrir mão das merecidas férias. “Quando a gente observou que os animais têm melhor alimentação no inverno, produzem mais leite nesse período, e a família entendeu isso, casando as duas oportunidades no processo, a gente conseguiu pensar e projetar um futuro onde a família possa ter em torno de 30 dias de férias, sem a obrigação de tirar leite das vacas”, afirma o extensionista rural Diego Barden dos Santos. “Benefícios como bem-estar animal, alimentação adequada e o preço do leite mais vantajoso, tudo isso está a favor do produtor. Então, não tem por que não concentrar partos para o período de inverno”, finaliza Santos.

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Além da assistência técnica da Emater, Marcelo e Liege contam com a assessoria técnica do médico-veterinário e zootecnista Eduardo Motta Caminha. Ele explica que o planejamento foi fundamental para o casal atingir com êxito o objetivo. “Esse trabalho exigiu planejarmos tanto a reposição quanto o descarte de animais, pois nem todos se encaixavam nesse período. Então, eles se programaram com um número de animais jovens para repor o número que estava fora desse objetivo” esclarece Caminha.

O veterinário ainda ressalta que o acompanhamento e a realização das vacinas no período certo são fundamentais. “Esse trabalho não envolve somente a reprodução. Os animais precisam estar bem nutridos, principalmente no pós-parto, para que voltem a reproduzir e a ciclar o mais cedo possível. Na parte de sanidade, temos o controle das vacinas, principalmente contra as doenças reprodutivas, que são as que mais acometem o rebanho. Estando tudo certo no calendário vacinal, a parte sanitária estará correta também”, avalia Caminha.

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Para outros agricultores que também desejam tirar um período de folga, sem ordenha das vacas, Marcelo Müller recomenda o acompanhamento técnico. “Para qualquer decisão que forem tomar, primeiro busquem o máximo de informações para, no momento da decisão, saber definir o que vai ser útil para a propriedade. Esse modelo funciona bem na nossa, mas cada produtor deve fazer a sua avaliação. A realidade hoje é que eu trabalho de uma forma cansativa, mas vejo que em março do ano que vem terei meu período de folga, como todo trabalhador que tem carteira assinada. É isso que nos estimula a trabalhar e fazer funcionar esse sistema de trabalho”, salienta o produtor.

Liege Schweikart lembra que, além do planejamento do período reprodutivo dos animais, é fundamental a gestão de todas as atividades. “Tem que saber que não terá entrada de dinheiro naquele mês, mas dá para fazer. Não é fácil, mas dá para fazer”, garante.

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