Está marcado para a próxima quinta-feira, 8, o júri de um dos casos policiais mais pitorescos registrados recentemente em Santa Cruz do Sul. Um corpo de jurados formado por sete pessoas vai analisar as circunstâncias do homicídio da transexual Mélani Danielly Aguiar Maia, nome social de Carlos Daniel Aguiar Maia, de 20 anos, ocorrido em 31 de agosto de 2020.
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O caso gerou repercussão na época, pois a morte teria sido ocasionada após aplicação de silicone industrial nas nádegas e no quadril da vítima. Marcella de Sales, de 40 anos, é quem vai sentar no banco dos réus na quinta. Ela aplicou o produto no corpo de Mélani, dentro de uma residência da Rua Cachoeira, Bairro Castelo Branco. Conforme as investigações, Marcella seria uma “bombadeira” – pessoa que, clandestinamente, vende serviços de aplicação de silicone.
A sessão do júri está marcada para se iniciar às 13h15, no Fórum de Santa Cruz do Sul, e será presidida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse. O Ministério Público (MP), autor da denúncia, será representado pelo promotor Gustavo Burgos de Oliveira. A defesa de Marcella será feita pelo defensor público Arnaldo França Quaresma Júnior.
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Segundo a apuração da Polícia Civil e denúncia do MP, no dia 27 de agosto de 2020, por volta das 19h30, Marcella foi até o endereço no Bairro Castelo Branco, onde a vítima estava. Ela realizou a aplicação de silicone industrial em Mélani, de forma clandestina, em local impróprio, sem a devida formação profissional e conhecimento técnico na área de medicina. Desse modo, causou o chamado dolo eventual, ao assumir o risco de produzir a morte da transexual.
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Logo após a realização do procedimento, a vítima começou a sentir-se mal e teve de ser socorrida e encaminhada ao Hospital Santa Cruz (HSC). Mélani ficou em coma na casa de saúde, vindo a falecer no dia 31 de agosto de 2020, às 19h20.
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A causa da morte foi “síndrome séptica secundária a injeção de silicone industrial” – disfunção em múltiplos órgãos do corpo em reação ao produto, que não é destinado para tratamentos estéticos. A vítima teria pago R$ 2 mil para se submeter ao procedimento ilegal.
Produto é usado na limpeza de peças de motores
Chefe da investigação, a delegada Ana Luisa Aita Pippi deve prestar depoimento no júri. Na época, ela relatou à Gazeta que Mélani tinha vindo de Santa Maria até Santa Cruz para fazer o procedimento estético clandestino.
Conforme a Polícia Civil, por meio do telefone celular de Mélani foi possível chegar até a autora do procedimento, Marcella, que seria de Caxias do Sul e conhecida por aplicar silicone de forma clandestina em transexuais no Estado. O silicone que causou a morte de Mélani é usado na indústria mecânica, na limpeza de peças de motores, ou como vedação de pisos e azulejos.
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Ainda segundo o inquérito, logo após a aplicação do silicone industrial nas nádegas e quadril, a vítima começou a passar mal e foi abandonada agonizando por Marcella. “Na hora ela já se sentiu mal. A ‘bombadeira’ foi embora e deixou a vítima naquele estado. Ela foi socorrida pela dona da casa na qual ficava, que chamou o ambulância e os familiares, haja vista a gravidade dessa aplicação, desse silicone totalmente irregular”, afirmou a delegada Ana, na conclusão do inquérito à Gazeta.
Marcella confessou o crime após cumprimento de mandado de busca e apreensão em sua residência, em Caxias do Sul. Segundo a Polícia Civil, na oportunidade, ela já realizava esquemas do tipo há quatro anos. Na casa, os policiais encontraram produtos utilizados nos procedimentos estéticos ilegais, como seringas e material de aplicação do silicone industrial. A mulher foi indiciada por homicídio e exercício ilegal da medicina com fins lucrativos.
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Anvisa proíbe aplicação
A Polícia Civil apurou ainda relatos de outras pessoas que passaram por procedimentos com a mesma responsável por aplicar o silicone em Mélani, e que conviviam com dores pelo corpo. A acusada já teria praticado seus serviços em diferentes cidades do Rio Grande do Sul.
O emprego estético desse tipo de produto é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pois é uma substância tóxica que representa grandes riscos à saúde. Sua aplicação em humanos é tipificada na lei como crime contra a saúde pública.
Com a repercussão do caso na época, a Gazeta do Sul entrevistou o renomado cirurgião plástico santa-cruzense Oscar Sachett. Para ele, médico desde 1978 e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o uso ilegal de silicone industrial, como no caso de Mélani, é um exemplo da falta de comprometimento de pessoas que não são profissionais de saúde e não têm conhecimento do que fazem. “A grosso modo, seria como usar água do esgoto para beber”, disparou o profissional na oportunidade.
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